Sandford Meisner um foi dos atores e pilares do Group Theater – importante cia de teatro de Nova Iorque criada em 1931 e constituída por atores, diretores, produtores, dramaturgos, entre outros artistas, com o intuito do desenvolvimento e da prática de uma atuação “natural”. Meisner foi um dos primeiros professores do Actors Studio, fundador da The Neighborhood Playhouse e grande amigo de Lee Strasberg e Stella Adler.
No desenvolvimento de sua técnica, por exemplo, ele preferiu se pautar na imaginação como elemento base para o disparador das emoções, ao invés da memória emotiva, tal como era conhecida até aquele momento.
Todo o seu método de treinamento busca fortemente acessar os impulsos do ator, que correspondem às respostas e comportamentos de sua mais profunda verdade, única, específica e particular. Assim, a técnica se estrutura numa série de exercícios aplicados em forma gradual no sentido de despertar os impulsos e preparar o terreno para que eles surjam no ator.
Desde os mais populares exercícios de repetição simples, até os complexos exercícios com atividades e preparação emocional, o ator já experiencia a profundidade da técnica, os territórios internos a que se pretende acessar, e sempre, sempre, sempre, trabalhar JUNTO com o parceiro, A PARTIR do parceiro. Assim, o treino de uma observação apurada, da escuta e, principalmente, da conexão são essenciais e muito presentes na técnica.
Para ele, a verdadeira atuação está intimamente ligada aos instintos e não a uma racionalização ou intelectualização das circunstâncias. “Viver verdadeiramente sob circunstâncias imaginárias” é a definição de atuação para o mestre. Embora pensada inicialmente para o teatro, a técnica é hoje uma das mais importantes para trabalhos de cinema e televisão devido à sua extrema relação com a verdade, com a espontaneidade da atuação.
Eu realizei meus estudos da técnica em São Paulo, e posso dizer que a ela abriu em mim um território amplo que sei que nunca se findará. Ter estudado Meisner foi um divisor de águas no que diz respeito ao meu entendimento sobre as artes do ator. Comecei a perceber um engajamento do ator no seu trabalho que antes eu não via. Ou melhor, via, mas não vivia.
Um engajamento real, um comprometimento. Meisner me ajudou a repensar termos muito conhecidos dos atores como concentração, conexão, presença, fé cênica, disponibilidade, verdade etc. Não porque antes de aprender a técnica esses termos não fizessem parte do trabalho do ator – acredito que eles sempre estarão lá– mas creio que eu passei a vê-los com mais clareza, a entendê-los de outro jeito. Também me ensinou a observar verdadeiramente, a perceber quando algo invisível acontece e quando não acontece, a estar junto com o parceiro navegando num território misterioso e encantador que é o trabalho do ator.