
Semana Santa 2024 | Guatemala.com
Culturas, Identidades e Escolhas: um rasante nas existências humanas
através de algumas de suas festas e tradições – parte 6
Culturas e festas culturais na América (dita) Latina:
Colômbia, México, Guatemala, Peru e Cuba
Respeite até mesmo as pessoas que não merecem.
Não como reflexo do caráter delas, mas como reflexo do seu.
Bob Marley (1945-1981), cantor e compositor Jamaicano
Festas são momentos de congratulações, regozijos e fortalecimento de laços afetivos e culturais entre pessoas e grupos sociais, de algum modo, podemos dizer, também, entre regiões geográficas. Por que falamos em América Anglo-Saxônica e em América Latina, dividida, basicamente (com exceção do México, que é situado, politicamente, na América do Norte, mas que é um país latino), entre Central e do Sul? As denominações “Central” e “do Sul” são eminentemente, formas geográficas de localização física de porções do planeta Terra – onde habitamos. Porém, Geografia é uma palavra que, decomposta em sua origem filológica, quer dizer não apenas “descrição da Terra”, mas também, em interpretação alternativa e complementar, “marcação da Terra”. Nós descrevemos nossos Espaços Geográficos ao elaborarmos um mapa. Contudo, por mais preciso que seja, essa Carta Geográfica ou Mapa não pode mostrar como vivem as sociedades, apenas onde vivem, além de mostrar algumas informações estatísticas sobre o lugar representado, bi ou tridimensionalmente. Para termos esta compreensão, há que nos apropriarmos, para além da Dimensão Geométrica do lugar representado, o mapa, das Dimensão Existencial (que envolve questão políticas, econômicas, religiosas, culturais…). América Latina é assim denominada porque, a partir das Grandes Navegações, foi colonizada, majoritariamente, por Portugueses e Espanhóis, grupamentos étnicos de origem latina, ou seja, que se forjaram, como povos, a partir de línguas originadas do Latim, além do Grego. São exemplos deste tronco linguístico, o Castelhano ou Espanhol, o Português e o Francês (alguns colonizadores locais também foram franceses), dentre outros. Aliás, o próprio nome “América” é uma referência ao geógrafo e navegador florentino (italiano) Américo Vespúcio (1454-1512), que foi um dos pioneiros na colonização das terras, a partir de então, conhecida por “América”. Vamos conhecer, deste modo, um pouco da cultura (dita) latino americana?
Colômbia

Carnaval de Barranquilla – Colômbia – 2024 | all accor com
Muito preconceito e má informação vige por aí, no senso comum, na imprensa corporativa… quando, ainda uma boa quantidade de pessoas, lê ou ouve “Colômbia”, pensam em selva, cocaína e pobreza. Não que essas coisas não existam por lá, de resto, no mundo todo, mas este país que, imagino, porque nunca fui lá, parece ser fascinante, é, como o Brasil, muito mais do que os estereótipos podem nos levar a crer que sejam. O país também foi palco da atuação de um grupo guerrilheiro ex-marxista-leninista chamado Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), desde o início dos anos 1960, e desde 2016, a maior parte deste grupo abdicou da luta armada e se institucionalizou, tornando-se um partido político oficial. Vejamos um pouco deste país amazônico, sob o prisma de algumas das muitas festas de sua gente. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foram um grupo guerrilheiro marxista-leninista que surgiu na Colômbia na década de 1960. Inicialmente, suas ações visavam a reforma agrária e a implementação de um governo socialista. Após décadas de conflito armado, as FARC assinaram um acordo de paz com o governo colombiano em 2016, desmobilizando-se e transformando-se em um partido político legal.
1 – Carnaval de Brancos e Negros – é um festejo nacional, sendo o mais famoso deles o que é realizado na cidade de Pasto, na província de Nariño, entre os dias 2 e 7 de janeiro. A festa, reconhecida pela Unesco (Organização da ONU para a ciência, educação e cultura) como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, é um misto de influências culturais de indígenas e africanas.
2 – Feira de Manizales – evento criado pelos cafeicultores, que acontece entre 5 e 14 de janeiro e tem numa cavalgada, desfiles de boiadeiros, junto com carros alegóricos, seu ápice, além de muitos shows de artistas locais.
