AC RETRÔ : Os heróis inesquecíveis de Hanna-Barbera (PARTE II)

 

 Os heróis inesquecíveis de Hanna-Barbera (Parte II)

Por Jorge Ventura

 

É hora do anel, Nancy! Shazzaaaaan! / Miiiiiightooooor! / Spaaaaace Ghoooost!/ E lá vamos nós! / Hoooomeem-Pássaro! /

 

Eram invocações ou brados que exclamavam a transformação mágica ou, simplesmente, que clamavam a chegada do salvador nos momentos agudos de perigo. Era um tempo de batalhas épicas, seres lendários e aventuras fantásticas.

Eu me refiro à chamada Era Heroica de Hanna-Barbera – período de 1963 a 1969 –, composta de heróis espaciais, pré-históricos, submarinos, mutantes; alguns oriundos de experimentos científicos e até um gênio das mil e uma noites. Deixarei alguns clássicos de Hanna-Barbera para serem destacados em outros artigos e me dedicarei aqui a uma gama específica de sucessos inesquecíveis, como Shazzan, Os Herculoides, O Poderoso Mightor, Moby Dick, Dino Boy, Space Ghost, O Quarteto Fantástico (na primeira dublagem brasileira, traduzido como Os Quatro Fantásticos), Galaxy Trio, Homem-Pássaro, O jovem Sansão, Brasinhas do Espaço, Frankenstein Jr. e Os Impossíveis.  

 

É importante ressaltar que, nesta fase áurea dos estúdios HB, dois nomes foram primordiais para o êxito dos desenhos animados: Alex Toth, o renomado desenhista e animador, responsável pela adaptação em quadrinhos de Zorro, famosa série televisa, produzida pela Disney e estrelada por Guy Williams. A sua parceria com William Hanna e Joseph Barbera valorizou em muito a qualidade da empresa. Seu trabalho incluía o design/desenvolvimento de centenas de personagens, montagem, revisão de provas e efeitos.

Outro nome de peso que deu vida aos desenhos animados de Hanna-Barbera: Hoyt Curtin, o principal diretor musical do estúdio durante muitos anos, foi o responsável por criar a identidade sonora que entraria para a nossa memória afetiva por ser a marca registrada das aventuras animadas.

A trilha sonora desses clássicos era pontuada pela utilização de um acervo de efeitos sonoros e, especialmente, por um tema instrumental que misturava jazz e música clássica. Além de seduzir as crianças da minha geração, a trilha assinada por Hoyt Curtin ditava o ritmo, as cenas de ação, de mistério e de suspense. O talento de Curtin compensava os limitados recursos técnicos em razão da produção em massa e do baixo custo para televisão.

O que prendia também a nossa atenção eram as aberturas da maioria dos desenhos. Textos muito bem elaborados e bem escritos que nos atraíam, porque contavam a origem ou o “como tudo aconteceu” deste e daquele herói. Os roteiros eram criativos, apesar de alguns serem fantasiosos ou inocentes demais para os dias de hoje. Os personagens Tom e Tubb, por exemplo, como podiam vivenciar tantas aventuras, por tanto tempo, submersos no mar? Ninguém explicava como eles reabasteciam os tubos de oxigênio nem como se comunicavam entre si usando aqueles capacetes de mergulhadores.

Havia mais uma curiosidade: saber como era o rosto de Space Ghost sem o capuz (a resposta seria porque ele era um fantasma do espaço?). E por que os seus aliados eram apenas dois irmãos gêmeos, Jan e Jace, e um macaquinho chamado Blip? Outro exemplo, como o dragão Tog, parceiro de Tor, não era reconhecido quando se transformava no dragão alado que soltava fogo, parceiro do poderoso Mightor, se as únicas diferenças eram as asas e a labareda?

Em compensação, aprendíamos muito com os textos de abertura. Palavras e expressões de ficção científica que enriqueciam nosso vocabulário e que nos despertavam o interesse em ler sobre história geral e ciências. Eu fui saber o que significava uma clava e um eremita assistindo a Mightor. Campos de força e de invisibilidade, eu ouvi pela primeira vez assistindo a Space Ghost.

A dupla Hanna-Barbera supervisionava grande parte das produções do estúdio, desde a criação dos personagens, a elaboração dos designs, o desenvolvimento dos roteiros iniciais até a equipe musical. Apesar de contarem com os roteiristas Joe Ruby e Ken Spears, além do ilustrador Iwao Takamoto, a assinatura HB estabelecia o tom e o estilo que caracterizaram a época áurea da animação para a TV.

