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Além de o filme ter uma história tensa, dramática, com uma grande crítica social, o diretor Bong Joon-ho (mesmo de “Hospedeiro” e “Okja”) conduz o início do ritmo com uma proposta cômica e logo mostra as condições precárias de onde a família principal da historia vive e, mesmo eles vivendo nessa situação miserável, como cada membro conseguiu se adaptar a essas condições, da única forma que eles conseguiram encontrar, que é se aproveitando dos recursos dos outros, tudo de baixo dos panos.
A forma como o diretor consegue colocar isso em tela acaba funcionando como um tipo de alívio para não deixar a cena totalmente pesada, a ponto do público sentir pena dos personagens, já que ao longo do filme será mostrado esses mesmos métodos aplicados de modo mais calculista e muito bem orquestrado.
Aos poucos, o roteiro vai acrescentando cada informação crucial para o desenvolvimento do plano dessa família para sair da miséria, em cada nova oportunidade que surge depois que o primeiro membro começa a trabalhar como professor particular dentro da casa de uma família da alta sociedade. Aos poucos, manipula os donos da casa para introduzir toda sua família trabalhando lá dentro, abusando da generosidade dessas pessoas.
O roteiro trabalha isso como peças de dominós sendo cuidadosamente enfileiradas, até que finalmente todas as peças estejam perfeitamente posicionadas, mas que mais cedo ou mais tarde tudo cairá a qualquer momento. E quando aparentemente esse momento chega, o diretor consegue despistar totalmente desse caminho, ao acrescentar um plot twist que pega todos de surpresa.
Mas há um momento bem cômico no final do segundo ato que acaba forçando demais a crença do público, em que os protagonistas se encontram numa delicada situação, que possa fazer o espectador não comprar a ideia dessa cena.
Quando o diretor deixa totalmente de lado o tom cômico, se empenhando mais no tom dramático, a forma com que ele faz esta transição usando um acontecimento da natureza em um determinado local, é usada de modo brilhante e consegue nos chocar com a realidade dessa família que durante todo o filme aplicou diversos golpes para fugir dessa situação. Apesar do abuso da boa vontade de seus novos patrões por este grupo ser injustificável, faz com que o público compreenda o seu lado.
A partir do terceiro ato, o diretor causa novamente outro choque de realidade, mostrando o ponto de vista dos mais bem sucedidos financeiramente, isso logo após mostrar a reação das pessoas que mal tem onde morar à na mesma situação, acrescentando outros elementos que nos fazem perceber como os ricos também podem se aproveitar de pessoas de classes inferiores, só usando a desculpa que são funcionários e que precisam arcar com todo tipo de ordem, mesmo que implique executar funções incompatíveis com o cargo que ocupam.
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Com essa história tão bem contada, com um plano inacreditavelmente bem executado pelos personagens, tudo isso só serve ainda como um disfarce para a crítica social que o diretor deixa claro logo no início do filme. De como o ser humano é provavelmente um dos maiores parasitas do mundo, se aproveitando sempre dos outros, abusando da gentileza dos que ajudam de alguma forma e que, mesmo não parecendo, tudo isto acaba prejudicando de alguma maneira o ambiente em questão, seja o contaminando fisicamente, seja simplesmente deixando mau cheio por todos os lugares, até que finalmente tudo fique destruído pela cobiça, egoísmo e pelo ato de pensar somente em si mesmo.
BRUNO MARTUCI
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