3 – Carnaval de Barranquilla – acontece entre 10 e 13 de fevereiro, especialmente na cidade que empresta o nome ao festejo; é tido como o segundo maior carnaval do planeta, quando há eventos como a Batalha das Flores e o Grande Desfile de Comparações.
4 – Festival Internacional de Cinema de Cartagena de Índias – acontece de 16 a 21 de abril na cidade que também confere nome, ao festival, com mostras de filmes colombianos e latino-americanos, basicamente.
5 – Festival da Lenda Vallenata – acontece na província de Valledupar, de 26 a 30 de abril, sendo, basicamente, uma competição de acordeonistas; há, também, muitas contações de histórias folclóricas.
6 – Festival Ibero-americano de Teatro – acontece durante todo mês de abril na cidade de Bogotá, capital do país.
7 – Feira das Flores – acontece durante todo mês de agosto, na cidade de Medellín; consiste, no ponto alto, de um desfile de cavalheiros, exposições de flores e artesanatos locais, além de concertos musicais.
8 – Festival do Vento e Pipas (Villa de Leyva, Boyacá) – acontece em agosto, na cidade colonial de Villa de Leyya, na Província ou, como chamam na Colômbia, Departamento (equivale aos nossos Estados) de Boyacá; são vistas muitas pipas coloridas no céu e música, com comidas locais.
9 – Festival da Lenda do El Dorado (Guatavita, Cundinamarca) – acontece em dezembro, na cidade de Guatavita, no Departamento de Cundinamarca; a base é a comemoração da “história da cerimônia da lagoa sagrada”, com encenações e contações de histórias.
10 – Feira de Cali (Valle del Cauca) – acontece entre 25 e 30 de dezembro, na cidade de Valle del Cauca, com apresentações musicais e competições de dança.
Sítios consultados
- https://www.daytours4u.com/pt/travel-guide/10-festividades-imperdiveis-na-colombia-que-voce-deve-experimentar-pelo-menos-uma-vez-na-vida?srsltid=AfmBOorcsHgM4g2IZTRhCfM9uMpMBaq3HDoBUTLWXsUGMJjtoj-j5JIf
- https://www.tripadvisor.com.br/Attractions-g294073-Activities-c62-Colombia.html
- https://colombia.travel/pt/blog/revista-colombia-co/outras-feiras-e-festas-da-col%C3%B4mbia
Cuba

Havana Jazz Festival | Owlsong Productions – 2019
Esta ilha caribenha, colonizada pelos espanhóis e que ganhou sua independência apenas no início do século XX, mais precisamente em 1902, após a derrota dos colonizadores no processo Histórico que ficou conhecido como “Guerra Hispano-Americana”, iniciada em 1898, já foi um paraíso fiscal para parte da classe rica norte americana, que dela desfrutava apenas para fins de enriquecimento, com bem poucos benefícios para o desenvolvimento econômico e social dos cubanos. Acontece que as primeiras décadas do referido século XX também foi um período agitado por algumas revoluções de cunho socialista pelo mundo, como a Soviética, em 1917. Em 1959, liderados pelo advogado cubano Fidel Alejandro Castro Ruz (1916-2016), pelo médico argentino Ernesto “Che” Guevara de la Serna (1928-1967), morto em outra ação revolucionária, na Bolívia, e outros líderes, como Camilo Cienfuegos (1932-1959), este último, desaparecido em misterioso acidente de avião, os cubanos expulsaram os norte americanos e declararam a Ilha de Cuba livre, tornando-se, pouco tempo após a derrubada do militar e ditador Fulgêncio Batista Zaldívar (1901-1973), apoiado pelos norte-americanos, um país comunista. Até hoje passando por um cruel e anacrônico bloqueio econômico, os cubanos são reconhecidos, especialmente, por sua força nas áreas da saúde, da educação e dos esportes, mas também, por se um povo muito festeiro. Vejamos algumas poucas, dentre suas muitas comemorações culturais.
1 – Havana Jazz Festival – evento de renome internacional, realizado em dezembro, atrai importantes nomes do jazz nacional e internacional. As apresentações acontecem na Casa de la Cultura Plaza, no Teatro Nacional de Cuba, na cidade de Havana, capital cubana, e em outros locais da cidade.
