Helena Duncan é jornalista com mais de 20 anos de experiência no Brasil e no exterior.
Sócia-fundadora do Grupo H+, uma agência de comunicação com 13 anos de mercado, ela já foi apresentadora de programas culturais no canal Telecine, já foi assessora de comunicação de uma grande empresa, já foi produtora, editora e repórter da TV Globo, já participou do Festival de Cannes, vive dando palestras e participando de encontros sobre redes sociais e não para nunca, jamais, de estudar!
Entusiasta das tecnologias, Helena acredita que a comunicação digital revolucionou a comunicação offline, provocando mudanças grandes de comportamento, na forma de as pessoas se relacionarem e, principalmente, no modo como se comunicam.
Não foi à toa que ela chegou a criar um blog sobre etiqueta na Web que foi um sucesso!
Como você se tornou jornalista?
Eu me tornei jornalista porque eu era apaixonada por descobrir novidades, informar as pessoas… Eu tinha o Caco Barcelos como meu ídolo. Queria ser útil fazendo jornalismo investigativo. Era como uma utopia de ajudar a sociedade através das reportagens. Eu sempre gostei de escrever, acho que desde que aprendi a falar, minha mãe conta que eu dizia que ia ser jornalista. Sempre fui muito extrovertida, então, a comunicação estava na minha veia, aparentemente.
E por que enveredou para a comunicação corporativa?
Tive uma trajetória um pouco em jornal, mas muito em TV, e sempre adorei o ritmo. Fui produtora, repórter, editora, passei por todas as etapas. Aí, fui morar um tempo em Nova Iorque para estudar.
Morar fora me deu uma visão maior de business. Eu fazia um programa lá para o Telecine, o “Nova York em Cartaz”, e percebia o quanto era importante você se articular comercialmente, quando você saía do circuito das grandes produções. E me encantei com isso também!
Quando voltei, um ano depois, eu estava com o inglês muito afiado, e surgiu uma oportunidade de fazer um freela na TV corporativa da Embratel. E estava rolando um processo seletivo, que eu fiz meio sem querer durante um final de semana!! (risos) O diretor de comunicação de lá queria alguém fresco, sem os vícios de assessoria de imprensa. E foi riquíssimo esse momento, porque eu entrei achando que estava trabalhando com o próximo patrocinador de um programa de TV meu. Eu pensava que dali eu iria seguir fazendo reportagens de TV.
Isso foi em que ano?
Ah, lá pelo início dos anos 2000… Em 2001 ou 2002. Era um momento efervescente da comunicação, pois as telecomunicações estavam sendo desregulamentadas. Comecei a ver muita coisa de bastidor e, quando eu vi, estava negociando capa de revista e matéria no Fantástico! Percebi que isso também era jornalismo de outra maneira. Você orquestrar uma situação e aparecer na mídia como você planejou foi revelador pra mim. Era um trabalho muito dinâmico. Eu viajava muito, produzia muitos textos…
Foi nessa época que você fez a pós-graduação em marketing?
Sim. Na PUC. Para sedimentar esse universo de negócios. E foi quando percebi que não me interessava mais lidar somente com um assunto só. Eu adorei o tempo na Embratel, mas surgiu a vontade de abrir a minha agência, para poder ampliar a rede de assuntos dos quais eu poderia cuidar. Porque é muito jornalístico cuidar de vários temas ao mesmo tempo.
Você parece ter acompanhado de perto das mudanças na área da comunicação…
Quando criei minha agência, eu me senti obrigada a acompanhar muito as mudanças, as tendências. É preciso sempre se reciclar. Estou sempre fazendo cursos. Fiz um da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) em São Paulo com a Syracuse University, fui para o Festival de Cannes, que deixou de ser uma coisa publicitária e se voltou para a comunicação.
E surgem mudanças todo dia. Agora, cheguei a um ponto que eu admito que não vou mais acompanhar tudo! Não dá! São muitos gadgets de tecnologia! Mas a minha equipe acompanha! Vivemos um momento muito dinâmico, e eu acredito muito em colaboração, acho que isso tudo faz parte desse momento.
É algo tão intenso e interessante que eu cheguei até a criar um blog de comportamento, para investigar como as pessoas lidam com isso, com essa roda-viva. Essa geração – a minha! – que fica no meio do caminho, entre o digital e o analógico. É como se a gente fosse um alemão falando inglês, a gente não é nativo digital. Então, a gente sempre vai usar o digital com um “sotaquezinho”, diferente dos nativos digitais, que já nasceram com o dedinho na tela.
