Eu sou suspeita para falar: é um dos meus diretores preferidos – meu e aposto que de muita gente por aí. Mas é merecido. Com duas peças em cartaz na cidade do Rio de Janeiro – Krum – Cia Brasileira de Teatro e Nós – Grupo Galpão – e uma produção artística potente, Márcio Abreu parece estar em um momento muito bom no desenvolvimento do seu trabalho.
Eu tive o prazer de assistir Krum no Teatro Anchieta, no SESC Consolação, no ano passado em São Paulo. Saí arrasada. Mas no melhor dos sentidos!
A já premiada montagem da Cia Brasileira de Teatro, com texto do israelense Hanoch Levin, estreou ano passado no Rio de Janeiro no teatro Oi Futuro Flamengo, viajou o Brasil, foi para o exterior e agora segue sua segunda temporada no teatro Carlos Gomes, de volta ao Rio.
Da platéia, lá na minha cidade, eu assistia uma direção inovadora e precisa, dialogando com tendências do teatro contemporâneo, além de apresentar atuações marcantes. Passando por Renata Sorrah e Inez Viana, brilhavam ainda os atores Grace Passô, Raniere Gonzales, Danilo Grangheia e Rodrigo Bolzan (que, creio eu, está alternando o papel com Rodrigo Andreolli nesta temporada no Rio). Completavam o elenco Cris Larin, Edson Rocha e Rodrigo Ferrarine.
Mas… Sobre o que é essa peça?
Um homem que retorna para a casa da mãe após ter “ganhado o mundo” numa viagem ao exterior. Mas que volta sem nada e reencontra pessoas e circunstâncias que havia deixado sem grandes transformações.
E levamos esse tapa na cara da nossa própria mesmice. Krum nos apresenta diferentes tipos humanos medíocres que estão em nosso cotidiano. Ainda que ampliados com toques de teatro do absurdo, não é difícil perceber traços dos personagens em indivíduos por aí andando na rua, indo à praia, nas universidades, nos hospitais, nos bares e, é claro… no espelho.
Num clima de desesperança, certo niilismo, e – a meu ver – altas doses de realidade afetiva, Krum, ao mesmo tempo que é maravilhoso, é difícil. A montagem nos dá um golpe mudo e certeiro, ao expor a nós mesmos esse nosso próprio oco que parece ser sem fundo!, recheado de sonhos criados numa sociedade de consumo e das vidas apertadas que levamos, abarrotadas das pequenas-frustrações-de-todo-dia.
Krum é o teatro bom e cruel que mostra o humano a si mesmo. Corre lá pra se perceber e se (re)pensar!
Onde? Como? Quando? Quanto? Que horas?
Teatro Carlos Gomes – Praça Tiradentes, s/n – Centro.
Temporada até 17 de julho.
Sextas e sábados, 19h30; Domingos, 18h30. R$ 40. 120 min. Classificação: 16 anos.