2 – Festival del Habano – os charutos cubanos são mundialmente conhecidos e este é o festival deles, que acontece na última semana de fevereiro, notadamente na capital, Havana. As marcas mais apreciadas são o Cohiba, o Montecristo, o Partagas, o Romeo y Julieta, o H.Upmann e o Robaina, mas existem outros muitos. Em processo similar às visitações que conhecemos no Brasil, de visitação às vinículas, plantações de tabaco e fábricas de charutos são o forte desta comemoração, além de haver seminários sobre o tema e demonstrações de enrolamento de charutos e degustações gastronômicas e de bebidas como o Rum.
3 – Festival de la Trova Pepe Sanchez – acontece em Santiago de Cuba. Iniciado em 1962, já em plena revolução, foi um festejo batizado em homenagem a Jose ‘Pepe’ Sanchez (1856-1918), popular compositor cubano, falecido em 1918. O evento culmina em 19 de março, conhecido como Dia do Trovador.
4 – Carnaval Cubano – acontece no final de julho, em todo país, mas especial em Havana e em Santiago. Depois do carnaval brasileiro e colombiano, talvez seja o maior e mais festivo evento deste tipo de festa popular na América Latina. A festa afro-cubana homenageia “el son”, a tradicional música cubana e principal gênero do famoso Buena Vista Social Club. Há, por exemplo, desfiles de Conga ou Tumbadora (tambor semelhante ao “atabaque” brasileiro, usado sozinho, em par ou em trio).
5 – Festival Internacional de Balé de Havana – organizado pelo Ballet Nacional de Cuba criado em 1960 por Alicia Alonso, Primeira Bailarina de Cuba de então, é um festejo bienal. As principais apresentações acontecem no Gran Teatro, atualmente rebatizado como “Alicia Alonso Gran Teatro de La Habana”, e também no Teatro América.
6 – Bienal de Arte de Havana – realizado, primeiramente, em 1984, é um concurso para artistas que acontecem não apenas em teatros, mas também em museus e praças públicas; há grande mostra de arte contemporânea.
7 – Romerias de Mayo – acontece, como se lê, em maio e é uma festa que, embora tenha o nome de “romaria” (que é uma viagem uma peregrinação rumo a um santuário, para veneração de fiéis), que é um evento religioso, tem caráter basicamente pagão. O festejo se compõe, essencialmente, de uma espécie de peregrinação de artistas e intelectuais, em sua maioria, ao topo de uma colina próxima à cidade de Holguin para celebrarem a arte e a herança cultural diversificada de Cuba.
8 – Cubadisco – festa realizada em maio, celebra a diversidade da música cubana e de danças regionais; o gênero predominante varia anualmente.
9 – Revolução Cubana – o dia 26 de julho é o aniversário do ataque de Fidel Castro ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba, no ano de 1953, um evento muito importante para a revolução cubana, ainda que tenha sido debelado; a data é considerada como o início da vitória de Fidel, Guevara, Cienfuegos e companheiros. Também se comemora, nesta festa, José Julián Martí Pérez (1853-1895), jornalista, tradutor, professor e também revolucionário, muito reverenciado em Cuba.
10 – Matamoros Son Festival – festa realizada em outubro, no país todo, mas basicamente, na cidade de Santiago de Cuba que homenageia Miguel Matamoros, importante compositor da música cubana. O festival oferece diversos concertos e palestras sobre músicas cubanas, além de apresentações e competições de danças tradicionais, como cha-cha-cha, son, salsa, casino, mambo e danzon.
11 – Maratona Marabana – realizada no terceiro domingo de novembro, com 42 quilômetros de extensão, é uma corrida histórica pelas ruas de Havana.
12 – Parrandas de Remedios – festas das mais antigas de Cuba, são realizadas desde 1920, na semana anterior ao Natal. O ápice acontece no dia 24 de dezembro, com desfiles noturnos de carros alegóricos elaborados, foliões fantasiados e fogos de artifício por toda parte.