A gente ainda vê muita gente perdida, e isso acontece também no mundo corporativo. Porque por trás de uma marca existem pessoas. Gente batendo cabeça, sem saber direito como lidar com tantas novidades do mundo digital.
Você chegou a elaborar o blog Etiqueta na Web. Por que pensou nisso?
Exatamente por isso que eu acabei de falar. Porque eu ia pesquisar e me perguntava: o que se faz numa situação dessas?
Achava coisas muito impessoais na internet, como manuais em inglês, sem assinatura. E então, senti necessidade de criar um hub de informações sobre isso, que pesquisasse, que mostrasse a cara. E, por um tempo, foi muito bacana e fez muito sentido. Porque quando você está perdido você se pergunta: o que eu faço aqui? E as pessoas respondem: ah, é só ter bom senso. E eu te pergunto: o que é bom senso? Porque, pra mim, bom senso é uma coisa, pra você, é outra. Cada um tem a sua criação.
Eu acho que a internet tornou muito sutil o público e o privado, misturou muito. Hoje, todo mundo pode ser famoso, ter vida pública. A gente vive essa era de blogueiros e influências que são, teoricamente, pessoas comuns que, em algum momento, fizeram algo que deu notoriedade e elas ficaram famosas. Então, tinha a avó convivendo com o neto no Facebook envergonhando o neto. Você tinha funcionários que eram demitidos por má conduta…
Quando eu criei o blog, era uma época que isso estava muito caótico. E aí eu falei: quero entrevistar as pessoas, quero entender, pesquisar e criar um lugar que seja seguro e dê minha cara a tapa, me baseando em pesquisas do exterior.
E isso não era algo só do Brasil, certo? Era um fenômeno global?
Sim. Mas o Brasil sempre foi líder em redes sociais. O brasileiro sempre está na frente, e eu acho que tem muito do nosso temperamento. A gente é fofoqueiro mesmo, a gente gosta de falar e de saber do outro. (risos)
Mas, eu sempre fui ligada em saber o que se estudava sobre isso fora do Brasil, na Inglaterra, na Alemanha, nos Estados Unidos. Eu gostava de ler e adaptava para a nossa realidade.
Mas era muito difícil manter o blog e cuidar e uma agência cheia de clientes. O blog era muito dinâmico, as mudanças rolavam todos os dias.
É preciso educação e preparo para estar na internet?
Eu, Helena, jornalista, acho, sim. Mas tenho a noção, como usuária, de que existem pessoas não preparadas e que usam muito. A web é uma selva, é uma festa para a qual todo mundo foi convidado. Então, ali, tem de tudo.
O mundo ideal deveria ser assim: você se preparar para navegar e se comunicar na web. Eu acho que as pessoas têm que saber escrever para escrever, para se manifestar. Mas, na real, não é assim. O valorizado é o ineditismo, a rapidez com que a informação circula. E isso também tem sua beleza.
Você disse que o brasileiro é um dos mais assíduos nas redes sociais. E também temos a fama de sermos o povo mais zoeiro na web. Você tem essa percepção?
Eu acho que procede, sim (risos). Somos um povo muito criativo. Eu vi, no final da Rio 2016, no BuzzFeed, um post sobre as 20 coisas que só aconteceriam numa Olimpíada no Brasil. Tipo, numa competição, torceram para o juiz porque ele era brasileiro! (risos) É uma lista engraçadíssima que é o retrato do que a gente é offline também. A gente vai zoar, o povo é irreverente mesmo.
Essa evolução tecnológica também causou mudanças no comportamento das pessoas no ambiente offline?
Sim, é uma percepção minha. As pessoas todas andam olhando no celular. Muitas vezes, as famílias estão juntas, mas cada um ligado no seu aparelho. Isso é uma mudança de atitude, a gente naturaliza coisas em função do online. As TVs estão adotando linguagens de internet. Até nosso vocabulário absorveu termos típicos da internet.
Hoje, as pessoas nem telefonam mais nos aniversários. Dá o parabéns pela rede social. As pessoas usam o celular para tudo, menos para telefonar pro outro, principalmente os jovens! (risos)
Quais são os erros e excessos mais comuns que você identificou nesse trabalho?
