Com texto de Luan Carvalho e direção de Stephane Sousa, espetáculo do Coletivo Pulsante flerta com Luigi Pirandello e o teatro do absurdo de Samuel Beckett, além do drama existencialista de Jean-Paul Sartre
Segredos de pessoas comuns coletados durante uma intervenção urbana são o ponto de partida para a dramaturgia de “Não Conte a Ninguém”, do Coletivo Pulsante. A peça, com direção de Stephane Sousa e texto de Luan Carvalho, estreia no dia 27 de março na SP Escola de Teatro e segue em cartaz até 27 de abril, com sessões às sextas e segundas, às 21h, e aos sábados e domingos, às 19h.
O espetáculo surgiu de um processo colaborativo, no qual os atores, provocados pela diretora, se depararam com os próprios segredos junto aos segredos de anônimos e perceberam que estes podem revelar sintomas de uma sociedade imersa num mal-estar social que parece não ter saída, mas sim presa à uma caminhada inevitável para o fim. A dramaturgia foi surgindo da intervenção já mencionada, de improvisações na sala de ensaio e de questões como: “Qual a função social desses segredos?” e “Como essas verdades escondidas podem interferir na relação do indivíduo com o mundo?”.
As verdades secretas partilhadas pelas pessoas anônimas trouxeram disparadores sobre as angústias do ser pessoal/social e fizeram com que o grupo seguisse por uma linha existencialista, dando voz aos reais anseios de uma sociedade que oprime e aliena o indivíduo. Na trama, cinco atores esperam pela chegada de uma figura primordial para o começo do espetáculo. Eles decidem, então, quebrar essa longa espera e começam a passar as cenas. “Enquanto aguardam essa figura opressora, eles passam as cenas, quebram para conversas de camarim e voltam para o ensaio. Esse jogo de on/off segue até o fim do ensaio, quando eles partem efetivamente para a estreia. É como se codificássemos que ali começa a dramaturgia”, revela a diretora Stephane Sousa.
Em um jogo em que o público não sabe direito se o que assiste é ficção ou realidade, os atores ora assumem a própria identidade, ora a de personagens construídos em uma relação dramática. E, a partir dessas quebras narrativas, questões sociais como ansiedade, moralismo, abuso de poder, dependência química, transtornos alimentares e depressão são trazidas à tona. As personagens superam os aspectos psicológicos do indivíduo, compreendendo assim, o indivíduo como sujeito social. Os segredos e questionamentos não são apenas desabafos sensacionalistas de possíveis histórias da vida real, mas sintomas de uma sociedade imersa num mal-estar social que parece não ter saída.
“Estamos nos apoiando em um processo surrealista. A dramaturgia esbarra um pouco no Teatro do Absurdo, que é uma grande influência. Passamos por Luigi Pirandello em ‘Seis Personagens à Procura de um Autor’ e pelo Samuel Beckett em ‘Esperando Godot’, além do drama existencialista ‘Entre Quatro Paredes’, de Sartre. É uma montagem de teatro contemporâneo, que flerta com o sonho e a realidade para discutir questões universais”, acrescenta a diretora.
A encenação defende a ressignificação do corpo do ator na cena, explorando sua subjetividade, usando-o ora como corpo depoimento (agente depoimental da narrativa), outrora como corpo dramático (agente construído do discurso) e ainda enquanto corpo composto (agente componente do coro). A linguagem performativa reaparece nas quebras épicas, nas coreografias e nas composições de imagem que atravessarão o espetáculo.
FICHA TÉCNICA
- Texto: Luan Carvalho
- Direção: Stephane Sousa
- Assistência de Direção: Vitor Lins
- Elenco: Carolina Romano, Herbert Brito, Jessyka Ribeiro, Natalia Correa, Tati Miiller, Victor Barros e Vitor Lins
- Trilha Sonora Original: André Lu
- Iluminação: Tati Miiller
- Concepção de Cenografia: Stephane Sousa
- Concepção de Figurino: Coletivo Pulsante
Produção: Coletivo Pulsante - Assessoria de imprensa: Agência Fática
- Mídias Sociais: Carolina Romano e Vitor Lins
- Instagram: @coletivopulsante
SINOPSE
Em um jogo no qual não se sabe ao certo o que é sonho ou realidade, ficção ou não ficção, cinco atuantes apresentam personagens criadas a partir de segredos reais. Em um ambiente desconexo, os indivíduos refletem sobre questões que os levam à incompreensão da própria existência.
SERVIÇO
NÃO CONTE A NINGUÉM, do Coletivo Pulsante
- Onde: SP Escola de Teatro – Sala Alberto Guzik – Praça Roosevelt, 210, Consolação
- Quando: Temporada de 27 de março a 27 de abrilÀs sextas e segundas, às 21h, e aos sábados e domingos, às 19h
- Quanto: Ingressos a R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada). Venda online: https://www.sympla.com.br/nao-conte-a-ninguem__814791
- Duração: 75 minutos
- Classificação: 16 anos
- Capacidade: 60 lugares