ADORÁVEIS MULHERES: Um conto charmoso sobre a amizade entre irmãs

 

Após “Lady Bird”, a diretora Greta Gerwig volta com “Adoráveis Mulheres“, uma nova versão da trama do livro escrito por Louisa May Alcott (que já teve uma adaptação para o Cinema em 1994), com um elenco feminino bem forte dentro de uma história bem contada. Essa nova obra aborda a vida de 4 irmãs durante a Guerra Civil dos EUA e, logo no inicio, a diretora parece que vai abordar mais um filme sobre empoderamento feminino, quando acompanha a protagonista Jo March (Saoirse Ronan) tentando ganhar a vida com suas obras literárias dentro de um ambiente dominado por homens, mas quando parece que o roteiro vai cair no previsível, ele consegue despistar nossos pensamentos, levando a trajetória de Jo para outro caminho mais favorável para ela.

Desta forma, aos poucos o filme nos mostra que não se trata de uma história de mulheres tentando sobreviver em um país governado por homens, mas sim sobre família, já que o foco dessa história é mostrar a convivência das irmãs March durante dois períodos de tempo, um quando ainda moravam todas juntas na mesma casa se preparando para a vida adulta, e outro com cada uma já com suas próprias vidas, mas nunca esquecendo uma da outra, mesmo com divergências e brigas que ocorreram no passado. E isso a diretora sabe contar muito bem através de flashbacks, mostrando que o passado delas consegue conectar-se muito bem com o tempo presente, através do tema abordado ou de um acontecimento similar com um final oposto ao que ocorreu na primeira vez.

Os personagens masculinos tem pouco tempo em tela, mas não estão no filme de forma gratuita, todos possuem uma função, pois interferem nas vidas das quatro irmãs, e em todos os casos, eles sempre acabem se revelando pessoas que não são o que aparentavam ser, seja de forma positiva ou negativa. O personagem de Timothée Chalamet é um exemplo disso, em sua primeira aparição mostra-se com a compostura e a aparência de um distinto cavaleiro, mas que só serve de disfarce para esconder a arrogância e uma personalidade desagradável, uma pessoa que sempre insulta depois de elogiar.

Timothée Chalamet em “Adoráveis Mulheres”

Em alguns momentos, o roteiro nos traz uma situação no passado que, embora seu final seja previsivel, é necessária para causar o peso dramático que nos provoca um choque, e a direção faz muito suspense sobre o ocorrido, a ponto de nos transmitir o medo da personagem,  mérito da diretora que evidencia sua eficiência em criar um bom clima, mesmo sabendo como isso irá acabar.

O roteiro ainda coloca de forma aleatória alguns conflitos sobre as mulheres na sociedade em que vivem, para ajudar a contextualizar aquela época, o que se torna desnecessário e irrelevante, já que o filme, como foi dito, não se trata de empoderamento feminino. Esses conflitos acabam sem importância, já que isso não é aprofundado, deixando essa contextualização de forma gratuita, só para mostrar por um segundo que o machismo existia também naquela época, mas esse não é o foco.

Em termos de atuação, todo o elenco tem um bom desempenho, algumas melhores do que outras, mas de forma geral, todas se dedicam bastante. Saoirse Ronan é a que tem mais destaque, mostrando que sua personagem é uma mulher talentosa dentro do ramo da literatura, mas que também isso não fica em primeiro plano, já que suas outras faces são mostradas, como sendo a mais dedicada e a que mais se importa com as suas irmãs, além de não reagir bem a criticas negativas sobre suas obras. Ela tem mais anseio em ser amada, do que amar alguém, já que seu desempenho e esforço não está a em encontrar um homem e em se casar.

A personagem de Emma Watson é a mais ambiciosa da quatro, mas não de forma exposta ou exagerada, ela é grata pelo que tem, mas sempre sonha com uma vida com luxo e fartura. Eliza Scanlen e Florence Pugh também têm arcos fundamentais para o desenvolvimento da relação entre as quatro, enquanto Eliza contribui para um clima mais dramático e comovente, Florence representa a irmã que obteve mais sucesso na vida, alcançando uma grande meta, sendo a que mais se manteve dentro das tradições de uma mulher daquela época. O filme nos mostra, sutilmente, tanto que isto era o que ela queria, assim como o certo grau de infelicidade gerado.

Laura Dern está funcional dentro da história, interpretando a mãe das irmãs March, mostrando seu bom e solidário coração, sempre disposta a ajudar os menos afortunados, mesmo que elas também não sejam da alto sociedade. Meryl Streep está bem, para variar, interpretando uma personagem odiosa e conservadora, mas que infelizmente é bem subaproveitada, já que sua personagem está a no filme somente para julgar as decisões das protagonistas, dando a impressão que o roteiro só criou essa personagem para trazer mais um nome de grande prestígio para o elenco.

Meryl Streep em “Adoráveis Mulheres”

A diretora parece fazer uma crítica sobre os finais de histórias protagonizadas por mulheres, tendo a chance perfeita de quebrar essa estrutura antiga, mas infelizmente ela deixa isso passar e traz novamente um final dentro desse padrão, apesar de não deixar que caia totalmente no genérico.

NOTA : 7

BRUNO MARTUCI

 

 

 

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Colaborador de Teatro Musical e CINEMA & SÉRIES dos sites ARTECULT.com, The Geeks, Bagulhos Sinistros, entre outros.

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