Solaninho, brasilidade para os pequenos

Foto: Thaysa Lota

 

Não vou mentir: adoro espetáculos infantis que trazem histórias verídicas, nos convocando a conhecer mais sobre nós mesmos e sobre os artistas brasileiros — principalmente os invisibilizados. Esse é o caso de Solaninho.

Alguns dos artistas já haviam se apresentado para o público adulto no próprio Sesc Tijuca, abordando esse mesmo poeta. Deixo claro que a obra é de excelência, por conter poesia em abundância e por utilizar potentes ferramentas teatrais.

Solaninho emociona e prende a atenção das crianças — e isso chama a minha atenção. Seria impossível não chamar! Falo de uma obra dinâmica e colorida, com musicalidade também. A musicalidade vem do grande artista Muato, vencedor de importantes prêmios do teatro, que segue brilhando em sua trajetória musical.

Seria de pouca dignidade da minha parte não comentar sobre os bonecos de Dante — o teatro de animação está presente! E que presença! O profissional é, sem dúvida, um dos melhores do país.

A primeira versão da obra foi desenhada por mãos potentes. Ao lado do diretor Renato Faria estava Gabriel Torres, que foi brutalmente assassinado antes da primeira montagem. Na segunda versão, Renato colocou toda a sua gentileza na obra. Pareceu sentar-se numa poltrona e sonhar. Sonhou com o encontro de Gabriel e Solano Trindade no Orun — o céu dos orixás. E, claro, ele trouxe esse sonho em versos para as crianças. Que encontro maneiro! Imaginem Solano descendo à Terra com Gabriel e apresentando a ele Recife, terra natal do poeta do povo.

Cá entre nós: essa cidade é riquíssima em cultura popular, e viajamos com Solano e Gabriel por toda a terra nordestina. Simplesmente fantástico! Saboreei cada passeio e me encantei com a estética visual que desfilava diante dos meus olhos.

O que muitas vezes carregamos para os palcos italianos não estava ali — por exemplo, a assinatura de um cenógrafo. Vi um atravessamento mais condizente com a realidade dos espaços que precisamos ocupar: o teatro de rua, as escolas… Não havia uma cenografia tradicional, mas sim adereços que ajudavam a criar cenas, contar histórias e inspirar imaginação. Tudo muito colorido. As cenas dependem dos corpos em cena — ou seja, em qualquer espaço a obra pode acontecer, sem perder o brilho e a verdade.

Quero destacar o artista que manipula o boneco Solano. O trabalho de animação é tão bem executado, a conexão tão intensa, que fiquei boquiaberta todas as vezes em que ele entrava em cena. O tom de voz, a triangulação do olhar — tudo mais-que-perfeito. Confesso que me apaixonei: tanto pelo boneco de Dante quanto pelo artista que o manipulava.

Fiquei encantada em saber que Lucas Sampaio e Eudes Veloso, ambos artistas impactantes, passaram da cena para a direção dentro do projeto. Que potência!

Crianças atentas, se comunicando com os artistas — mesmo quando não eram convidadas a interagir. Excelente!

O maracatu, o Boi Bumbá e o frevo representando nossa brasilidade… Vale assistir? Vale muito! Crianças multiplicam ideias. Precisamos, sim, cultivar esse sentimento patriótico nos brasileiros. Somos brasileiros — não africanos, embora tenhamos fortes influências africanas, herdadas de um passado cruel de escravização. E somos muito pouco norte-americanos. Quanto mais Brasil nas veias, melhor! Somos lindos, latino-americanos, um povo caloroso. Isso me enche de orgulho e devoção por essa terra indígena que acolheu uma das maiores miscigenações do mundo!

Viva!

 

FICHA TÉCNICA

  • Poesias_ SOLANO TRINDADE
  • Roteiro e Dramaturgia_ RENATO FARIAS
  • Direção Artística_ LUCAS SAMPAIO e RENATO FARIAS
  • Elenco_ ADRIANO TORRES, ALEH SILVA, FERNANDA XAVIER, GUILHERME CANELLAS,
  • JOÃO MANOEL, JOÃO NAZARÉ, JORGE OLIVEIRA, RAPHAEL ELIAS, RODRIGO ÁTILA e
  • THIAGO HYPOLITO
  • Direção de Movimento_ LECO LISBOA
  • Direção Musical e Trilha Sonora Original_ MUATO
  • