Lellêzinha é jovem e engajada. Dançarina e cantora do Dream Team do Passinho, tem pouco mais de 18 anos, mas já realizou muitos sonhos. Com o grupo, que conta com Diogo Breguete, Hiltinho, Pablinho e Rafael Mike, já fez shows em Nova Iorque, no Revéillon de Copacabana e no encerramento das Paralimpíadas Rio 2016.
Orgulhosa de seus cabelos cacheados, Lellêzinha é símbolo da nova mulher negra brasileira: inteligente, consciente dos seus direitos, linda e disposta a combater preconceitos e a conquistar um lugar no mundo com seu trabalho e seu talento.
Valoriza sua origens e sonha em levar a potência da favela carioca a todos os cantos do mundo. Alguém duvida de que ela não irá conseguir?
Qual é seu nome verdadeiro? Lellêzinha é apelido? Quem deu?
Alessandra. Eu mesma escolhi Lellêzinha, na época do Orkut. Precisava de um nome diferente para divulgar meus vídeos de passinho. Um nome com destaque.
Como se envolveu com o universo da dança?
Na verdade, o espírito da dança já nasceu comigo, sabe?! Minha mãe ia a bailes pra dançar. Minha avó conta que meu pai e meus tios dançavam muito também. Tipo Michael Jackson, ela diz. Comecei a dançar com 6 anos e nunca mais parei.
Onde nasceu o passinho?
Nas favelas do Rio de Janeiro, ninguém sabe ao certo quando e onde, mas um marco no movimento foi o vídeo “Passinho Foda”, postado em 2008 pelo Beiçola e os mulekes do Jacaré. Nessa época, eu tinha 11 anos e não podia sair. O meu irmão de criação (Cristiano, Tininim) ia pro baile, aprendia e me ensinava tudo. A minha diversão era gravar vídeos e colocar no youtube. Eu era uma dançarina virtual, mas todo mundo tinha medo de duelar comigo. (risos)
Clipe Vai Dar Ruim, com direção do ator Lázaro Ramos
E como surgiu o Dream Team do Passinho?
Foi um acidente, menina! Graças a Deus! O Dream Team do Passinho surgiu quando chamaram a gente pra fazer o comercial para uma marca de refrigerantes para a internet. Em uma semana, foram um milhão de views. Isso fez com que os contratantes ligassem em busca de shows, mas a gente não era um grupo ainda. Foi nesse momento que sentamos pra decidir se iríamos querer fazer um grupo ou não. Nasceu então o Dream Team do Passinho.
Ser a única menina do grupo dá um certo status ou é um desafio?
Os dois! Ser a única mulher não é tão difícil porque eu cresci com amigos homens. Desde menina, eu vi que era preciso conquistar o respeito das pessoas, principalmente dos meninos, que nunca respeitavam ninguém. No grupo, nós somos “brodérs”. Somos iguais. A única diferença é que eu tenho TPM. (risos)
Você conheceu o sucesso muito cedo. Isso mexeu com sua cabeça? Como vem encarando a roda-viva da sua vida?
Uma loucura! Eu conheci o sucesso cedo, mas eu já era popular. De certa forma, eu já era famosa na minha comunidade. Eu já era referência para outras meninas. O passinho me tornou uma pessoa conhecida entre os jovens do movimento. Mas sucesso, sucesso mesmo, eu só conheci aos 15 anos com o Dream Team do Passinho. Foi difícil porque a gente decidiu de uma hora pra outra virar um grupo. Não tínhamos base e nem noção de nada. Então, a gente veio acompanhando o sucesso e não o sucesso acompanhando a gente.
Estamos aprendendo e amadurecendo nesse caminho. Até mesmo o nosso escritório (Toca Produções) nasceu junto com o grupo. Foi rápido, mas o nosso sucesso é singular. Estamos construindo um sucesso bem diferente: consciente da nossa cultura e da nossa responsabilidade. Queremos apenas entrar pra história. (risos)
Você consegue conciliar o lado profissional com o pessoal e familiar?
Eu não consigo, mas o meu escritório me ajuda nessa missão. É difícil, mas não pretendo parar. Faço aula de canto, inglês, ballet e tratamentos médicos… Quanto mais, melhor!
Como a sua família encara o seu trabalho?
Eles gostam, mas confesso que não entendem muito. Ficam muito orgulhosos. No fundo, pra minha família, eu ainda sou aquela menina…
Além de dançarina, você se aventurou como atriz de novelas, antes dos 18 anos. E surpreendeu. Foi difícil?
Foi muito difícil! Eu tive que aprender durante a jornada. Eu me dediquei muito quando surgiu a oportunidade porque sempre quis ser atriz. Esse ano, eu fui indicada a atriz revelação entre atrizes muitos boas. Acho que já é uma conquista pra minha geração e pra jovens negras como eu.
Você usava cabelos lisos há alguns anos. Por que assumiu os cachos? E o que eles simbolizam?
