Pastor Claudio: documentário lança no ar toda a sujeira dos porões da ditadura

Pastor Cláudio”, documentário escrito e dirigido por Beth Formaggini, mostra o encontro entre o bispo evangélico Cláudio Guerra — ex-delegado responsável por assassinar e incinerar opositores à Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), — e Eduardo Passos — psicólogo e ativista dos Direitos Humanos, que trabalha no atendimento a vítimas da violência do Estado. A 4 Ventos Comunicação assina a produção e ArtHouse, a distribuição. Estreia dia 14 de março nos cinemas.

No longa, Pastor Cláudio, respaldado por uma polêmica Lei da Anistia e hoje membro ativo da comunidade evangélica, revela, dentre outros crimes, como fazia para desaparecer com corpos durante sua atuação no período da Ditadura. Com a abertura política, Cláudio trabalhou na segurança pública. Para registrar o diálogo entre o pastor e o psicólogo, a diretora Beth Formaggini monta um cenário com um telão em que são projetadas fotografias e vídeos de vítimas de um passado que perdura.

Claudio Guerra sendo entrevistado por Eduardo Passos no documentário “Pastor Cláudio”.

A diretora explica a proposta e o formato do documentário:

“Neste filme propus uma conversa entre Cláudio e Eduardo durante a qual se projetam as imagens, permitindo-nos ver a vinculação de Cláudio à violência do Estado praticada naqueles anos, além de perceber sua frieza aterradora. A interação dos dois personagens e as cenas e fotos no telão, que também são projetadas no corpo de Cláudio, trazem à tona memórias e reflexões sobre a banalidade do mal e seus desdobramentos. A violência dos homens e do Estado continua a nos assombrar até hoje no Brasil e no mundo”.

Pastor Cláudio” surgiu a partir da investigação de Beth Formaggini na direção do documentário “Memória Para Uso Diário” (2007), sobre o Grupo Tortura Nunca Mais e os desaparecidos políticos da ditadura. Em 2012, foi lançado o livro “Memórias de Uma Guerra Suja”, em que Rogério Medeiros e Marcelo Netto reuniram depoimentos de Cláudio Guerra. A partir deles, Beth conseguiu respostas para casos que permaneciam sem esclarecimento da Operação Radar (1973-1976), que executou 19 integrantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi então que a diretora partiu para Vitória em 2015 com objetivo de entrevistar Cláudio Guerra, em companhia de Eduardo Passos.

O longa venceu o prêmio de melhor filme no Festival de Vitória 2018 e participou do Festival Internacional de Cinema Documental (Equador, 2018), Festival Kinoarte de Cinema 2018, da mostra Brasil em Movimento (França, 2018), Festival Internacional de Mulheres no Cinema – FimCine 2018, Festival do Rio 2017, Festival de Havana 2017, Festival Internacional de Filme Documentário do Uruguai – Atlantidoc 2017, Forum Doc BH 2017 e do Festival Internacional Pachamama (Acre, 2017).

Claudio assiste o depoimento da viúva de um dos assassinados por ele, a sra. Ivanilda Veloso.

Sinopse:

Conversa entre o Bispo evangélico Cláudio Guerra, ex-chefe da polícia civil que assassinou e incinerou militantes que se opunham à Ditadura Militar brasileira e Eduardo Passos, psicólogo militante dos direitos humanos.

 

Crítica:

Este ano o samba da Mangueira mencionou os “anos de chumbo” e em seu refrão fala da “poeira dos porões”. Pois bem, o documentário “Pastor Cláudio” , através de um depoimento estarrecedor de um dos personagens mais cruéis daquela época de chumbo lança toda a podridão dos porões da Ditadura Militar após o Golpe de 64. Através de mais de uma hora de depoimento, ficamos sabendo detalhadamente a tecnologia empregada para sumir com os corpos dos presos políticos assassinados pelo Governo Militar. Enquanto na Argentina os presos eram jogados de aviões no mar, aqui havia um método bem eficiente : a incineração. E com a conivência de usineiros. As fornalhas das usinas de cana-de-açucar eram utilizadas por Claudio Guerra (que hoje se diz convertido e pede para ser chamado de pastor) e seus comparsas para eliminar através de fornalhas até 3 corpos por vez.

