Contos que eu desconhecia

Os Griôs. Foto: Divulgação

 

Só nesta semana apresento três montagens infantis em diferentes territórios da cidade. E isso é ótimo. Quanto mais educação, melhor. O teatro corrobora com o que a sociedade necessita com urgência.

O Governo Federal, o Ministério da Cultura, o Governo do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Política Nacional Aldir Blanc, apresentam o espetáculo musical infantojuvenil “Os Griôs”.

Sinopse
Na montagem, os artistas cantam e contam histórias sobre os Impérios Africanos, a origem dos Griôs e a força das tradições orais, com 80% das músicas autorais, como: Ciranda dos Griôs da Alegria, de Loly Nunes e Henrique Silva; Anansi – o Homem-Aranha; O Império do Mali; Tia Ciata e Dom Obá, com letras de Loly Nunes e música de Célio Maia, entre tantas outras.

As histórias narradas e cantadas no musical incluem Os Contos de Ananse – o Homem-Aranha, que aborda a origem dos Griôs, e O Épico de Sundiata Keita e o Império do Mali. Nascido com uma deficiência que o impedia de andar, Sundiata Keita superou suas limitações, unificou os reinos fragmentados da região e fundou o imenso Império do Mali.

O enredo ressalta ainda a rica contribuição dos africanos para a construção da cultura brasileira, assim como o surgimento da capoeira, do samba e do carnaval. O espetáculo começa nos antigos Impérios da África Ocidental, na região do Sahel, e termina na Pequena África, situada na extinta Praça Onze, no Rio de Janeiro.

Confesso que desconhecia esses contos, mas Branca de Neve eu já conhecia, assim como muitas outras histórias europeias, como Chapeuzinho Vermelho.

O meu estranhamento surge ao refletir sobre a miscigenação do meu país. Se os negros fazem parte dessa nação, por que os contos africanos permaneceram tanto tempo encobertos? Enfim, vale que estejam sendo redescobertos. Os véus estão caindo, e começamos a descortinar histórias que falam mais sobre nós do que A Bela Adormecida — e olha que adoro as fadinhas…

Os contos são apresentados de forma divertida por Ricardo Lopes e Hugo Germano, dois artistas de alta performance teatral. Hugo dá vida aos personagens com diferentes vozes e expressões faciais engraçadas, chegando a encarnar Ananse em um dos contos. Ele é uma figura da religião e do folclore Akan, associado a histórias, sabedoria, conhecimento e trapaças, sendo geralmente retratado como uma aranha. Já Ricardo Lopes nos presenteia com múltiplos personagens, característica marcante de seu talento como ator.

Os figurinos de Marcus Arruzzo chamam a atenção e rapidamente despertam admiração, pela delicadeza e cuidado em cada detalhe.

Confesso que fiquei um pouco perdida com os nomes das cidades e dos personagens, porque não temos acesso frequente a eles, não estamos habituados. Isso, claro, não é à toa: durante muito tempo, quanto menos negro, melhor — era o que se dizia. Mas os tempos mudaram, e é fundamental que nos adaptemos à nova geração. Já é lei o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas, e nada mais justo. Convenhamos: a festa do samba, por exemplo, foi aceita pelos classistas, mas a contribuição do povo negro vai muito além. O que eles têm a oferecer é mais profundo do que podemos imaginar.

O continente africano, berço de tecnologias ancestrais, também é palco de inovações modernas. A robô Omeife, o carro elétrico que não precisa ser carregado, os veículos autônomos e a van de entregas robótica são exemplos da criatividade e do potencial inovador do continente.

E então, será que não precisamos investir em levar contos africanos para as crianças? Fala-se sobre capoeira e samba porque somos exatamente isso.

O espetáculo infantil fala com as crianças com leveza e simpatia. Sigamos!

 

Ficha técnica

  • Roteiro e direção: Loly Nunes
  • Figurino e cenário: Marcos Arruzzo
  • Adereços: Márcia Marques
  • Coreografias: Arthur Rosas
  • Direção Musical: Célio Maia
  • Iluminação: Djalma Amaral
  • Produção Executiva: Suelem Santos
  • Atores: Ricardo Lopes | Hugo Germano
  • Dançarino: Éder Martins de Souza
  • Músicos: Flávia Enne | Taty Aleixo | Natan Garcia | Eurico Nascimento
  • Assessoria de imprensa: Alessandra Costa

 

SERVIÇO

Os Griôs

  • De 09 a 31 de agosto – sábados e domingos, às 16 horas
  • Teatro Glaucio Gil – Pç. Cardeal Arcoverde, s/n, Copacabana, Rio de Janeiro
  • Lotação: 100 lugares
  • Duração: 60 minutos
  • Classificação: Livre – indicado a partir dos 06 anos
  • Entrada: R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia)

 

Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

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Author

Dramaturga, com textos contemplados em editais do governo do estado do Rio de Janeiro, Teatro Prudential e literatura no Sesi Firjan/RJ. Autora do texto Maria Bonita e a Peleja com o Sol apresentado na Funarj e Luz e Fogo, no edital da prefeitura para o projeto Paixão de Ler. Contemplada no edital de literatura Sesi Fiesp/Avenida Paulista, onde conta a História de Maria Felipa par Crianças em 2024. Curadora e idealizadora da Exposição Radio Negro em 2022 no MIS - Museu de Imagem e Som, duas passagens pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com montagem teatral e de dança. Contemplada com o projeto "A Menina Dança" para o público infantil para o SESC e Funarte (Retomada Cultural/2024). Formadora de plateia e incentivadora cultural da cidade.

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