O Primeiro

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Traçar as primeiras linhas sempre dão uma sensação de duplo sentimento.

Primeiro, o início, o começo que se dá na escolha das palavras que vão ilustrar, o contato, o tudo aquilo que você imaginou para o seu texto. O segundo, será que escolhi as palavras certas? Será que está bonito? As pessoas vão gostar? Escrever é sempre essa margem dupla de sentimentos. No entanto, sempre esperamos que tudo seja bem recebido.

Digo isso, pois esse é o meu primeiro texto aqui para o AC.

Há algum tempo sigo suas páginas, como um leitor, um fã que busca o melhor em autores contemporâneos, leitor voraz que sou. Se há algo que amo com a internet é seu poder democrático de divulgação de trabalhos. Muitos jovens artistas primeiro apareceram aqui, em seus blogs e sites, e depois ganharam o mundo, porque montaram uma base fiel de fãs que deram a validade à sua arte, àquilo que propunham fazer. Essa democracia internética veio para ficar e me faz imaginar quantos bons autores do passado poderiam ser por nós conhecidos se essa democracia de exposição já existisse há mais tempo?

Mas esse é meu primeiro texto para o AC.

Veio de um convite de um amigo autor que faço questão de expor por onde vou: Marco Simas. Já levei sua obra pelas várias escolas em que trabalho, devido a sua qualidade, referencialidade, primordialidade e acesso. Usei um de seus livros (O Último Trem) para um trabalho piloto sobre aquisição de cultura em torno do cinema e da literatura em uma escola no Rio. Os alunos amaram, eu como professor fiquei extasiado com o resultado e Marco viu sua obra lida e estudada com afinco.

Ele surgiu com a internet. Eu também. Primeiro pelas ondas do Grupo Literário Bagatelas. Depois seguimos caminhos distintos. Eu fui para o Trema Literatura. Lá também havia vários autores. Muitos hoje com relevância no cenário nacional que se constrói.

Temos agora esse espaço, o ArteCult.

Movo-me entusiasmado. Ao mesmo tempo assustado com essa nova responsabilidade. Ela vem na expectativa que há em torno do que virá daqui para frente. Uma vez mais o duplo sentimento de que falei no início do texto me toma. Estar entre feras é sublime. É fácil ser o leitor de antes. Aquele que vez ou outra faz a crítica silenciosa quando não gosta ou que relata o que gostou abertamente. Eu sou desses. Exponho-me no feliz.

E se estou aqui escrevendo, é porque esse sentimento me toma, me move e me assalta. Sou agora um colunista neste site. Desde o fim do Trema que eu não escrevo para a internet. Aceitei resignadamente o silêncio que me veio com o ponto final. Não saí em busca de um novo lar. Não criei um novo lar. Não comunguei com amigos e autores e artistas em suas várias formas a chance de montar um site, um grupo artístico, nada. Como disse, aceitei resignadamente o silêncio.

Li os vários sites, os vários autores e artistas que há tanto por aí, válidos, justos, relevantes, torcendo silenciosamente pelo sucesso que alcançavam e estavam a alcançar. Mesmo sem um lar, eu não me sentia desabrigado.

Agora, já não posso mais dizer o mesmo. Estou aqui no AC. Torno-a o meu novo lar e minha nova fonte de preocupação. De feliz preocupação. Farei daqui um canal entre os vários artistas que por aí estão, tão abertos a se exporem, tão preocupados com a validade de suas obras. Há muita gente boa por aí.

Ao mesmo tempo, serei um cronista – haja vista eu também ser um autor – destas percepções tão à tona em nosso mundo, que requerem um canal de diálogo, de instigação. Gullar – esse que vai nos fazer tanta falta – afirmava que “A Arte Existe Porque A Vida Não Basta”. E nunca será bastante. Mesmo. Disponível ou Indisponível.

A arte é muito.

Mas nunca é demais.

Estou aqui consciente de estar entre feras e da responsabilidade. Recebam esse texto como um abraço, um aperto de mão, de alguém que quer rir junto com todos vocês.

Author

Professor e escritor. Lançou em 2013 seu primeiro romance, A Árvore que Chora Milagres, pela editora Multifoco. Participou do grupo literário Bagatelas, responsável por uma revolução na internet na primeira década do século XXI, e das oficinas literárias de Antônio Torres na UERJ, com quem aprendeu a arte de “rabiscar papel”. Criou junto com amigos da faculdade o Trema Literatura e atualmente comanda o blog Pictorescos. Tem como prática cotidiana escrever uma página e ler dez. Pai de dois filhos, convicto morador do Rio de Janeiro, do bairro de Engenho de Dentro. Um típico suburbano. Mas em seu subúrbio encontrou o Rock e o Heavy Metal. Foi primeiro do desenho e agora é das palavras, com as quais gosta de pintar histórias.