Apresentada em 15 países nos últimos 5 anos e pela primeira vez no Rio de Janeiro, peça propõe uma reflexão sobre a liberdade por meio dos olhos de um pianista encarcerado, no Centro Cultural Banco do Brasil
Em circulação mundial há cinco anos e apresentada em quinze países, a peça Cárcere será realizada pela primeira vez no Rio de Janeiro, de 17 de janeiro a 3 de março de 2019, no Centro Cultural Banco do Brasil/ CCBB-RJ. O espetáculo, encenado pelo ator e diretor Vinícius Piedade, trata de uma semana na vida de um pianista que, privado da liberdade e de seu piano, será refém em uma rebelião iminente. No cárcere, ele vive em contagem regressiva e suas expectativas, impressões, lembranças, reflexões e sensações são expressadas em um diário iniciado em uma segunda-feira e encerrado quando estoura a rebelião, num domingo. Quem assina o texto é Saulo Lima e Vinícius Piedade. A trilha sonora é de Manuel Lima. A produção do monólogo é da Palavra Z.
“A peça pode ser o retrato de um dos mortos nas recentes rebeliões presidiárias”, comenta o ator, diretor, iluminador e coautor da peça, Vinícius Piedade. Jogando luz em temas como a precarização das prisões e a ineficácia na ressocialização dos ex-presidiários, o monólogo propõe uma visão humanizada para a atual crise no sistema carcerário brasileiro. “Essa história emblematiza tantos casos de presidiários que não têm histórico associado ao crime, mas que facilmente são cooptados e mortos em rebeliões”, completa.
Além disso, a narrativa de Cárcere é um convite para o público refletir a respeito das liberdades e prisões que nos rodeiam. “Meu diário é uma metáfora para casamentos aprisionantes, relações encarceradas, trabalhos acorrentadores, mentes algemadas, vidas encarceradas mesmo que em liberdade”, afirma o protagonista em cena.
A proposta estética da peça percorre diferentes camadas e linguagens, desde o humor corrosivo de um homem em estado de sítio a momentos essencialmente corporais. “Eu preferia tocar piano e dizer o que tenho para dizer em ritmo e disritmia, mas como aqui não tem piano eu escrevo, mesmo sem saber fazer poesia”. Por meio de uma linguagem acessível e visceral, a peça leva a? cena camadas de profundidade que visam proporcionar ao público um mergulho em diferentes perspectivas de ser e estar preso. Ou livre.
O monólogo já foi encenado em festivais de teatro, como o 8th Theatre Olympics, na Índia, Tiyrano Medresesi Sirince, na Turquia, e no 11th Monodrama Festival, em Kiel, na Alemanha.
A história
Diante da dificuldade de se sustentar com a música, um pianista aceita o convite de um amigo que lhe oferece um bico de venda de drogas, aproveitando o fato de ele ter contato com tanta gente nos tantos bares onde toca o piano. Na prisão, ele tenta negociar com a direção do presídio a entrada do seu instrumento para ensinar outros presos a tocar, quando líderes de facções criminosas acham que essas conversas são caguetagem, o jurando de morte.
A direção da cadeia, em uma tentativa precária de protegê-lo, o coloca na Ala dos Seguros, junto a outros presos que correm risco de vida. O problema e? que quando há rebelião na cadeia, quem e? candidato natural a refém e? justamente quem está? nessa ala.
Quando começa a surgir um boato de que uma rebelião esta? na iminência de estourar, ele começa a escrever um diário. Aqui começa a peça. O pianista, apelidado Ovo, esta? em uma semana decisiva de sua vida, entre a segunda-feira, quando descobre que será refém, e domingo, quando estoura a rebelião. Trata-se, então, da teatralização do diário escrito por esse preso na semana em que vive uma espécie de contagem regressiva. Suas reflexões, lembranças e razões para, como escreve, continuar se equilibrando na linha tênue entre persistir e desistir. “Na beira do vulcão prestes a entrar em erupção, na linha do trem que esta? vindo, na mira da bala com a arma já? engatilhada”, como expressa o ator em solo no palco, em vibrante contato direto e indireto com o público.
