Quem já jogou WAR sabe o que é ficar isolado, com todas as suas peças (exércitos), por exemplo, na Oceania, ali no cantinho do tabuleiro. É preciso um esforço enorme, com prováveis grandes perdas, para ultrapassar as barreiras (todas que você imaginar), com a intenção de conquistar o seu território.
Faço a analogia com a situação de todos nós, brasileiros, em relação à língua. São duas frentes a serem conquistadas.
Encravados na costa atlântica da América do Sul, não ouvimos, quase não vemos e, praticamente, não lemos os nossos vizinhos. E o pior, não falamos com eles, não nos entendemos, o que impossibilita a troca de experiências, de sentimentos, de colaboração e, mesmo, um comércio mais humanizado.
Nunca entendi porque não somos alfabetizados também em castelhano. Sinto o orgulho e acho importante, claro, em quem coloca os filhos nas escolas bilíngues, com inglês, francês e alemão. Sei de uma única escola, no Rio de Janeiro, que oferece espanhol como segunda opção. E nunca soube de nenhuma atuação de qualquer órgão do governo brasileiro com vistas à implementação do estudo do idioma espanhol; sequer nos programas das TVs e rádios públicas.
E o que dizer sobre a língua que usamos em nossas relações, pensando em educação, turismo e trocas culturais, com os outros oito países lusófonos? Distantes na Europa, África e Ásia… Nenhuma, no que alude às populações. Quem aí já leu Fatima Bettencourt, Vera Duarte ou Corsino Fortes? São de Cabo Verde e escrevem em bom português.
Você, por acaso, já ouviu falar em Juan Tomás Ávila Laurel? Quase certo que não. É um dos grandes escritores da Guiné Equatorial. Os livros destes homens e mulheres têm muito, mas muito a ver com a nossa realidade, nossos conflitos e nosso dia a dia.
Aprendemos, desde cedo, a ridicularizar com piadas a língua do mundo lusófono que hoje é falada por aproximadamente 230 milhões de pessoas. O português é a oitava língua mais falada do planeta, terceira entre as línguas ocidentais, após o inglês e o castelhano. Dos nove países, somos o único a falar o “português brasileiro”. Por isso, livros, filmes e documentos precisam de tradução, tanto lá quanto cá, e muito se perde, pela falta de conhecimento, nestas versões.
Apesar dos esforços da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), órgão criado em 1996, os avanços são tímidos, principalmente por causa das políticas e dos interesses comerciais e econômicos.
Por essas e outras que sabemos mais sobre os Luíses franceses do que sobre Simon Bolívar ou José de San Martín. Do que sobre Dom José I e Dom Manuel. Por trás, às escondidas, mas à espreita, está a nossa identidade cultural. Não há de se trocar uma pela outra, mas incluir todas.
Ao nos aproximarmos dos nossos vizinhos, com os quais formamos a Pátria Grande, e daqueles oito países com os quais temos tantas afinidades linguísticas, daremos chance ao amplo conhecimento do passado, das origens e sobre as possibilidades futuras, o que nos trará à forma mais autêntica de liberdade.
A língua é minha Pátria
Eu não tenho Pátria: tenho mátria
Eu quero frátria.