Neste novo filme da franquia O grito, que começou com Ju-on, já considerado um clássico da nova onda do terror japonês, que depois teve a trilogia de remakes norte-americanos The Grudge (O grito), temos uma história na timeline de 2004-2005-2006, paralelamente e indo até um pouco depois dos eventos do primeiro remake norte-americano de Ju-on.
E devo dizer que essa nova instância da franquia falhou muito, especialmente não causando vontade alguma de gritar pelo terror em si, mas sim de desespero porque o filme não chegava ao fim, mesmo não sendo (na medição do tempo não psicológico) tão longo.
Antes de mergulharmos nas banheiras da insanidade, fúria e vingança de Kayako, devo dizer que um dos elementos ausentes mais frustrantes foi justamente isso – a falta do yurei/onryo em si. A falta da mitologia japonesa na trama. Embora logo no início haja a menção aos espíritos vingativos, embora se mencione o folclores japonês que cerca tanto a franquia de O grito quanto de O chamado/Ringu, pouco se fala disso, não há uma investigação ativa onscreen – a investigação era um ponto forte do primeiro filme desta outra franquia clássica do terror japonês que acabei de mencionar, Ringu – , pois parece que um detetive estava fazendo a tal da investigação, mas ele acabou indo parar em um hospício e… volta a fita.
Eu já vi esse filme antes. Essa história genérica de fantasmas vingativos. E isso não está no cerne de O grito. Que não tem nada de genérico. Que é bem específico. Sendo assim, mesmo com um final “digno” da franquia, este novo capítulo de 2020 pouco acrescenta à mitologia e ainda nos deixa com mais vontade de rever os anteriores. Não chega a ser totalmente ruim, mas este capítulo extra parece mais algumas páginas bônus de um livro que não precisava delas.
Algo técnico de que eu especificamente gostei foi a escolha da paleta de cores. Em vez de tons escuros ou lavados, desbotados, em vez daquele estilo Supernatural de filmagem [que eu amo, mesmo sendo clichê], temos tons amarelos por todo o filme, mas não aquele amarelo vibrante como em Era uma vez… em Hollywood, mas sim tons de amarelo que acabaram dando ao filme um tom de “sujo”, sabe? Como aqueles monitores nessa época, que já eram meio amarelados e ficavam ainda mais com o tempo, tornando a cor original e a cor suja quase a mesma coisa. Isso foi muito bem usado, assim como a escolha da mesma época do remake original, com aquela tecnologia “intermediária”, digamos assim, caindo como uma luva no tom da trama… Mas aí é que entra a pergunta que não quer calar: que trama?
John Cho estava ótimo na série de O exorcista, e vê-lo nesse papel genérico me deixou triste. O pai que acaba de descobrir que a mulher grávida vai ter um filho com uma doença séria e fatal que tem que passar na tal da casa para recolher umas assinaturas no dia em que descobre isso? Claro, meu filho provavelmente nem vai viver muito, mas, ei!, eu preciso parar ali para pegar umas assinaturas daquelas pessoas porque sou um bom corretor de imóveis?! Como assim?! Além do que a própria tragédia da doença fica aniquilada quando “sabemos”, logo que ele decide entrar na casa, que todos vão morrer. Não é spoiler, mas sim a constatação do óbvio. Isso sem falar dos jump scares previsíveis do início ao fim, sim, desde o início… e que não causam medo, sendo apenas cenas de um gore desprovido de sentido, apenas para dizer que o filme alcançou sua classificação mais “adulta”?
A propósito, temos um bom elenco com um roteiro fraco, em que não se aprofunda os personagens, em que não chegamos a ter empatia por nenhum deles, porque eles são tão genéricos e rasos quanto um prato branco de servir salada.
A clássica franquia terá, ainda este ano, uma adaptação pela Netflix. Esperemos que seja melhor do que essa nova instância em forma de longa que acabou sendo mais uma longa jornada atrás do que poderia ter sido, mas não foi. E lá seguirei eu em uma maratona, revendo os filmes anteriores, para aí sim mergulhar na insanidade e nos verdadeiros terrores de Sayako, porque, mesmo o menos bom dos filmes anteriores ainda não deixava, como este “capítulo”, tanto a desejar.
Nota: 1 grito de tristeza (1 de 5)
ANA DEATH DUARTE (@SINISTROS.BAGULHOS)
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