Faço parte daqueles que valorizam os considerados Grandes Escritores que nasceram e produziram no Brasil. Fui formado, com muita identificação, pelas histórias de Monteiro Lobato. Reconheci os valores, costumes e expressões em Guimarães Rosa. Li Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos. Curto muito e até hoje releio Autran Dourado e Lima Barreto.
Dito isso, volto a meados de 1970 e início dos 80, para reverenciar três autores que provocaram a minha revolução pessoal. Encontrei, nos textos destes caras, a liberdade de expressão, a quebra de correntes da escrita, as vozes que, finalmente, falavam a minha língua.
Já desconfiava sobre certas possibilidades, ao ter acesso a – “As Relações Naturais”, comédia em quatro atos, de Qorpo Santo (1829 – 1883), considerado o verdadeiro fundador do teatro do absurdo.
Tudo começa com um título inusitado na capa de um pequeno livro, visto de relance, na vitrine de uma livraria em Belo Horizonte: “A morte de DJ em Paris”. Foi meu primeiro contato com a chamada literatura pop (rótulo) e com o autor mineiro, futuro querido amigo, Roberto Drummond. Pequena obra-prima que transcende, naturalmente, da literatura para a imagética – aí sim, Pop.
Em seguida, já no Rio de Janeiro, conheci, em um curso de escrita, primeiro o autor Julio Cesar Monteiro Martins; depois, seus livros, a começar pelo “Sabe quem Dançou?”, mostravam a literatura cotidiana, do papo reto nas praias, do malandro virador, dos esquecidos e abandonados. São textos de pura identificação de quem convive e se mistura na linha delgada das relações cariocas.
Veio então “Morangos Mofados”, de Caio Fernando Abreu, cujo rastilho queimou rápido, sucesso instantâneo, que chamou à reflexão a geração paralisada pela ditadura militar. Deu voz e revelou sentimentos de homossexuais, dos loucos e dos jovens que conviviam com a mais braba repressão. “Morangos não deixa de revelar uma enorme perplexidade diante da falência de um sonho e da certeza de que é fundamental encontrar uma saída capaz de absorver, agora sem a antiga fé, a riqueza de toda essa experiência” (Heloísa Buarque de Hollanda, Jornal do Brasil).
A arte tem, sim, o poder transformador e de mostrar que há caminhos inteligentes fora do trilho. Mas é preciso escolher bem com quem seguir.
Livro “As relações Naturais”: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003008.pdf