Vamos recordar algumas aberturas em que o locutor dizia:

Em algum lugar do espaço vivem os Herculoides! Zok, o dragão alado! Igoo, o gigante de pedra! Tundro, o tremendo! Gloop e Gleep, capazes de adquirirem múltiplas formas! Com Zandor, sua mulher Tara e seu filho Dorno, juntos, lutam para defender seu planeta dos invasores! Numa distribuição da CBS…Os Herculoides! Versão brasileira… Cinecastro! Todos fortes! Todos valentes! Todos heróis! Os Herculoides!

Essa abertura era narrada pela voz imponente de Domício Costa, uma das vozes icônicas da dublagem brasileira.

Spaaaace Ghoooost! O herói fantasma do espaço! Distribuição da CBS Filmes do Brasil! Versão brasileira: AIC São Paulo! Spaaaace Ghoooost! (a voz imperiosa do soturno protagonista, na dublagem brasileira, era de Arakén Saldanha).

Durante uma caçada, Tor e seu fiel companheiro Tog salvam um velho eremita. Em agradecimento, o velho dá a Tor uma clava que possui grandes poderes. Tor levanta a clava e transforma-se no poderoso Mightor! Assim como Tog, num dragão que lança fogo. Juntos, eles se tornam defensores dos fracos e dos inocentes. O poderoso Mightor!

A voz máscula do nosso herói do povo das cavernas era também do grande dublador Domício Costa.

Alex Toth, em parceria com Hanna-Barbera, costumava recriar personagens famosos ou se inspirar em clássicos da literatura universal, como o caso de Frankenstein, de Mary Shelley; de Moby Dick, de Herman Melville; e da coletânea árabe de contos As Mil e Uma Noites.

Continuemos, então, a recordar os textos de abertura:

Um tufão inesperado leva Tom e Tubb mar adentro, a muitas milhas da costa. Agora, encontram-se em águas perigosas, cercados por enormes tubarões. Quando tudo parece perdido, os dois são salvos pela gigantesca baleia branca Moby Dick! Tom e Tubb, assim, encontram um novo amigo, que os protegerá e com o qual enfrentarão os perigos do mundo submarino.

O narrador desta abertura era o grande dublador Milton Rangel, que fez a voz de Zandor, de Os Herculoides, e também a apresentação do desenho Shazzan, comentado abaixo.

Mais uma nota do autor: a palavra “tufão” eu aprendi assistindo a Moby Dick.

No interior de uma caverna, nas costas do Maine, Chuck e Nancy encontram um cofre misterioso contendo as duas metades de um anel. Quando os anéis se juntam, formam a palavra Shazzan! A este comando mágico, eles são transportados ao mundo encantado da Arábia, das mil e uma noites! Aqui, encontram seu gênio Shazzan. Shazzan lhes dá de presente, Kaboobie, um camelo alado mágico. Shazzan os servirá todas as vezes que o chamarem. Mas não poderão voltar para casa até que entreguem o anel ao seu legítimo dono. E assim começam suas viagens fantásticas!

No elenco brasileiro, estavam Darcy Pedrosa (1ª voz) e Jefferson Duarte (2ª voz) como o gênio Shazzan; Luiz Manoel (1ª voz) e Rodney Gomes (2ª voz) como Chuck; e Ruth Schelske na voz de Nancy. O trabalho exemplar da Cinecastro manteve o encanto dessa animação, fazendo com que essas vozes expressivas conquistassem um espaço especial em nossa memória.

Quem é da minha geração sabe que, nessa época, havia a “dobradinha” quanto ao formato de apresentação da maioria dos desenhos HB nos anos 1960/1970. Era comum a exibição sequencial de dois episódios do Homem-Pássaro e um do Galaxy Trio; de dois episódios de Space Ghost e um do Dino Boy; de dois episódios do Poderoso Mightor e um da baleia branca Moby Dick; de dois episódios de Os Impossíveis e um de Frankenstein Jr.; de dois episódios de O jovem Sansão e um de Brasinhas do Espaço – com exceção de Os Herculoides e Shazzan, cuja exibição era no formato de dois episódios solo e consecutivos. Essa estratégia era uma forma de variar a programação infantil e de oferecer uma dose dupla de entretenimento.

