LAURA – Espetáculo de Fabrício Moser celebra 10 anos de estréia

Imagem: divulgação

De 6 a 28 de novembro de 2025, a Fundação Nacional de Artes (Funarte) apresenta, na Sala Murilo Miranda do Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio de Janeiro, a temporada comemorativa de “Laura”, solo concebido, criado e interpretado por Fabrício Moser (@briciomoser).

 

O espetáculo “Laura“, que completa uma década desde sua estreia, retorna à cena reafirmando seu caráter intimista e sua relevância artística, ao transformar uma experiência biográfica em dramaturgia contemporânea. A obra estabelece um diálogo profundo entre memória, ancestralidade, silêncio e presença, propondo um encontro sensível entre artista e público a partir de uma história real marcada por violência e apagamento histórico.

Laura” foi concebida a partir de uma experiência íntima e dolorosa: a morte trágica da avó materna, assassinada em 1982, em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. O trauma coletivo que cercou o acontecimento, marcado pelo silêncio familiar, afastou sua figura do convívio e interditou a transmissão de sua história. Décadas depois, Fabrício iniciou um processo artístico de reconstrução e escuta, buscando compreender quem foi essa mulher e qual a herança simbólica de sua existência interrompida.

A dramaturgia nasce de um extenso trabalho de pesquisa que envolveu entrevistas com familiares e conhecidos, visitas a lugares que fizeram parte da vida de Laura, além do levantamento de fotografias, documentos e objetos pessoais — incluindo o inquérito policial e recortes de jornais da época. Esses materiais, combinados a elementos simbólicos como a moldura de uma fotografia transformada em espelho, cartas, rosas e sons, são incorporados à cena como dispositivos dramatúrgicos e performativos.

O solo articula diferentes linguagens — teatro, performance, artes visuais, vídeo, narrativa e dança — para compor uma tessitura poética não linear. Em vez de seguir uma biografia tradicional, a obra instaura um campo de escuta e invenção, no qual o ator se coloca como mediador entre uma história silenciada e o público. A cena torna-se, assim, uma travessia pessoal e coletiva, um espaço de invenção e reencontro com a memória.

Foto Sergio Fonseca

A construção dramatúrgica reflete sobre a relação entre memória pessoal e história coletiva, sobre como as marcas do passado se inscrevem nos corpos e podem ser ressignificadas em cena. Parte da ideia de que a arte permite ao espectador mergulhar no significado mais profundo dos fenômenos representados, valorizando as associações poéticas em lugar de uma narrativa linear e rígida. Em cena, Moser aciona lembranças, vestígios, arquivos e afetos para reconstruir — e ao mesmo tempo inventar — a presença de Laura. O público é convidado a participar dessa jornada, ativando seus próprios repertórios de memória e experiência.

A dramaturgia do espetáculo se ancora também na reflexão sobre os modos como a memória é guardada, transformada e transmitida. A peça se insere em uma linhagem de experiências cênicas que utilizam materiais autobiográficos como eixo poético, revelando o corpo do intérprete como um espaço de escuta e de inscrição de histórias. Além disso, adota uma lógica associativa e imagética que privilegia atmosferas, objetos e fragmentos — permitindo ao espectador atravessar o espetáculo de maneira sensorial e reflexiva.

Essa travessia pessoal do artista — em busca da história de sua avó — espelha um percurso de autoconhecimento: para compreender a si mesmo, ele precisa conhecer Laura; para restituir uma voz silenciada, precisa revisitar a própria história. O espetáculo, assim, transforma a dor herdada em presença, a ausência em gesto e a memória em acontecimento compartilhado.

“Laura” estreou em agosto de 2015 no Teatro Parque das Ruínas — hoje Teatro Ruth de Souza — e realizou temporadas em importantes espaços culturais, como o Teatro Sérgio Porto (2016). A obra circulou por diferentes cidades e instituições culturais no Brasil, como SP Escola de Teatro (SP), Teatro Espanca! (BH), Teatral Grupo de Risco (MS) e SESC São Caetano (SP). Em 2018, realizou apresentações internacionais nas cidades do Porto e de Lisboa, em Portugal. Nesta nova etapa comemorativa, a circulação tem início em San Juan, Argentina, no dia 31 de outubro de 2025, dentro da programação do XII Congresso Argentino Internacional de Teatro Comparado, e seguirá, após a temporada no Rio, para Mato Grosso do Sul, Uruguai e Paraguai.

Assista a entrevista completa em @showtimepost

A recepção crítica destacou a densidade poética e a força emocional da obra. Cassiana Lima Cardoso escreveu na revista Questão de Crítica que

“mais importante do que narrar uma história individual, ‘Laura’ convida o público a mergulhar em suas próprias histórias familiares, oferecendo um nobre convite ao enfrentamento da memória pessoal e coletiva”.

Gilberto Bartolo afirmou tratar-se de

“um espetáculo de delicadeza, contundência e presença rara”, enquanto Gabriel Moraes destacou que “Fabrício transforma dor íntima em potência cênica”.

