Na realidade brasileira, temos contato com pouco (ou quase nenhum) caso de trauma pós-guerra. Também pudera: temos tantos problemas estruturais no país, que este é um que, de fato, não queremos para chamar de nosso. Em outros países, e em especial nos EUA, a banda toca de forma diferente, vide grandes atentados que acontecem e ficam sempre à espreita dos Serviços de Inteligência.
Neste contexto, surge Homecoming (com o título “De Volta à Pátria” no mercado nacional), que conta a história de um programa, de mesmo nome, que promete reintegrar jovens pós-guerra ao cotidiano da sociedade. A série, na verdade, oscila entre o experimento deste projeto e os dias atuais, onde Heidi Bergman (Julia Roberts), trabalha como uma atendente de lanchonete, despertando nossa imediata curiosidade sobre o que teria acontecido com o status que a mesma carregava, sendo uma das corresponsáveis pelo projeto.
O experiente diretor Sam Esmail (responsável pelo sucesso de Mr. Robot), sabe como criar uma atmosfera de suspense, em que desde o início causa o incomodo necessário para continuarmos a acompanhar a série e criarmos diversas teorias diferentes sobre o que está acontecendo.
Ao fazer com que o público conjecture sobre a verdade dos fatos, ele brinca com o próprio público que faz isso de forma rotineira, incluindo personagens que duvidam absolutamente de tudo e dão voz a esse tipo de atitude, como Shrier (Jeremy Allen White).
O fato da série ser contada em flashbacks torna o suspense crescente e revela uma preciosidade técnica da fotografia que, particularmente, achei genial! No momento atual, o diretor opta por gravar as cenas em um modo retrato, “prendendo” os personagens em tomadas um tanto quanto claustrofóbicas, o que vamos descobrindo ao decorrer da série que serve de forma a rimar com a atual situação daqueles personagens, enquanto que nos flashbacks, as tomadas são mais longas, valorizam o ambiente e estão todas no formato paisagem. E aí, fica a pergunta: o que é de fato ser livre? E a nossa liberdade, está condicionada a algo?
Existe, após o plot twist, uma mudança no formato da gravação que endossa essa leitura, funcionando como uma “libertação” de uma personagem. Além de Julia Roberts, Bobby Canavalle e Stephan James estão muito bem, mas claro, servindo apenas como apoio para que Roberts brilhe intensamente em cena. A doação da atriz é uma das coisas lindas de se ver e, em alguns momentos da série, quando a vemos com pouca maquiagem e notoriamente incomodada, fica uma outra grande pergunta: os traumas conseguem ser mensurados? Os traumas de guerra são os maiores que existe ou trauma é trauma?
Não acho que exista conclusão rápida para nenhuma das discussões que a série propõe, mas é um alerta em relação a como pessoas lidam com problemas de pessoas.
Para não dizer que tudo funciona perfeitamente bem, o final da série é um pouco clichê/cafona, mas, existe seu valor e razão de ser.
Se ainda não assistiu e surgiu a curiosidade…
…confira o trailer:
Bons filmes e Séries! E nos vemos em breve! 😉
JOÃO FRANÇA FILHO (@CINESTIMADO)
Nota do Editor: A primeira temporada de Homecoming está disponível na Amozon Prime e recebeu três indicações ao Globo de Ouro! Ainda não há previsão de estreia para a segunda temporada.
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