“A Cinta Moderna”! Esta é uma loja tradicional fundada em abril de 1927 que tem a mesma cara de quando abriu as portas pela primeira vez em uma movimentada rua do bairro de Copacabana, Rio de Janeiro. O site explica que também tem “Cinta Moderna” em Cataguases, Macaé, Campos do Goitacazes e Belo Horizonte. Incrível! Além da fachada, vitrine e toda a composição, o nome grita– A CINTA MODERNA – uma contradição em si– afinal, se é uma cinta, não pode ser moderna; se é moderna, não pode usar cinta. Ou será que não?
Como definir este conceito? A vanguarda no segundo seguinte já é datada, virou passado. Interessada nas novas tendências e no que pensam os artistas (pelo menos alguns) sobre o amanhã, aceitei o convite de uma grande amiga para irmos ao Parque lage ouvir uma série de palestras com o título guarda-chuva “Memórias do Futuro”. E nessas conversas falou-se de modernidade, que anda muito ligada a coisas fluidas, que muitas vezes esbarram no caos. Claro que Fausto Fawcett estava nesta roda, mas a grande novidade veio de uma moça que nos falou do Tecnoxamanismo. Isso mesmo, tecnologia xamânica. Ela afirmava que o moderno está nos índios e sua filosofia, no primitivo, nas origens.
O moderno olha para trás.
E com isso voltamos a Copacabana e as coisas caóticas e tradicionais deste lugar que deixaram de ter um cheiro de nostalgia para se tornarem extremamente modernas sob esse novo olhar. Assim, fico mais à vontade para dizer que eu adoro, digo, amo um cinema de rua. Cinema de rua que tem pipoqueiro na calçada e quando está chovendo entramos na sala com os sapatos molhados porque é bom quando as coisas afetam a gente.
O cinema Roxy, em especial, passou por adaptações que o mantiveram atualizado sem perder o charme do tradicional. Eu sirvo como testemunha do tempo em que o Roxy inteiro era uma sala só, podíamos escolher se iríamos sentar na parte de baixo ou lá em cima no balcão.
Na década de 90, reformaram o cinema e o dividiram em três salas; junto com o aperto no coração da saudade da grande sala veio a alegria de voltar a ver os filmes lotados. Isso tinha um significado muito importante – o Roxy tinha resistido, ele não ia fechar.
Ano após ano muitos cinemas de rua foram acabando. Igrejas e academias de ginás
tica foram tomando os seus espaços. E o Roxy lá, firme e forte. Nos anos 2000, veio mais uma reforma. Oba! Pros baixinhos, além do conforto das poltronas novas, o grande ganho foi cada fileira estar num degrau diferente. Filme sem a cabeça de ninguém na frente para todos! Mais uma conquista.
Até hoje, é comum uma senhora comprar seu lugar marcado e sentar-se em outro, pois afinal “esse negócio de poltrona numerada é uma bobagem, eu sento onde eu quiser.” Coisas de Copacabana… Coisas que fazem parte também da história do Roxy e, por sorte, da minha.
Quem tiver uma história bacana para contar sobre o cinema de rua da sua cidade, por favor sinta-se à vontade e moderno! Gostaria muito de ouvir.
NOTAS
“Os homens se parecem mais com seus tempos que com seus pais” – frase de Guy Debord (eu tirei do livro “Modernidade Líquida” – autor Bauman, Zygmunt; Ed Zahar; pag.163)
Guy Debord – https://pt.wikipedia.org/wiki/Guy_Debord
O cinema Odeon ainda tem segundo andar de platéia – http://www.kinoplex.com.br/cine-odeon
O Roxy é uma parte da história da família Severiano Ribeiro – http://www.kinoplex.com.br/trajetoria