O Bastardo, filme belga dirigido por Mathieu Mortelmans, é um típico filme de suspense que prende o telespectador em sua proposta de narrativa desde de suas primeiras cenas. O núcleo do longa perpassa pelo trágico acidente automobilístico envolvendo os jovens Daan (Spencer Bogaert), Wes (Lukas Bulteel) e Robbie (Arne De Tremerie), que, após saírem de uma noitada regada por bebidas, perdem o controle do carro que usavam e acabam caindo em um rio. Neste fatídico acidente, Robbie acaba se afogando, perdendo sua vida, enquanto Daan (seu irmão) e Wes (seu amigo) sobrevivem ao fato.
Desta feita, sem qualquer tipo de desenvolvimento de seus personagens, a não ser a leve impressão fraternal existente entre os irmãos, o filme passa a se aproveitar de inúmeros elementos para apresentar seus intérpretes após 02 anos do ocorrido, desenvolvendo as marcas deixadas pela perda de um ente familiar e um amigo. Assim, um corte temporal é feito, e passamos a acompanhar a vida da família ainda lutada de Robbie, retratado por Nina (Tine Reymer) e Filip (Koen De Bouw), pais do falecido, como também a presumida metamorfose sofrida por Daan e Wes, que carregam o fardo de terem presenciado o fato e se sentirem, de certo modo, culpados pelo ocorrido.
Esta proposta funciona muito bem na primeira metade do filme, despertando uma curiosidade no telespectador em identificar os anseios de cada personagem em preencher a lacuna deixada pela dor da perda e culpa, introduzindo neste desígnio elementos de direção e fotografia, a exemplo da constante referência à água, usada já em sua primeira cena. Ademais, usou-se também angulações específicas, como a panorâmica, para indicar o sentimento de isolamento e confusão dos personagens. Assim, de maneira casual e despretensiosa, Nina e Daan conhecem Radja (Bjarne Devolder), morador de rua bem-afeiçoado, que é introduzido no âmago desta família como uma maneira de preencher o vazio deixado por Robbie.
Por óbvio, a falta de conhecimento da vida pregressa de Radja, somado a fragilidade dos integrantes da família lutada, resultam em uma trama intrigante que nos faz questionar a coerência na escolha de Nina – em acolher um indivíduo que nem sequer conhece – ou a reação de extrema cautela de Daan, que se mostra resistente ao ato em certos momentos por mero ciúme ou desconfiança exacerbada. Essa sutileza na sucessão e construção dos fatos, que resultam em uma sensação agradável de dúvida e desejo por mais esclarecimentos, acaba sendo minimizada na segunda metade do longa, onde os eventos já não surpreendem tanto e tendem a serem presumidos ou até questionados.
Entretanto, tal fato não retira os méritos do filme, que, para além de uma boa direção, conta com destacada atuação de seu protagonista – Spencer Bogaert. Desta forma, para os amantes de suspense e entusiastas pela interpretação dos comportamentos sociais, O Bastardo pode ser uma boa pedida.
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