Sítios consultados
- https://www.vistoparacuba.com.br/artigos/como-e-a-cultura-de-cuba/
- https://rotasdeviagem.com.br/festas-tipicas-e-festivais-de-cuba/
- https://passagemparatodos.com/festivais-e-eventos-em-cuba-calendario-cultural/
Guatemala

Foto: Semana Santa 2024 | Guatemala.com
A Guatemala é um pequeno país, territorialmente falando, da (dita) América Central, colonizada pela Espanha e que é independente desde1821. Como todo país Latino Americano, dede o século XIX, passou por muitas turbulências políticas e sociais, como por exemplo sucessivos regimes autoritários e militares e uma guerra civil que durou de 1960 a 1996! É um país pouco conhecido dos brasileiros, salvo por aqueles que, como este escriba, admira a grandes civilizações antigas, como os Maias, que se espalharam em países como o México e a Guatemala, fronteiriços, tanto que uma das ruínas históricas e arqueológicas mais importantes dos Maias e do mundo, reconhecida como patrimônio mundial, é a cidade de Tikal. Algumas das principais festas populares da Guatemala são: Festival de Barriletes Gigantes de Sumpango; Festival Folclórico de Cobán; Feira de Jocotenango; Festival de Santo Tomás Chichicastenango; Carnaval de Mazatenango; Festival de Antigua Guatemala; Festival del Rey Pescador; Festival del Sombrero Pintado; Festival de San Pedro la Laguna; Feira de San Antonio Aguas Calientes; Festival de la Virgen del Rosario; Festival de la Candelaria; Festival de Santa Cruz Barillas; Festa de Santiago Apóstol; Festival del Cristo Negro de Esquipulas; Feira de Santo Domingo de Guzmán; Festival de San Jerónimo; Feira de la Candelaria; Festival de la Asunción de la Virgen María e Festival de la Inmaculada Concepción.
Vejamos com um pouco de detalhes, alguns desses festejos culturais guatemaltecos.
1 – Semana Santa – é uma das celebrações mais importantes do país, com muitos desfiles alegóricos, tapetes de flores e procissões religiosas em cidades como Antígua e Guatemala City.
2 – Dia de los Muertos – tal como no México, as famílias guatemaltecas homenageiam seus antepassados com altares decorados, comidas tradicionais e visitas aos cemitérios, além de música e orações.
3 – Carnaval de Mazatenango – evento espalhado por toda América Latina, o carnaval guatemalteco é uma festa bem parecida com os demais carnavais, bem parecida com o carnaval brasileiro (música local, dança, desfiles, folia etc.).
4 – Festival de Barriletes Gigantes – comemoração que coincide com “Dia de Todos os Santos”, tem lugar na cidade de Sumpango, com pipas gigantes e coloridas, levantadas ao céu em homenagem aos mortos.
5 – Festival de Santo Tomás – realizado na cidade de Chichicastenango, esta festa é um misto de tradições católicas e indígenas, com danças tradicionais, missas e feiras de artesanato, além de exposições.
6 – Feria de Jocotenango – A Feria de Jocotenango é uma festa popular em Antígua, com desfiles, danças folclóricas e comidas típicas da região.
7 – Festival de la Virgen de la Asunción – O Festival da Virgem da Assunção é uma das festividades mais importantes de Guatemala City, com procissões, missas e eventos culturais.
8 – Feria de Santo Tomás – A Feria de Santo Tomás em Chichicastenango é uma festa tradicional que combina elementos religiosos e folclóricos, com danças, músicas e feiras de artesanato.
9 – Feria de Santiago Atitlán – tradicional na beira do Lago Atitlán, com muitas danças, músicas e comidas típicas da região.
10 – Festival de la Candelaria – é uma celebração religiosa, de origem católica e ocorre em várias cidades da Guatemala, com missas, procissões e danças tradicionais.
11 – Festival de la Raza – celebra a diversidade cultural da Guatemala (na música, na dança, na alimentação, no teatro, nos costumes etc.).
Sítios consultados
- https://eaglesnestatitlan.com/pt/2023/11/25/festivais-da-Guatemala/
- https://maestrovirtuale.com/as-20-festividades-mais-importantes-da-guatemala/#google_vignette
- https://www.britannica.com/place/Guatemala/Daily-life-and-social-customs
México

Dia dos Mortos – Mexico | iatiseguros.pt
O México é, territorialmente, o terceiro maior país da América Latina, perdendo para o Brasil e para a Argentina, embora, em termos de classificação oficial da divisão do continente americano, faça parte da América do Norte, junto com os Estados Unidos e Canadá. Foi em seu território que civilizações pré-colombianas floresceram, como os Olmecas, os Toltecas e os Zapotecas, todos ancestrais da maior e mais famosa dessas civilizações, os Maias. Esses povos co-existiram no que hoje conhecemos por território mexicano. A primeira dessas civilizações foi a dos Olmecas, que deste modo, influenciaram as demais; os Toltecas, contudo, não apenas foram influenciou pelos Olmecas, mas nasceram da decadência deles último. Já os Zapotecas foram mais ou menos contemporâneos dos Maias. Os Astecas também são contemporâneos dos Zapotecas e dos Maias. Os Zapotecas e os Astecas viveram mais centralizados no próprio território mexicano, enquanto os Maias, espalharam-se mais; além do México, também viveram na Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador. Outra diferença importante entre Maias e Astecas, é que esses últimos constituíram-se como um império centralizado; já os Maias, em cidades-estado com bastante independência, mesmo rivalidade, entre si.
