Quando me perguntavam quando eu era pequeno, o que eu queria ser quando crescer, eu sempre respondia: Direito! Minha mãe sempre me disse que eu era muito justo, e com certeza teria sido uma belíssima escolha. Com todo o respeito a minha mãe, teria sido uma péssima escolha: Injustiças acontecem e são alheias ao talento até dos melhores advogados. Pior que as injustiças, são as heranças e motivações das mesmas.
Em Olhos que Condenam, somos apresentados a conhecida história dos Cinco do Central Park. A talentosíssima Ava DuVernay já havia nos brindado com 13a emenda e Selma, e aqui, igualmente ela nos emociona, encanta e o mais importante, convida o público a pensar sobre as motivações dos acontecimentos, e em como, infelizmente eles sempre estão relacionados a condenar o elo mais fraco das relações.
Este ano temos duas das melhores minisséries dos últimos anos, e a briga será feroz nas premiações. Digo isso porque tanto Chernobyl, quanto Olhos que Condenam, prezam muito não só por recriar os fatos e as falhas históricas das suas tragédias, mas, fazem isso com um esmero acima do normal.
A paleta de cores utilizada na primeira metade da série, ajuda a recriar a época, bem como a fotografia utilizada, principalmente nas cenas dos depoimentos forçados (e até no julgamento) das crianças, é uma aula de como agonizar o público enaltecendo a tensão psicológica a partir do foco e enclausuramento deles na câmera.
Como se não bastasse o show técnico, ainda somos apresentados a atuações brilhantes. Nada mais nada menos que 8 atores e atrizes da minissérie estão indicados a prêmios no Emmy, o que por si só já fala muito da qualidade deste elenco. Jharrel Jarome, já conhecido por seu papel coadjuvante em Moonlight, aqui, ele concorre como melhor ator principal. O detalhe de sua atuação fica por conta da construção fonética do seu personagem, que ajuda ainda mais a agonizarmos junto ao personagem. Completam a lista de indicados: Aunjanue Ellis e Niecy Nash como atrizes, Assante Blackk (na minha opinião o grande destaque da série), John Leguizamo e Michael K. Willians como atores coadjuvantes e Marsha Stephanie Blake e Vera Farmiga como atrizes coadjuvantes.
Muito embora não tenha figurado entre as indicadas, vale ressaltar também o excelente trabalho da Felicity Huffman, que vilãnizou a promotora Linda Fairstein, que renunciou ao seu cargo e teve que cancelar sua conta no twitter após a estréia da série, momento em que viu hashtags contra ela pipocarem no twitter. Vale lembrar que não se trata de uma vingança, mas, sim da história contada a partir do ponto de vista correto. Os cinco eram inocentes, fato confirmado pela confissão de Matías Reyes em 2002.
A minissérie, por fim, foca ainda em como US$ 41 milhões não trazem de volta tudo o que os cinco mártires perderam: a infância e adolescência. Nenhum dinheiro trará de volta estes anos da vida deles.
Ava sabe muito bem disso e constrói bem o momento aguardado da saída para condicional deles, e o que deveria ser um momento de felicidade, se torna mais um momento de angústia e descrença.
Trata-se de um material necessário, arrebatador, cruel, mas, mais importante: reforça que as lutas são diárias, necessárias e que queiramos ou não, talvez nunca vejamos as pessoas não serem julgadas pela sua aparência.
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