Além disto, o que este documentário consegue fazer através do depoimento deste assassino político é costurar muitos elementos e fatos históricos, explicando, minunciosamente, todo o processo de seleção, planejamento, captura, tortura e eliminação de todos os que era suspeitos e contrários ao Governo Militar.

São impressionantes todos os detalhes sobre como começou a fase terrorista do próprio Governo, inclusive em qual evento exatamente começaram a arquitetar explosões como as da OAB (que matou a secretária Lyda Monteiro) e no RIO CENTRO (que poderia ter muitas vítimas, mas que acabou com a explosão nopróprio carro dos militares) em 1981. A idéia era sempre provocar atentados à bomba a fim de culpar a guerrilha contra o Governo. Claudio menciona vários nomes, tantos os assassinados como Vladimir Herzog e de vários desaparecidos como dos principais envolvidos nos crimes, a hieraquia completa,  todos os chefes, em cada nível, até mesmo chegando no General Newton Cruz , na época chefe do SNI (orgão oficial da Inteligência do Governo Militar). Até mesmo no caso Zuzu Angel é jogado um holofote esclarecedor, pois detalha como foi planejado e executado o seu assassinato, fazendo-o parecer um acidente de carro. A estilista era mãe de um dos desaparecidos e começara a incomodar muito com todas as suas declarações nas mídias contra o Governo.

O documentário causa impacto desde as primeiras palavras de Claudio Guerra, já mostrando sua frieza desconcertante ao relembrar – e confirmar – quem ele assassinou e como o fez. Explica como começou na sua carreira de eliminador e no final do documentário, causa ainda mais impacto ao informar que depois da Abertura Política ganhou ainda mais dinheiro com crimes na surdina. Todos estes matadores não foram acusados nem presos, salvos pela questionável Lei da Anistia. E no final, o temível assassino diz também que perdeu tudo devido a sucessivos governos de Esquerda que supostamente o teriam perseguido. E mostra seu “Calcanhar de Aquiles”, seu grande temor: informa que existe ainda hoje esta “irmandade” que chefiou o processo de extermínio e que hoje pode ameaçar a sua vida e a de sua família. Diz que possui documentos contra a mesma, caso algo de ruim aconteça a ele ou seus familiares. Inclusive, vários desta irmandade são poderosos e integram parte da maçonaria brasileira, do empresariado e de políticos poderosos.

“Pastor Claudio” é um daqueles documentários que cumpre o seu papel histórico ao dissecar a metodologia de perseguição política e violência da ditatura militar. É uma obra corajosa e importantíssima, pois nos provoca uma reflexão e nos alerta sobre a falta de humanidade dos torturadores, assassinos e de seus chefes de Governo “linha dura”.

 

Confira o Trailer:

 

 

 

 

Personagens:

  • Cláudio Guerra
  • Eduardo Passos
  • Ivanilda Veloso
  • Marival Chaves
  • Maria Helena Vignoli de Morais

 

 Ficha técnica:

  • Direção, roteiro e produção executiva: Beth Formaggini
  • Pesquisa: Linara Siqueira, Juliana Machado, Beth Formaggini, Marcia Medeiros, Vinicius Noronha
  • Produção: Valéria Burke e Linara Siqueira
  • Fotografia e câmera: Cleisson Vidal e Juarez Pavelak
  • Montagem: Márcia Medeiros e Julia Bernstein, edt.
  • Produtor de Finalização: Ade Muri
  • Edição de som: Bernardo Gebara
  • Mixagem: Bernardo Gebara e Alexandre Jardim
  • Produção de finalização: Ade Muri
  • Consultoria: Marta Andreu
  • Vídeo design: Rogério Costa
  • Som direto: Toninho Muricy
  • Tape to Tape e finalização: Link digital
  • Ano: 2017
  • Duração: 76′
  • Classificação: 12 anos
  • Empresa Produtora: 4Ventos Comunicação
  • Distribuição: ArtHouse
  • Página FB: fb.com/pastorclaudiofilme

Principal Fonte: Primeiro Plano

RAPHAEL GOMIDE

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