Fui levada a isso porque coloquei tanta química no meu cabelo que ele não resistiu. Então, tive que assumir meus cachos. Hoje eles simbolizam minha identidade e personalidade. Graças ao meu cabelo eu estou aqui.
Você vem assumindo, junto com o grupo, posições claras em defesa dos direitos humanos, dos direitos da mulher e dos negros. Fale mais sobre isso.
Eu acho que, quando a gente vai crescendo, vai amadurecendo e entendendo mais o que é o racismo e o preconceito. Quando você percebe que o racismo e o preconceito são culturas do Brasil, você entende a sua responsabilidade. A forma do Dream Team do Passinho falar sobre isso é através da música. Temos um disco com 12 faixas que falam, de forma leve e alegre, do cotidiano do jovem negro, da favela, do gay…
É através da dança e da música que nós falamos sobre nosso povo negro. O funk tem esse poder. É claro que nada me impede de cantar rap, forró ou rock no futuro… mas, hoje, somos funk. Temos muitas referências e inspirações nessa luta diária.
Ficamos felizes quando artistas como Lázaro Ramos, Taís Araújo e Cris Vianna, que nós admiramos, dizem que gostam do nosso trabalho e admiram a gente também. Imagina você ligar pro Lázaro pra dar parabéns pelo aniversário dele e o cara dizer que é seu fã!??! É muito gratificante!!
Ser um ícone da beleza negra ajuda a dar mais visibilidade para essa causa?
Eu acho que dá visibilidade. Mas, não sei se as pessoas entendem direito. Todo mundo diz que os meus cachos são lindos, mas poucos entendem o que isso quer dizer. Quando a Garnier fala “cachos poderosos”, ela diz que a mulher negra pode ser linda e tem o direito de se assumir. A negra pode ter o cabelo do jeito que ela quiser: natural, tingido, liso… Nada é obrigatório. Agora, estamos na fase de lançamento da Nutrisse Cachos Poderosos, que é uma marca pensada para as mulheres cacheadas. Eu nunca tinha visto o mercado fazer produtos específicos para nós. Eu nunca tinha visto imagens de mulheres negras e cacheadas à frente dos produtos para cabelos. Hoje, eu estou lá na caixinha da coloração, no comercial, no filme… É uma conquista de todas nós.
Vocês entendem que se tornaram ídolos nos quais muitos adolescentes e jovens se espelham? Como encaram essa importante responsabilidade?
Eu também me faço essa pergunta porque é realmente uma responsabilidade muito grande. Tenho certeza de que estamos num local onde muitos queriam estar e que estamos dando voz a essas pessoas. Por isso, é preciso ficar muito ligado em tudo que a gente faz, fala, canta e dança.
O Dream Team do Passinho parece querer ser mais do que um grupo musical. Vocês defendem um aspecto mais cultural da dança do passinho. Desejam que ela ganhe espaço e importância como uma manifestação cultural brasileira. Como pensam em realizar essa missão?
A gente pretende continuar nossa jornada: defendendo o nosso pensamento sem nunca perder nossa essência. É assim que você deixa a sua marca na história. Nina Simone fez isso. James Brown, Michael Jackson… Beyoncé faz… Você pode fazer tudo, mas nunca pode perder a sua essência. Ela está nas pequenas coisas. Coisas simples que fazem a gente não esquecer quem a gente é e de onde a gente veio. Assim, o passinho estará sempre comigo.
Você é ainda muito jovem. Que sonhos quer realizar?
Vários! Eu já conquistei vários. Sou muito abençoada. Meu sonho é ver minha família bem, confortável… Poder deixar minha mãe, avó e, no futuro, os meus filhos tranquilos e com saúde. Fiz muitas coisas esse ano, cantei no encerramento das Paralímpiadas pro mundo inteiro e em lugares que nunca sonhei, mas dar uma geladeira pra minha mãe e outra pra minha avó foram alguns dos momentos mais felizes pra mim.
Profissionalmente, tenho sonhos de fazer parcerias e levar a potência da favela e do carioca para o mundo. Se Deus quiser, eu consigo.
E o que vem por aí em termos de projetos do grupo e seus, pessoais?
O que posso adiantar é que o Dream Team do Passinho estará presente no Back 2 Black. Vamos participar do show “Nós por nós”, com vários artistas que admiro e vou cantar pela primeira vez a música “Nega Braba” (um rap!) e “Olhos Coloridos”.
E, no ano que vem, estreia “Correndo Atrás”. Meu primeiro filme tem diretor (Jefferson D) e elenco 98% negros. Tem atores como Lázaro Ramos, Hélio de La Peña, Juliana Alves, Ailton Graça… Fiquei muito feliz em fazer parte disso. Foi muito gostoso viver Greice Daiane.
Toca Produções: (21) 3082 5865 / 3082 7264 / 99417 8545
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