Inevitável falar sobre “O” prêmio do ano.
Fosse anunciado, como ganhadora, uma escritora do quilate de Svetlana Alexievich, ou mesmo um cara do naipe de Tomas Tranströmer, seria notícia por alguns minutos em uma página interna dos jornais, rápidas citações nos telejornais e, se publicados no Brasil, um ou outro livro, suas fotos e a referência ao prêmio estaria nas vitrines de livrarias importantes.
Mas, o grande ganhador deste ano pode ser visto em todas as capas de revistas, no mundo todo. Várias vezes citado, discutido e com alguma polêmica criada.
Vi e ouvi, em rodinhas que costumo frequentar, nas laterais de bancas de jornal, muitas expressões como: “quem é esse cara?” E alguém explica: “É um cantor. Um roqueiro”. Os mais novos já ouviram falar, conhecem algumas músicas, como minhas filhas que cresceram embaladas, nas viagens, por suas músicas longas, com letras marcantes, ou as mais conhecidas, como “Blowin’ in the Wind”.
E o prêmio? A grande maioria já ouviu falar, aqui e ali, sem saber do que se trata, de verdade. Poucos tiveram a curiosidade de saber quem foi Alfred Nobel, e o que o motivou a criar a premiação. O mais estranho nas descobertas: é concedido, em várias categorias, por comitês suecos e noruegueses, desde 1895.
E o cantor e compositor Bob Dylan mereceu o prêmio que o imortaliza, o distingue como um “Nobel”, e ainda oferece oito milhões de coroas suecas, cerca de dois milhões e 900 mil reais?
Claro que sim!
A literatura é a base de muitas manifestações artísticas, como o teatro, o cinema e a música. Tudo começa com o texto, ou mesmo uma simples anotação que vai se transformar e chegar a milhões de pessoas.
Além do quê Dylan é poeta e biógrafo de si mesmo, com 30 livros publicados e, mais do que tudo, um mestre das palavras, hábil em juntá-las para dizer o que seus milhares de “súditos” querem ouvir em todas as partes do mundo.
Uma jogada de marketing? Por que não? De repente, o Nobel ganhou vida nova, voltou aos salões de festas e de cabelereiros, adentrou as salas de aula, serviu de tira-gosto e, por algum tempo mais, vai “soprando no vento”.
Informações:
Svetlana Alexievich é uma bielo-russa de 68 anos, jornalista. Sua obra é focada em relatos de guerra. Ganhou o Nobel em 2015.
Tomas Tranströmer, sueco, nasceu em 1931 e faleceu em 2015. Poeta traduzido em mais de 30 línguas. Ganhou o Nobel em 2011.
Bob Dylan, além de músico ganhador do Grammy, é ator Oscarizado e, agora, Nobel de Literatura, por criar “novas expressões poéticas dentro da grande tradição da canção norte-americana”.
A Academia Sueca desistiu de comunicar diretamente ao agraciado sobre o prêmio depois de quatro dias de tentativas infrutíferas de contatá-lo. Ninguém sabe se o cara vai lá receber o prêmio.