Para encerrar o artigo de hoje, vale a pena comentar sobre a banda de rock, formada por três cantores/músicos, dinâmicos e divertidos, que se transformavam em super-heróis: Os Impossíveis! Como sempre valorizou as trilhas sonoras, a Hanna-Barbera resolveu criar este trio para que atrair crianças e jovens. Tratava-se de uma sátira aos astros pop. O desenho exibia aventuras de realismo fantástico, repleto de vilões insólitos e surrealistas. Os Impossíveis era o homônimo da banda musical, e o seu veículo de combate era, nada mais, nada menos, que o palco de espetáculos metamorfoseado. Suas aventuras sempre começavam com um show de rock, diante de uma plateia de fãs histéricas, que acenavam para os seus ídolos. Coil, o Homem-Mola (baixinho e gordinho), o líder da banda, como o próprio nome diz, era capaz de transformar os braços e as pernas em molas; Multi-Homem (alto, magro e bem cabeludo) multiplicava-se em vários modelos de si mesmo; e Homem-Fluido (também cabeludo, de estatura mediana, usava uma máscara de mergulho) tinha o poder de transformar-se em líquido. Tudo pela pura e maravilhosa imaginação! O narrador (cujo dublador era Ibrahim Barchini) clamava ao final do caso resolvido: Eles são impossíveis! Impossíveis! 

 

Que tal voltar um pouco mais nesse túnel do tempo? Confira os vídeos abaixo de algumas dessas animações!

 

SHAZZAN

 

OS HERCULOIDES

 

MOBY DICK

 

O PODEROSO MIGHTOR

 

OS IMPOSSÍVEIS e FRANKENSTEIN JUNIOR

 

Ah, tempos bons! Quem se lembra?

 

*  Todas as imagens (fotos e vídeos) respeitam os seus respectivos direitos autorais e são utilizados aqui apenas para efeito de pesquisa e resenha jornalística.

 

SOBRE JORGE VENTURA

Jorge Ventura é escritor, roteirista, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem 13 livros publicados e participa de dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. É presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), titular do Pen Clube do Brasil, membro da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, como autor e intérprete. Tem poemas vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego. É também sócio-proprietário da Ventura Editora, CQI Editora e da Editora Iniciatta. Jorge é colunista do ArteCult, responsável pelo AC RETRÔ.
E, agora vocês já sabem… Uma das maiores referências no Brasil sobre o universo Batman.

Instagram @jorgeventura4758

SOBRE O AC RETRÔ

Prepare-se para embarcar em uma viagem no tempo! O AC RETRÔ é um espaço dedicado à nostalgia, à memorabilia, ao colecionismo, relembrando também aquelas propagandas icônicas da TV, telenovelas, anúncios inesquecíveis das revistas e jornais, programas que marcaram época e filmes que nos transportam diretamente para tempos dourados! ️

Aqui, cada post será um convite para reviver memórias, despertar emoções e compartilhar as lembranças que moldaram gerações.

Se você sente saudade de jingles que não saíam da cabeça, comerciais que viraram clássicos, seriados que marcaram a infância ou até mesmo daquele filme que você alugava na videolocadora todo fim de semana, então o AC RETRÔ será o seu novo ponto de encontro. Afinal, recordar é mais do que viver: é reconectar-se com o que nos fez sorrir, sonhar e se emocionar. Fique ligado, porque essa viagem ao passado JÁ COMEÇOU! ✨

 

Author

Jorge Ventura é escritor, roteirista, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem 13 livros publicados e participa de dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. É presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), titular do Pen Clube do Brasil, membro da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, como autor e intérprete. Tem poemas vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego. É também sócio-proprietário da Ventura Editora, CQI Editora e da Editora Iniciatta. Jorge é colunista do ArteCult, responsável pelo AC RETRÔ. E, agora vocês já sabem... Uma das maiores referências no Brasil sobre o universo Batman. Instagram @jorgeventura4758

6 comments

  • Querido Jorge,

    é impossível não viajar para a infância da nossa geração lendo sua coluna. Como tenho saudades dos personagens criados por Hanna-Barbera e suas histórias incríveis e mágicas. Eu gostava de todos, mas havia sempre aqueles que nos encantavam um pouco mais. Shazzan era um deles. Devo ter até sonhado com aquele gênio tão bacana e fofo!

    Sua coluna é um presente. Obrigada por trazer de volta nossos melhores sonhos de criança, querido! 🙂

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    • Minha querida Chris, muito grato pela leitura! Se você consegue viajar no tempo, minha coluna cumpre o seu papel! Fomos felizes na infância e temos, certamente, muita história pra contar. Shazzan!!!

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  • Vejo essa coluna agregando conhecimento, porque reconecta histórias até de quem nao as viveu, revela contextos, recupera referências e mostra que nada nasce do nada , tudo tem raiz, percurso e ecos. Ao revisitar o passado com olhar crítico e afetuso, a coluna retrô ilumina o hoje e ensina o amanhã. Obrigada pelas informações, sempre aprendo um pouquinho mais.

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    • Minha querida Val, agradeço-lhe a leitura sensível. Sinto-me orgulhoso por provocar esta curiosidade e transmitir algum ensinamento. Beijo carinhoso!

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    • Minha querida Laura, fico contente por ter proporcionado a você esta deliciosa viagem no tempo. Beijo carinhoso!

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