Conheci a coreógrafa alemã Pina Bausch durante a faculdade de dança, e logo me apaixonei pelos traços de movimentação inesperada, temáticas sobre a reflexão das relações humanas, o uso constante de improvisação, sons do corpo. Dentre outras características de seu trabalho, a principal é utilizar a dança como um meio de falar sobre pessoas e suas relações sociais.
Dirigiu o Tanztheater Wuppertal, na cidade alemã de mesmo nome, foi dançarina e coreógrafa, ganhou muitos prêmios incluindo o Prêmio Kyoto, o Prêmio Laurence Olivier, e o Prêmio Europa Theatre. Suas obras mais conhecidas de dança-teatro incluem Blaubart, Nelken e Two Cigarettes in the Dark. Também foi inspiração para Pedro Almodóvar no filme Fale com Ela em uma cena dedicada à dança, que insiro abaixo:
Link para trecho da cena do Filme Fale com Ela (2002):
trecho da cena do Filme Fale com Ela (2002):
Após 7 anos de sua morte, Pina Bausch foi e é referência absoluta na história da dança, e responsável pela inovação e motivação para um novo olhar sobre esta arte, contribuindo historicamente para o desenvolvimento da dança moderna, contemporânea e dança-teatro no mundo. Reconhecer sua importância na arte e relendo e revendo suas obras e espetáculos, podemos dizer que, até hoje, ela é atual.
Pina herda todos os conceitos do expressionismo alemão e os aplica em sua arte, no século XX. Tive um professor que disse que minha expressão corporal é expressionista alemã, pois era uma movimentação distorcida, subjetiva e baseada em como os artistas viam o mundo. A arte expressionista, como a pintura, por exemplo, são obras nas quais a imaginação estava além da razão. O expressionismo em si nasceu na Europa no final do século XIX, contestando o pensamento burguês e imprimindo forte subersividade, trazendo um conteúdo psicológico e emocional e utilizando cores e traços caracterizados pela distorção da realidade.
Também me faz comparar com o movimento dos pincéis em uma pintura expressionista, movimenta-se de forma distorcida e vibrante… Repetitiva! E repete e repete e repete. Essa repetição sucessiva e de movimentos sequenciais combinados é o seu grande diferencial, pois intensifica as tendências físicas e emocionais da coreografia, inspiradas a partir da experiência de vida de seus bailarinos.
Única e quase incompreensível, Pina Bausch transgride, sensibiliza, confunde… Suas obras são reais como a própria vida, por isso a identificação do público com seu trabalho.
Algumas de suas frases falam por si só sobre seu olhar diferenciado e humano sobre a arte:
“Eu não estou interessada em saber como as pessoas se movem, eu estou interessada no que as faz mover.”
“As coisas mais belas estão quase sempre escondidas. É preciso apanhá-las e cultivá-las e deixá-las creacer bem devagar.”
Além de coreógrafa, Pina também foi pedagoga de dança e diretora de balé. Suas narrativas dançantes estavam relacionadas com cidades de todo o mundo, fazendo turnês e residência artística pelo mundo, inclusive no Brasil, de onde tirou ideias para seu trabalho intitulado Água (coprodução brasileira).
Eterna observadora, Pina Bausch deixou seu legado na história da dança e dança-teatro por valorizar e respeitar a narrativa de um corpo enquanto sujeito que vive, cria, respira, sensibiliza e dança.
Vídeo do Espetáculo Água (2010):
Para saber mais sobre a lista de seus espetáculos e sua história, veja: