Roger Nascimento viveu de perto o auge das discotecas na década de 1980. E põe perto nisso! Como DJ das principais casas noturnas do Rio de Janeiro, como a Privé, Roxy Roller, Papagaio Disco Club, Regine’s, Danceteria Mistura Fina, Columbus e Press, conheceu muita gente e se divertiu muito. Mas, como bom bicho de Humanas, estudou jornalismo na PUC-Rio, e acabou trabalhando em televisão por acaso. Já trabalhou na Fundação Roberto Marinho, no Canal Futura, no Telecine, no Shoptime e, no SportTV, atuou durante as Olimpíadas Rio 2016.
Passou por todas as etapas de produção até alçar ao posto de diretor de programas, fazendo, inclusive, transmissões ao vivo, uma experiência que, segundo ele, dá o mesmo frio na barriga que comandar as carrapetas em grandes festas.
Como você se tornou DJ?
Sempre gostei de música, desde pequeno. Com o boom da música Disco na década de 1970, eu e alguns amigos montamos uma equipe de som. Era a época em que DJ’s como Ricardo Lamounier e Claudio Careca brilhavam na New York City Discotheque, e Ivan Romero arrebentava em seu programa mixado, o Cidade Disco Club, na recém-inaugurada Rádio Cidade. Comecei em boates substituindo um grande amigo, o DJ Gaúcho, que estava se transferindo do Privé para o Roxy Roller. Logo em seguida, ele me levou também para o Roxy e fizemos dupla na cabine de som de lá por quase três anos.
Naquela época, não havia a tecnologia que existe hoje. Quais eram os desafios do trabalho de DJ?
Até nos dias atuais, o DJ tem que mixar “colocando uma música dentro da outra” mantendo a mesma batida. Naquela época, as músicas eram gravadas de forma analógica, portanto, as batidas variavam, às vezes pouco, às vezes muito. O DJ tinha que mostrar talento, pois a mixagem era feita de forma artesanal, de ouvido, não havia nenhuma ajuda eletrônica. Era preciso ser ágil com o pitch (controle de velocidade de cada toca-discos), principalmente nas músicas de “levada” mais funk que surgiram no início da década de 1980.
O que é preciso ter, em matéria de habilidades, para ser um bom DJ?
Ter a capacidade de oferecer o que as pessoas querem ouvir e um pouco mais, surpreender sempre. Mas o principal se resume em uma palavra: sensibilidade! A capacidade de sair de casa com um setlist na cabeça e mudar tudo na hora de acordo com seu “feeling”.
E como você foi parar na TV?
Minha família veio de televisão. Meu pai e meu avô foram pioneiros da TV aqui no Brasil. Fui criado dentro de estações de TV, brincando no meio de câmeras, mas não tinha me metido nisso profissionalmente até os 30 anos. Aí, um amigo de infância me chamou para fazer um frila na produtora dele e estragou tudo (risos). Só souberam em casa quando eu já estava lá.
Sua experiência de DJ ajudou no seu novo trabalho?
No início, nem tanto. Mas bem depois, com programas ao vivo, é que percebi que a adrenalina era a mesma. O frio na barriga, a possibilidade de erro, a tomada de decisões rápidas. Tudo muito parecido.
Como se tornou diretor de programas?
Me considero um profissional de televisão e, entre outras coisas, dirijo também. Na verdade, sempre fui empurrado pra isso, mesmo em momentos em que essa não era a meta principal. Sempre me interessei por todas as etapas do processo de um programa de televisão e isso me ajudou na hora de coordenar uma equipe. Na verdade, o diretor é apenas um agregador de talentos. Simples assim.
E quais são os desafios desse tipo de trabalho?
Criar um clima de equipe, de time. Aquele tipo de equipe que se comunica pelo olhar. É impressionante como o trabalho em equipe, quando bem realizado, pode nos dar muito mais prazer que o trabalho individual.
Recentemente, você tem resgatado sua atividade como DJ. Foi difícil a adaptação às tecnologias?
Sempre adorei tecnologia, então, pra mim foi muito fácil. É fascinante poder tocar com todos esses recursos eletrônicos. Outro grande amigo, o DJ André Werneck, me convidou pra tocar com ele algumas vezes numa festa chamada Resumo do Mostarda. Eventualmente, ele toca numa tela enorme, touchscreen, transparente, na qual as pessoas veem tudo o que ele está fazendo. Sempre que ele convida um DJ “oldschool” pra tocar, eles fogem de fininho da tela! (risos). Mas eu vou lá e toco feliz da vida!
A fotografia é um hobby ou é algo mais sério?
Hobby, sempre hobby. Uso muito a bicicleta, inclusive pra trabalhar, e a mágica é bike + câmera fotográfica sempre na mochila. É só experimentar. Os cenários maravilhosos “desabam” na sua frente!
Do que você gosta mais: de ser DJ ou diretor de TV?
De trabalhar em TV. É um veículo apaixonante e que vai mudar radicalmente nos próximos anos. As novas gerações vão ter uma relação bem diferente com essa tela da que nós temos ou da que tinham nossos pais. E o conteúdo vai ter que acompanhar essa mudança. Quero participar disso tudo!
Mas voltar a ser DJ me proporcionou também coisas maravilhosas. E a mais importante foi – sem dúvida – descobrir como, através da música, você pode ter sido importante na vida de tantas pessoas sem que tivesse a noção exata disso na época.
Você se sente realizado?
Como DJ, me sinto feliz por tudo que já fiz e pelo reconhecimento que tenho, mesmo depois de tanto tempo. Na TV, ainda tenho muito o que fazer e vou chegar lá. Você pode me repetir essa pergunta daqui a alguns anos? (risos)
Assista a um dos muitos trabalhos de Roger Nascimento como diretor:
*fotos do acervo pessoal
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Mixcloud: https://www.mixcloud.com/rogerns/