A antiga cidade Maia de Tenochtitlán já foi capital do país, até 1521, quando o espanhol Hernán Cortez derrubou o Império Asteca, então liderado por Cuauhtémoc (assassinado em 1525) que, mais ou menos junto com Montezuma, outro líder Asteca, foi morto pelos espanhóis. Desde então, a capital mexicana foi a Cidade do México. O nome México, segundo consta, vem de um dialeto local “Nahuatl”, e significa “lugar de mexi” ou, em outra acepção, “terra do Deus da Guerra”. Em versão alternativa, explica-se que a palavra “México” vem do nome do Lago Texcoco.
O fato é que todos esses povos tinham grandes cidades, até maiores do que as europeias (a superioridade dos europeus, além das doenças transmitidas, foi o poderio bélico, por isso foram os colonizadores; a região compôs o Vice Reino da Nova Espanha) e dominavam amplamente áreas como a agricultura, a matemática, a arquitetura e a astronomia. É outro país que se tornou independente dos espanhóis em 1821. Em 1910, passou por um período revolucionário com mudanças sociais profundas, notadamente no campo, quando foi proposto um processo de reforma agrária, liderada por Emiliano Zapata Salazar (1879-1919) e José Doroteo Arango Arámbula, vulgo Pancho Villa (1878-1923), pondo fim do governo do ditador Porfírio Diaz (1830-1915). Os dois líderes revolucionários foram assassinados em emboscadas por contra-insurgentes. Pouco depois, os mexicanos, herdeiros da revolução, fundaram o, até hoje existente, Partido Revolucionário Institucional (em que pese a contradição dos termos), que governou o país por 71 anos (de 1929 a 2000).
Os mexicanos são um povo alegre e muito festeiro, como nós, brasileiros. Vejamos um pouco de suas festas populares.
1 – Día de los Muertos – comemorado nos dias 1 e 2 de novembro (no Brasil, temos o Dia de Finados, no dia 2 de novembro), talvez seja a festa tradicional mexicana das mais antigas e apreciadas e não apenas pelos mexicanos, mas por todos os povos, ao menos no ocidente. A festividade, que mistura tradições indígenas com influências católicas, é um momento de celebração, lembrança e alegria. Não é, na tradição mexicana, um lamento, mas literalmente, uma festa, nas casas e nos cemitérios. A crença básica dos mexicanos é que as almas dos antepassados, nestes dias, retornam ao mundo dos vivos para confraternizarem com seus descendentes. Para os povos antigos locais, a morte não é um fim, mas uma etapa na jornada da vida no que, aliás, se igualam às crenças de muitos outros povos e religiões. Se Macunaíma, personagem Modernista do escritor, fotógrafo e crítico literário, dentre outras ações multimídia, por assim dizer, brasileiro Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945) tivesse nascido no México, talvez dissesse que a incorporação desta tradição, pelos católicos europeus, seria um puro exemplo de autofagia cultural (esse conceito expunha a ideia de “devorar” a cultura estrangeira, absorvendo-a e ruminando-a, até transformá-la em algo que possa ser tido como cultura nacional). As famílias criam altares elaborados em casa e os cemitérios com muitas oferendas de comida e bebida e fotos e/ou pinturas dos antepassados homenageados; as velas e incensos servem, na crença, para iluminar o caminho de volta das almas e purificar o ambiente. Em algumas cidades há mesmo desfiles alegóricos.
2 – Carnaval de Veracruz – sendo uma festa comum na América Latina, não tem, contudo, data fixa, no México, embora seja comemorado, sempre, no mês de fevereiro. Desfiles, músicas típicas, comida etc. são os traços comuns dessa comemoração, com o mesmo evento, em vários outros países da região. No tocante às músicas, por exemplo, temos a salsa e a cumbia (estilo musical originado na Colômbia, mas que também acabou sendo apreciado no México).
