Muito se fala hoje em dia sobre representatividade feminina e o tal “Girl Power“. Em comemoração à esse 8 de Março de 2020, Dia Internacional da Mulher, o ArteCult resolveu trazer essa matéria para discutirmos um pouco mais sobre a mulher no cinema.
Você sabia que, antes e no início de Hollywood como é hoje, as mulheres dirigiam tantos filmes quanto os outros? Muitos não sabem justamente porque numa sociedade machista e patriarcal como nossa atual, as mulheres não recebem seu devido valor, por isso, muito dos seus feitos ficam para trás, como se não valessem a pena serem lembrados.
Hoje em dia, muitas vezes as mesmas se encontram distantes e esquecidas de categorias não destinadas especificamente à mulheres em grandes premiações. Em 2018, na cerimônia de entrega do Globo de Ouro, ao apresentar a categoria de melhor diretor, Natalie Portman fez questão de ressaltar a ausência de mulheres indicadas. A mesma Natalie que esse ano, com uma situação similar na falta de indicação de mulheres à melhor diretor no Oscar desse ano, Natalie bordou nas suas vestes o nome de várias mulheres que fizeram trabalhos sensacionais no ano e que poderiam estar na categoria, mas foram ignoradas.
As personagens femininas também foram por muito tempo diminuídas. Como um complemento do homem. Seja como a personagem sexy e provocadora que briga pela atenção do homem (seja como parceira ou como vilã, a chamada femme fatale) ou como a menina tímida e engraçada que desperta o interesse do protagonista.
A questão problemática é a mesma: cria-se no imaginário, tanto feminino quanto masculino um ideal de perfeição feminina inexistente. A consequência disso são homens que se acham superiores às mulheres pois as mesmas não alcançam o padrão mostrado e, o pior, mulheres que se sentem inferiores, tanto pela rejeição dos homens quanto (que muitas vezes é demonstrado como o objetivo feminino) quanto por elas mesmas não se acharem suficientes.
Alinhada ao movimento feminista, a solução começa de dentro. Mulheres se valorizando e se unindo para demonstrar para outras mulheres a força que elas têm. O passo seguinte é para mostrar ao resto do mundo.
Entretanto, na teoria as coisas parecem muito mais simples do que realmente se mostram ser na prática. Em muitas mulheres já está encrustado o papel que deveria exercer e, muitas vezes, movidas por esses ideais, acabam não exercendo a empatia e excluindo outras mulheres. Essa é uma das razões pelas quais mulheres continuam a ser reprimidas: o medo de não receberem apoio nem de quem deveriam.
Um exemplo bastante interessante é o da atual edição do Big Brother Brasil. Reality Shows são considerados o limite entre a vida e a arte, de forma que o ditado que diz que a arte imita a vida, facilmente pode ser visto como o contrário. O caso repercutiu bastante no país, e, ao que tudo indica, pelas eliminações, as mulheres puderam usar suas vozes para mostrar o caso.
Os homens da casa haviam comentado sobre a estratégia de seduzir mulheres comprometidas, para que as mesmas mostrassem um lado ruim ao público.
Duas mulheres ouviram a conversa, e por muito tempo optaram pelo silêncio, no receio de serem taxadas de mentirosas. Vendo a situação se tornar insuportável, tomaram uma atitude e se pronunciaram. A maioria das meninas prontamente se mostraram acolhedoras, e, após um questionamento aos envolvidos, a maioria dos homens já não mais está no jogo, inclusive um participante que manteve um relacionamento considerado pelo público abusivo psicologicamente com uma das mulheres, de forma a fazê-la sentir-se culpada pelo destino do brother. Houve, entretanto, uma participante que criticou toda a movimentação feminina. Ela preferiu acreditar nos meninos e não deu a devida importância para a causa das sisters. Ela foi a única mulher dentre os primeiros 6 eliminados.
O aprendizado a ser retirado de todo o caso, entretanto, é que o movimento feminista deve procurar abranger também essas mulheres, de forma a demonstrar que o acolhimento deve se iniciar com a conscientização das próprias mulheres, de que, além do princípio que fala como as mulheres podem e devem ocupar todo o tipo de espaço que quiserem, de como sua voz ainda é abafada, e como temos que dar vazão à mesma para sempre evoluirmos.
Uma situação diferente têm acontecido no caso Hollywoodiano de Amber Heard e Johnny Depp. Após denúncias de Heard de abuso, Depp foi afastado de trabalhos e perdeu oportunidades importantes em sua carreira. Recentemente, surgiram provas de que Amber também era uma companheira abusiva. Muitos utilizam esse caso para mostrar como as mulheres “podem ser mentirosas, manipuladoras para conseguirem o que querem”, mas o grande ponto a ser louvado, novamente, não é que sejam consideradas donas da razão e da verdade absoluta, mas que ao menos sejam ouvidas. É disso que se trata: dar voz a quem nunca teve. O caso ainda não teve um fim oficial.
Algumas mulheres acabam se envolvendo em relacionamentos abusivos na busca de aceitação, pois nunca foi exaltada, inclusive nos cinemas, a força que elas podem ter, os papéis diversos que elas podem exercer.
Aí se insere a questão da representatividade. O objetivo aqui é mostrar mulheres em posições de poder, em papéis principais, situações de independência, seja ela financeira, emocional… Em lugares de prestígio que, por muito tempo, só o homem ocupava. Ao mesmo tempo, é mostrar super-heroínas, como até mesmo na ficção as mulheres podem ser tão ou mais poderosas que os homens. Isso é o Girl Power, o poder feminino.
Com a questão da representatividade como uma pauta em alta, não só a feminina, mas como a de todas as minorias, muitas indústrias (inclusa a cinematográfica) se aproveitam para lucrar. São feitos filmes, músicas, peças, produtos, brinquedos… Tudo em busca da abrangência de mais mercado.
Apesar de uma jogada baixa de mercado, a representatividade não deve cessar. No caso das mulheres, ela é importante pra que cada vez mais pessoas possam ver o poder que elas têm, para que mulheres se sintam mais confortáveis e possam apoiar mais mulheres, para que mulheres fortes se tornem uma cena cada vez mais comum nos telões e no dia-a-dia, até que isso seja visto com a devida normalidade, e não como a exceção.