Bom, um exemplo clássico é dar bom dia no grupo do whatzapp. São 40 pessoas: 40 “bom dia”. Não dá. Eu saio do grupo com a maior tranquilidade. Não sou obrigada, sabe? (risos) O grupo tem um propósito, profissional ou familiar. E todos que estão no grupo têm que estar de acordo com esse propósito. Existe um acordo tácito ali. Se começar a desvirtuar, a postar mensagenzinha, eu acho que você tem total direito de sair, sem mágoas.
Porque tem isso também. As pessoas ficam magoadíssimas quando alguém sai do grupo. Cria um climão! Eu não dou mais dicas sobre isso, mas posso dizer que ninguém deve se magoar porque alguém saiu do grupo.
E tem as gafes. Eu acho que a pior delas é falar de alguém do grupo no grupo! Achou que estava falando privadamente com alguém e falou no grupo. Isso acontece sempre. Por causa da velocidade, da facilidade da comunicação.
Tudo que é excessivo corre mais risco de se tornar um erro. Excesso de posts eu vou morrer achando muito chato. Mas é muito pessoal. Tem gente que acha normal fazer isso. Se você está fazendo uma viagem linda, não precisa publicar 90 fotos do mesmo lugar. Todo dia. É excessivo! Mas tem gente que naturalizou isso. É de cada um mesmo.
A internet aproximou muito mais as pessoas, e o consumidor, das empresas. Que consequências isso trouxe no relacionamento entre estas partes?
Eu acho que trouxe consequências maravilhosas. Está exigindo mais rapidez na resposta ao consumidor. Humanizou mais essa relação. Não cabe mais aquela resposta automática: “recebemos sua mensagem e estaremos entrando em contato”. A empresa tem que responder e diretamente para o consumidor pessoa física. E ele tem que ficar feliz!
Existem casos lindos, de marcas que tinham sumido com o produto, e os consumidores apaixonados exigiram a volta do produto e ele voltou! Mas por que as marcas fazem isso? Porque são pessoas por trás delas, pessoas que também precisam aprender a lidar com isso.
Eu sou uma entusiasta do mundo digital, eu acho incrível a forma como essa tecnologia transformou isso. E as empresas vão ter mais trabalho, precisam investir mais na relação com seu público.
Hoje, a publicidade sofre mais cobrança da sociedade civil organizada, que denuncia propagandas ofensivas, que objetificam o corpo da mulher, por exemplo. As empresas estão mais preocupadas com isso, com essa pressão social?
Eu acho que isso varia muito. Eu já vi muita marca tomar muita pancada por isso. As marcas são geridas por pessoas. E as pessoas podem ser preconceituosas, machistas, e nem perceberem. Depende do departamento de marketing, da agência contratada, da autonomia da marca. Eu acho que é um grande aprendizado, que passa por muitos erros. Temos visto muitos exemplos de campanhas que foram retiradas do ar por causa dessa pressão social. E dessa pressão surgem campanhas muito bacanas, como a da Dove, de usar mulheres reais, com diferentes corpos, como modelos.
Hoje, as marcas precisam tomar cuidado com isso, sim. Mas, volto a dizer, o excesso disso também acaba ficando muito chato. Mas é uma opinião pessoal. Temos de entender que estamos vivendo esse momento de ativismo. A internet ajudou os iguais a se juntarem. Para o bem e para o mal. Democratizou até mesmo a exposição do conservadorismo.
E o que vem de novo por aí?
A maior novidade na minha agência é o novo modelo de coworking. E isso não é simplesmente oferecer um espaço físico. É conceitual, é abrir as portas, é deixar o novo chegar, é ver os projetos, as startups, os coletivos, é poder contribuir, trocar, compartilhar. É, mais uma vez, se reinventar.
Porque estamos vivendo outro momento de mudança no mercado da comunicação. E é preciso dar atenção ao que está vindo de novidade. Eu quero que aqui seja um hub físico, onde faremos muitos eventos, encontros, workshops para promover essa mudança.
O nome da minha agência é H+ Conteúdo e Relações com a Mídia. E acabamos de criar um novo nicho, a H+CO – Conexões e Espaços Colaborativos. E o “CO” é compartilhamento, cooperativismo, companheirismo, coworking. Somos os primeiros a oferecer também um serviço de comunicação para esses novos parceiros.
E eu estou apostando muito nessa ideia.
Agências H+:
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