3 – Guelaguetza – festa realizada no final de julho e por semanas a partir daí, sem prazo certo para terminar, sediada na cidade de Oaxaca, com muita música, comidas típicas da região e exposição de tapeçaria provinda da tradição indígena dos Zapotecas e de outros povos locais, como os Mixtecas. Guelaguetza é uma palavra Zapoteca e quer dizer algo como “oferta” e também “troca” o que, dizem os estudiosos, refletiria a cultura de reciprocidade e de solidariedade que é a base deste festival, que é uma comemoração dedicado à deusa do milho, da agricultura e da fertilidade deste povo.
4 – Festival Internacional de Cinema de Guadalajara – celebração que acontece em março, é tida como uma das mais importantes comemorações da Sétima Arte na América Latina. Embora abarque, também, filmes profissionais, com linhas de financiamento, este festival dedica boa parte de seus esforços para cineastas independentes e/ou filmes de baixo orçamento.
5 – Fiesta de la Candelaria – comemoradas pelo país, no dia 02 de fevereiro, mas a que ocorre na Cidade do México é a maior delas; são eventos que marcam parte da vida de Jesus e o fazem por procissões e rezas.
6 – Fiesta de San Sebastián – comemorada no dia 19 de janeiro, é mais uma celebração religiosa importante e que ocorre, basicamente, na cidade de San Sebastián, também aqui, com várias procissões e rituais religiosos, além de quermesses e missas espalhadas por toda cidade.
7 – Festival de la Guelaguetza – acontece no mês de julho, na cidade de Oaxaca, quando se comemora a diversidade cultural dos povos locais e do mexicano, em geral. Há músicas locais e desfiles que mostram as tradições das comunidades indígenas de Oaxaca, como a comida e peças artesanais.
Sítios consultados
- https://viagemeturismo.abril.com.br/materias/festas-populares-lindas-emocionar-mexico/
- https://www.botatexana.com/festas-tipicas-do-mexico/?srsltid=AfmBOooVkL6xy6Z1mM2ITTryO04UNozzncD_hM914F1Vme2Z-ksj33a7
- https://mochileirospelomundo.com/mexico-7-festas-indispensaveis/
Peru (Incas)

Encenação da Festa do Sol, em Cusco | estudio.folha.uol.com.br
O Peru é um país, de rica história que nos apresenta, no passado, uma das civilizações humanas mais fascinantes do mundo antigo, os Quíchuas e seus soberanos, os Incas; Quíchua também era o nome da língua que falavam neste grande império da antiguidade, com capital na cidade de Cuzco. Atahualpa foi o último grande imperador dos Incas, que eles chamavam de Sapa Inca. O caminho social e político do Peru, em que pese suas idiossioncracias, de resto, todos, pessoas e países, as temos, passou pela vida do que muitos chamam de autóctones ou povos originários, no lugar de índios (terminologia, hoje em dia, considerada não muito correta), tanto de pequenas tribos quanto o grande Império Inca, pelo período colonial do século XVII, chegando à independência, também em 1821, liderada pelo militar argentino José de San Martín y Matorras (1778-1950) e pelo militar venezuelano Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar Ponte y Palacios Blanco (1783-1830), ou simplesmente, Simón Bolívar. Como praticamente todos os países latino americanos, o Peru passou por várias ditaduras militares, a última de 1980 a 1990, até atingir período relativa estabilidade a partir do final do século XX. Durante esse período, o país viu o nascimento e a ação do grupo guerrilheiro de esquerda Sendero Luminoso e do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), que foi uma homenagem a Túpac Amaru II, líder de uma rebelião indígena contra o domínio espanhol no século XVIII. Ao contrário das FARC, na Colômbia, o MRTA nunca se institucionalizou e já de há duas décadas, se dissolveu. Quanto aos Incas, hoje em dia… bem, só as boas lembranças, seus descendentes são aldeões sem a mesma grandeza aparente e longe do poder de outrora, mas são parte alegre do povo peruano. Como? Vejamos umas poucas festas que retratam esta euforia dos Quíchuas e do restante dos peruanos.
1 – Inti Raymi ou Festa do Sol – é uma comemoração do Vale de e da Cidade de Cuzco e na Plaza de Armas, nas ruínas de Sacsahuaman e Koricancha, no dia 24 de junho, deste que os Incas consideravam o dia mais curto do Hemisfério Sul (dada a posição da Terra em relação ao Sol); são realizadas danças, rituais, oferendas e apresentações de espetáculos e esquetes teatrais, nos moldes tradicionais, com o objetivo de agradar a deus e para que ele não abandonasse as pessoas.
