Todo santo dia se vê, por aí, alguém ou alguma instituição com a difícil missão de incentivar a leitura. Muitas e boas ideias, pequenas e grandes ações, em geral muito trabalhosas e nem sempre gratificantes. Algumas simples iniciativas solitárias, tipo, aquela da Maria Paula, de Santa Cruz, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, que criou uma biblioteca com caixotes de madeira e livros doados, ou ainda o Sarau Literário, criado pelo poeta Sergio Vaz, na periferia de São Paulo. Ou mesmo as mais embasadas como a Banca de Livros, ou o projeto de abrir biblioteca para moradores de rua.
Mas a pergunta é: Qual o papel da escola?
Como privilegiado, estudei em escolas públicas e privadas. Meus três filhos também. Falando da minha experiência pessoal e como observador atento da formação dos meus filhos, posso afirmar que a escola perdeu o bonde da educação geral e, no que nos interessa, como canal incentivador da leitura.
Existem iniciativas, um professor ou outro, uma ou outra escola que promove feiras e saraus, bate papo com autores, visitas às bienais, concursos de contos… ufa. Parece coisa pra caramba, mas é um sopro no vento.
Continuamos a ver alunos desesperados com os “clássicos” impingidos a provas e trabalhos, ou aqueles exigidos no ENEM. Infelizmente, são raros os professores que recebem incentivo, grana e orientação pra mudar o rumo, propor novas possibilidades, criar motivações que dialoguem com o dia a dia dos jovens ligados, 24 horas por dia, nas redes, em troca frenética de textos.
Textos? Sim. Nunca se escreveu ou se leu tanto, como nos últimos dez, quinze anos. E os educadores reclamam, confiscam os celulares, tiram o aluno de sala de aula, sem nunca se perguntarem sobre as oportunidades dos e nos inseparáveis aparelhos, que todos, TODOS os alunos levam em suas mãos.
O bonde passa cada vez mais rápido e não vejo, mesmo na nova geração de mestres, um direcionamento que ligue o aluno à tecnologia, à informação e a educação, na mesma “vibe”. Se não temos como acompanhar a velocidade virtual, não devemos caminhar na contramão. Perceber a necessidade, o momento do aluno, é o mínimo nessa guerra.
É bom ver os poucos bons exemplos que acontecem à revelia dos “entendidos”, como a dica da professora de Língua Portuguesa Francisca Alves, de uma escola estadual, lá no interior de Minas, que, no primeiro dia de aula, apresenta a ementa e faz a pergunta:
– Quem tem celular, whatsapp, e e-mail?
Todos levantam a mão.
– Então, tire dos bolsos e bolsas, pois vamos substituir o quadro (lousa).
E ela comenta: A sala se transforma, eles ficam surpresos e muito felizes.
Em tempo: é lei: em todas as cidades, a prefeitura é obrigada a fornecer internet, de graça, a todas as escolas.