Em ‘Aruanas’, o experiente ator Luiz Carlos Vasconcelos dá vida ao personagem Miguel, dono da mineradora KM. Seus interesses na região amazônica correm perigo com a investigação da ONG Aruana, que podem frustrar seus planos. Mas a ganância e a briga contra as ativistas esconde o avô querido e bondoso que Miguel é longe dos negócios: ele tem um amor incondicional pela netinha Gabi, menina com paralisia cerebral e que é capaz de derreter o coração duro do avô. Na entrevista abaixo, Luiz Carlos Vasconcelos comenta o processo de construção desse personagem humano e complexo.
No sexto episódio de ‘Aruanas’, que vai ao ar na próxima terça-feira (02), Luiza (Leandra Leal) vai ao mercado clandestino e descobre que o dono do garimpo devastado é Miguel. Verônica (Taís Araújo) busca delator e desconfia de Felipe (Gustavo Falcão).
Escrito por Estela Renner e Marcos Nisti, o thriller ambiental vai ao ar todas às terças-feiras, logo após a novela “Fina estampa”. A série – uma produção original da Globo exclusiva para o Globoplay, em coprodução com a Maria Farinha Filmes – conta com direção artística de Carlos Manga Jr, direção geral de Estela Renner, parceria técnica do Greenpeace e Pedro de Barros colabora com o roteiro.
Quem é o Miguel? Como se traduz essa complexidade do personagem?
LCV: O Miguel não é aquele vilão de uma camada só, ele tem muitas camadas. Ele é capaz de atitudes egoístas tremendas, a ponto até de matar, mas também é capaz de um amor profundo, como o amor pela netinha. De certa forma, ela é um homem incrível como batalhador capaz de construir uma trajetória profissional. Ele veio de baixo até se tornar um empresário. Mas ao mesmo tempo, na dimensão mais humana, é extremamente primitivo. Talvez por ter sofrido e vivido o que viveu, é capaz das coisas mais atrozes para conseguir o que quer. É um alienado de si mesmo. Ele é um total ignorante de si e do outro.
Como foi a preparação para o personagem?
LCV: A leitura dos episódios e as sugestões e indicações dos diretores foi muito importante. Embora eu também seja diretor, como ator sou cego, fico indefeso, eu me ponho na mão do diretor e de quem está fazendo essa preparação. E eles vinham com toques preciosos nos momentos mais difíceis. Agradeço a toda a equipe de direção por isso.
Mas o que mais me fascinou foi perceber que esse Miguel tão primitivo e alienado de si mesmo, com seus acessos de fúria e amor, estava em mim, dormia em mim em algum lugar. A diferença é que eu tenho consciência disso e consigo domar esses sentimentos, sem que esse “bicho” venha à tona. O Miguel tem o bicho dele solto, principalmente por ter um ego imenso.
Como foi contracenar com a Manuela Trigo, que dá vida à Gabi?
LCV: Pode-se talvez cometer o erro de se enxergar primeiro sua condição física, mas a Manu é antes de tudo uma atriz, com suas ideias e criatividade próprias. Isso era a coisa mais comovente e linda da relação. A gente ia para a cena, ensaiávamos e ela sabia o que tinha que dizer, mas ia além. Ela queria sugerir e a gente vibrava junto. Passava também a ser meu o prazer daquele avô em ver a netinha se comunicando. Contracenando com a Manu, como não aflorar o amor, o que há de melhor em mim?
Como Aruanas pode despertar uma consciência ambiental?
LCV: Antes de qualquer discussão sobre devastação ou garimpo, temos que defender a vida, em todas as suas possibilidades. Isso não deveria se questionar. E isso deve ser feito com dois pés fincados: um no direito humano e outro no direito da natureza. Isso ficou muito claro quando filmamos na Amazônia: um passeio em qualquer embarcação num igarapé me fazia entender e gritar isso: a luta dessas mulheres é uma defesa na base pela vida. Todo mundo deveria de alguma forma pôr os olhos em alguma área de devastação da Amazônia para não se iludir só com suas belezas tremendas.