Concepção
Depois de percorrer alguns presídios do estado do Espírito Santo apresentando o espetáculo solo Carta de um Pirata, Vinícius Piedade propôs ao dramaturgo Saulo Ribeiro uma peça que refletisse sobre a liberdade pelos olhos de um pianista privado da sua e, assim, de sua arte e do seu piano. Na criação do texto, o coautor Saulo Ribeiro se baseou em acontecimentos reais dos quais teve conhecimento e vivência na época em que foi professor no sistema prisional.
Foi Ribeiro quem levou Vinícius aos presídios do Espírito Santo para se apresentar. Nessa busca de encontrar o público onde quer que esteja, a peça foi apresentada em presídios de seguros, de segurança média, femininos e de reabilitação. Depois das apresentações, desse encontro do artista e sua peça com esse público em situação limite, o ator quis expressar e investigar a liberdade.
Sua busca, que a princípio era simplesmente realizar a peça nesse contexto, por julgar o teatro uma arte de humanização, passou a ser investigar artisticamente essa questão. Para isso, contou com Ribeiro, historiador, escritor, advogado e ex-professor no sistema prisional. O processo de escrita da peça foi feita a quatro mãos.
O pianista Manuel Pessoa também foi uma figura decisiva nessa construção, sendo responsável pela criação musical que permeia toda a peça. A relação do ator com a trilha sonora e? muito intensa, já? que a música entra como um fator decisivo na estética de impacto. O fato de o preso ser pianista intensifica mais ainda a presença da música, que passeia em diferentes intensidades em consonância com os momentos vividos pelo preso.
Sobre o artista
Vinícius Piedade participou do Projeto Solos do Brasil, aprofundando estudo sobre técnicas de teatro solo. Estudou direção teatral com Antônio Abujamra e Gianni Ratto, mímica com Luís Louis, dança com Hugo Rodas, texto corporal com Eduardo Coutinho, filosofia e estética com Luís Fuganti, canto com Caio Ferraz, teatro essencial com Denise Stoklos, teatro dinâmico e máscara neutra com Ricardo Napoleão, teatro do oprimido com Armindo Rodrigues Pinto e interpretação com Telma Vieira.
Escreveu, dirigiu e atua no espetáculo solo Carta de um Pirata, que percorreu todo país desde 2003, com mais de 400 apresentações. É autor do livro de contos Trabalhadores de Domingo, publicado em 2003, e de Essas moças que me causam Vertigens, de 2007. É autor e diretor do espetáculo Dias de Anestesia, que fez temporada no ano de 2006 em São Paulo. Dirigiu e atua no espetáculo Indizível, com texto em coautoria com Aline Yasmin e direção musical de Manuel Pessoa de Lima, estreado em 2008 e que continua em repertório.
Escreveu, dirigiu e atua no espetáculo Identidade (…), que estreou no SESC Consolação em São Paulo-SP no mês de março de 2012 e que continua em repertório. Em 2013, estreou o espetáculo 4 Estações, com seu texto e direção e atuação com Gabriela Veiga. Em 2015, estreou o espetáculo Ninguém Vai Rir como autor e diretor. Realiza turnês com seus quatro espetáculos solo em repertório que já aconteceu em dez países de cinco continentes.
SOBRE O CCBB
Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra 30 anos de atuação com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o CCBB é um marco da revitalização do centro histórico da cidade e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento. Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundial.
SERVIÇO
Espetáculo CÁRCERE
- De 17 de janeiro a 3 de março
- Centro Cultural Banco do Brasil: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro.
- Telefone: (21) 3808.2020
- De quinta a domingo, às 19h30
- Teatro II
- Capacidade: 153 lugares
- Duração: 75 min
- Ingressos: R$30, a inteira
- Classificação Indicativa: 14 anos
FONTE: