Os homens se parecem mais com seus tempos do que com seus pais

cn_claudia_IMG_20160517_110259“A Cinta Moderna”! Esta é uma loja tradicional fundada em abril de 1927 que tem a mesma cara de quando abriu as portas pela primeira vez em uma movimentada rua do bairro de Copacabana, Rio de Janeiro. O site explica que também tem “Cinta Moderna” em Cataguases, Macaé, Campos do Goitacazes e Belo Horizonte. Incrível! Além da fachada, vitrine e toda a composição, o nome grita– A CINTA MODERNA – uma contradição em si– afinal, se é uma cinta, não pode ser moderna; se é moderna, não pode usar cinta. Ou será que não?

cn_claudia_IMG_20160517_110314Como definir este conceito? A vanguarda no segundo seguinte já é datada, virou passado. Interessada nas novas tendências e no que pensam os artistas (pelo menos alguns) sobre o amanhã, aceitei o convite de uma grande amiga para irmos ao Parque lage ouvir uma série de palestras com o título guarda-chuva “Memórias do Futuro”. E nessas conversas falou-se de modernidade, que anda muito ligada a coisas fluidas, que muitas vezes esbarram no caos. Claro que Fausto Fawcett estava nesta roda, mas a grande novidade veio de uma moça que nos falou do Tecnoxamanismo. Isso mesmo, tecnologia xamânica. Ela afirmava que o moderno está nos índios e sua filosofia, no primitivo, nas origens.

O moderno olha para trás.

cn_claudia_IMG_20160517_110322E com isso voltamos a Copacabana e as coisas caóticas e tradicionais deste lugar que deixaram de ter um cheiro de nostalgia para se tornarem extremamente modernas sob esse novo olhar. Assim, fico mais à vontade para dizer que eu adoro, digo, amo um cinema de rua. Cinema de rua que tem pipoqueiro na calçada e quando está chovendo entramos na sala com os sapatos molhados porque é bom quando as coisas afetam a gente.

cn_claudia_20160518_180743O cinema Roxy, em especial, passou por adaptações que o mantiveram atualizado sem perder o charme do tradicional. Eu sirvo como testemunha do tempo em que o Roxy inteiro era uma sala só, podíamos escolher se iríamos sentar na parte de baixo ou lá em cima no balcão.

Na década de 90, reformaram o cinema e o dividiram em três salas; junto com o aperto no coração da saudade da grande sala veio a alegria de voltar a ver os filmes lotados. Isso tinha um significado muito importante – o Roxy tinha resistido, ele não ia fechar.

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Ano após ano muitos cinemas de rua foram acabando. Igrejas e academias de ginás
tica foram tomando os seus espaços. E o Roxy lá, firme e forte. Nos anos 2000, veio mais uma reforma. Oba! Pros baixinhos, além do conforto das poltronas novas, o grande ganho foi cada fileira estar num degrau diferente. Filme sem a cabeça de ninguém na frente para todos! Mais uma conquista.

Até hoje, é comum uma senhora comprar seu lugar marcado e sentar-se em outro, pois afinal “esse negócio de poltrona numerada é uma bobagem, eu sento onde eu quiser.” Coisas de Copacabana… Coisas que fazem parte também da história do Roxy e, por sorte, da minha.cn_claudia_20160518_175158

Quem tiver uma história bacana para contar sobre o cinema de rua da sua cidade, por favor sinta-se à vontade e moderno! Gostaria muito de ouvir.

 

 

 

 

NOTAS

“Os homens se parecem mais com seus tempos que com seus pais” – frase de Guy Debord (eu tirei do livro “Modernidade Líquida” – autor Bauman, Zygmunt; Ed Zahar; pag.163)

Guy Debord – https://pt.wikipedia.org/wiki/Guy_Debord

O cinema Odeon ainda tem segundo andar de platéia – http://www.kinoplex.com.br/cine-odeon

O Roxy é uma parte da história da família Severiano Ribeiro – http://www.kinoplex.com.br/trajetoria

Author

Jornalista e prioritariamente um bicho de televisão. Adoro cinema e tenho queda forte por documentários. Minha vida profissional já pairou na GloboNews, Globosat e por produtoras que faziam programas para a Globosat. Falo pouco de mim, mas escuto histórias - as interessantes! -, e prometo contá-las aqui.