Quem se relaciona mais de perto com o universo literário, de uma maneira ou de outra, já fez, em algum momento, estes questionamentos.
Aqueles que simplesmente gostam de ler raramente se preocupam em responder. E estão certos. A leitura, para ser considerada, precisa estar associada ao prazer, a um momento de abandono da realidade, a certa cumplicidade com autor e personagens.
Então, como responder? E o mais importante: como se conquistam novos leitores?
A cada quatro anos são divulgadas pesquisas oficiais sobre leitura. A linha pouco varia, como em monitor de paciente terminal. Pelo menos tem sido assim, nas últimas três ou quatro nas quais dei uma espiadinha.
Mas, gráficos à parte, quando se tem a oportunidade de dialogar com quem realmente interessa – os estudantes, os jovens, os leitores em potencial -, mais luz é jogada sobre o tema… ou não!
Explico.
Recentemente, fui convidado a dar uma palestra sobre o trabalho do escritor e os rumos da literatura a uma turma de escola pública, na periferia do Rio de Janeiro. De cara, fiquei surpreso com a quantidade de alunos e a atenção e curiosidade deles. Todos tinham lido meu livro Último Trem, que seria trabalhado na aula de literatura. Apresentei as alegações e preocupações, dei alguns dados, li um capítulo, até que um aluno levantou a mão e perguntou, parafraseando algo que eu mesmo dissera: Então, o que o senhor faria para sermos um país de leitores?
Inflei o peito, afinal, estava ali pra isso: motivar, falar sobre os benefícios da leitura, cheio de respostas prontas, propostas discutidas em reuniões e ideias lançadas por estudiosos e pesquisadores. Porém, fui iluminado pela humildade e devolvi a pergunta à turma. Fiz mais: pedi que também dissessem o que para eles seria mais importante para estimular a leitura, e que respondessem por escrito. Eram trinta e poucos alunos, entre 16 e 18 anos, e certa homogeneidade nas condições sociais.
Rolou o natural tumulto, a professora participou ativamente acalmando e incentivando a turma. Logo, tínhamos 22 papeizinhos sobre a mesa, com respostas sérias, algumas elaboradas – todas com propostas.
Pedi à professora que anotasse no quadro para fazermos uma espécie de “ranking” de ideias. Escritas de formas diferentes, agrupamos as respostas pelo seu teor.
A maioria, oito, dizia (tento preservar a peculiaridade das respostas): “Que os professores indiquem livros mais modernos, com temáticas que tenham a ver”.
A segunda resposta mais presente, de cinco alunos, era curta e grossa: “Não quero ser obrigado a ler”.
Sobre o que era mais importante, apenas quatro escreveram e outros três assumiram em voz alta: “Que o livro não seja chato”.
No papo que se seguiu, muitos afirmaram que não gostavam de ler porque foram sempre obrigados a ler os “clássicos”. Quase na mesma proporção, alguns comentaram que tomaram gosto após lerem coisas tipo Harry Potter. Uma aluna se empolgou e leu O mundo de Sofia e muitos outros, a partir da descoberta do bruxinho.
Saí do colégio com muitas interrogações. Por que, com tanta evolução tecnológica, com as mais variadas opções que atraem multidões de jovens para as feiras e bienais, ainda seja obrigatória a leitura dos mesmos livros que nossos pais eram obrigados a ler?
E refleti: de onde vêm os dados das pesquisas sobre a leitura? A quem são feitas as perguntas? Ignoram essa turma que tem motivo e tempo para ler?
Para finalizar, a cereja do bolo da provocação: muitos dos alunos disseram que nunca tinham conversado com um escritor. Pior: que, pela primeira vez, tinham lido um livro de autor vivo!