2 – Corpus Christi – festa religiosa comemorada em todo o mundo católico iniciada no século XIII, sempre em uma 5ª feira, 60 dias depois do domingo de Páscoa (uma das principais tradições do cristianismo que relembra a crucificação, a morte e a ressurreição de Cristo; o evento é móvel e é considerado a partir de critérios definidos no Concílio de Niceia, no sécul IV a.C). No Peru, o evento conta com uma saudação de 15 santos e virgens, feitas através de procissões que desembocam na Catedral da cidade de Cuzco.
3 – Festa da Virgem da Candelária Mamacha – acontece na cidade de Puno, às margens do Lago Titicaca, há 3.800 metros de altitude, que detém o título de Capital Folclórica das Américas. São 18 dias de comemorações desta que é considerada Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Neste festejo, costumam se reunir mais de 200 grupos andinos de música, dança e teatro, para homenagear a Virgem Maria. No dia 02 de fevereiro, uma imagem da Virgem, que, acredita-se, teria salvado um grupo de mineiros ficar preso em uma mina local, é carregada em procissão, em um grande cortejo e os ciclos agrícolas são objeto de reverência, também.
4 – Fiestas Patrias – o auge da comemoração não é no dia 28 de julho, que é o dia da Independência do Peru, mas as festas, mesmo, são realizadas por todo o mês, com músicas, festivais variados, desfiles, decorações com motivos patrióticos etc.
5 – Réveillon Amarelo – uma das principais comemorações, além da que ocorreu em Lima, é realizada na na tradicional Plaza de Armas, em Cuzco. É comum ao mundo todo e não há grandes novidades a se relatar, aqui, a não ser algumas especificidades: é tradição que, quem quer viajar, devem levar consigo seus passaportes; os que desejam um carro, devem levar um carro em miniatura e assim por diante; na hora dos fogos, as pessoas correm ao redor da Plaza e fazem seus pedidos. A cor predominante das roupas, no Peru, é o amarelo.
6 – Festa do “Señor de los Temblores” ou Senhor dos Terremotos – mais uma celebração da cidade de Cuzco, em honra à Cristo, através de uma imagem, sendo, assim, uma festa de cunho religioso; a crença é que a imagem protegeu a cidade de um grande terremoto em 1650.
7 – Qoyllur Rit’i – é mais uma festa religiosa que acontece nos Andes peruanos, misturando o catolicismo com tradições indígenas. Os peregrinos viajam até a montanha sagrada de Ausangate para homenagear a Virgem Maria e festejar com muitos eventos folclóricos locais.
8 – Festival Internacional da Vinha – festa em homenagem à tradição vinícula local, realizada na cidade de Ica, com muita degustação de vinhos, petiscos e música.
9 – Festival Internacional da Primavera – realizada na cidade da Trujillo, quando é celebrada a estação das flores com desfiles, exposições, danças e, claro, muitas flores.
10 – Dia dos Reis Magos – celebrado no dia 6 de janeiro, como no Brasil, quando é comemorada a visita dos Três Reis Magos (Melchior, Gaspar e Baltasar) ao menino Jesus.
11 – Dia de Todos os Santos e dos Mortos – celebrado no dia 1º de novembro, é mais uma importante tradição da Igreja Católica que foi assumida pelos peruanos. É um momento de reflexão sobre a vida e a morte, e muitas vezes as pessoas acendem velas e deixam flores nos cemitérios.
Sítios consultados
- https://viagensmachupicchu.com.br/informacoes/conheca-a-cultura-peruana-dancas-e-festas
- https://www.insightvacations.com/blog/festivals-in-peru/
- https://www.amautaspanish.com/pt/sobre-peru/festivais
Bibliografia sugerida para consulta
CASCUDO, Luís da Câmara (1898-1986). Civilização e Cultura. São Paulo: Global Editora, 2004.
TURINO, Célio. Cultura a unir os povos – a Arte do Encontro. São Paulo: Instituto Olga Kos de Inclusão, 2018.
Carlos Fernando Galvão, Geógrafo, Doutor em Ciências Sociais e Pós Doutor em Geografia Humana, profcfgalvao@gmail.com