Sinopse

Inspirado na história real da avó materna do artista, assassinada em 1982, “Laura” investiga os rastros deixados por uma vida interrompida de forma brutal e silenciada no seio familiar. A partir de depoimentos, documentos, imagens, objetos, vídeos e sons, Fabrício Moser reconstrói fragmentos dessa história, atravessando memórias íntimas e coletivas.

Em cena, o artista evoca a figura de sua avó — Laura — não para construir uma biografia linear, mas para abrir um espaço de escuta e invenção, onde lembranças e silêncios ganham corpo e voz. O espetáculo, de forte dimensão poética e afetiva, transforma uma ausência em presença, uma tragédia em encontro e uma história silenciada em ato compartilhado.

 

Programação das Rodas de Conversa

Como parte fundamental da proposta desta temporada comemorativa, às quintas-feiras serão realizadas rodas de conversa com convidadas e convidados de diferentes áreas, imediatamente após as sessões. As rodas terão formato aberto e serão mediadas por Fabrício Moser, ampliando o diálogo com o público e fomentando reflexões sobre memória, violência de gênero, ancestralidade, criação e processos autobiográficos.

Programação:

  • 06/11 – Ana Paula Brasil e Nathália Mello
  • 13/11 – Gabriela Lírio e Gabriel Morais
  • 20/11 – Cadu Cinelli e Cassiana Lima Cardoso
  • 27/11 – Francisco Taunay e Rafael Cal

 

Sobre o artista

FABRICIO MOSER é ator, diretor, professor e pesquisador. Doutor em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (2025), mestre pela UNIRIO (2011) e bacharel pela UFSM (2006). Vive no Rio de Janeiro desde 2009, com ampla atuação artística e acadêmica, especialmente no campo do teatro autobiográfico, documental e acessível.

Com os solos Laura (2015) e Aquilo que acontece entre Nascer e Morrer (2019), além do duo Sobre Desvios (2012), circulou por diversas cidades do Brasil e do exterior — incluindo Argentina, Uruguai, Portugal e Espanha — e teve seus trabalhos analisados em publicações acadêmicas e revistas especializadas, como Questão de Crítica, Pós (UFMG) e Sala Preta (USP).

Fabrício atua ainda como docente em programas de pós-graduação no Brasil e no exterior, coordena cursos na área de artes aplicadas à saúde e à educação, e desenvolve pesquisas sobre teatro, neurodiversidade, processos criativos e acessibilidade. Sua trajetória também inclui participação em festivais, júris, programas de fomento e atividades de formação em diversas instituições culturais nacionais e internacionais.

“Laura” é uma obra sobre presença e ausência, sobre aquilo que permanece mesmo quando o tempo silencia. Uma investigação poética e documental que transforma uma história familiar em ato de escuta coletiva. Ao completar dez anos, a peça reafirma sua atualidade e sua potência em tempos em que a arte se faz necessária como instrumento de memória, resistência e reconstrução simbólica.

Ficha técnica

  • Criação, atuação e produção: Fabrício Moser
  • Colaboração artística: Ana Paula Brasil, Cadu Cinelli, Gabriela Lírio, Francisco Taunay, Nathália Mello e Rafael Cal
  • Assistente de produção: Marcus Liberato
  • Formação de plateia: Fabrício Moser e Patrícia Lopes
  • Assessoria de imprensa: Júlio Luz
  • Programação visual original: Bruno Morais
  • Programação visual atualizada: Rodrigo Menezes
  • Apoio: Fundação Nacional de Artes (Funarte) – Programa Funarte Aberta

 

SERVIÇO

  • Espetáculo: Laura
  • Criação e atuação: Fabrício Moser
  • Temporada: 6 a 28 de novembro de 2025
  • Dias e horários: quintas e sextas, às 19h30
  • Local: Sala Murilo Miranda – Teatro Glauce Rocha (Av. Rio Branco, 179, Centro – Rio de Janeiro, em frente ao Metrô Carioca)
  • Ingressos: R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia-entrada)
  • Venda: pelo Sympla (link) e na bilheteria
  • Duração: 1h
  • Capacidade: 60 lugares
  • Classificação indicativa: 14 anos

 


Floriano Salvaterra

 

 

 

 

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Author

Floriano Salvaterra, engenheiro eletrônico pelo ITA, MBA em gestão de projetos pela FGV, mestrado em sistemas de gestão pela UFF, doutorando em engenharia biomédica pela UFRJ, PMP pelo Project Management Institute. É consultor, palestrante e professor de cursos de gerenciamento de projetos, de gestão empresarial, de business intelligence, business analytics nas instituições FGV e ESPM. Possui mais de 20 anos de experiência em gerenciamento de projetos e contratos nas indústrias Automobilística, de Defesa, de Óleo & Gás, além de projetos nas áreas esportiva e médica, dentre os quais destacaram-se: Projeto SIVAM, Plataformas P51, P56 e Replicantes da Petrobras e, ainda, a Petroquímica Braskem, Beach Soccer do Clube de Regatas do Flamengo e escritório de projetos do INCA. Contatos: floriano@engha.com.br

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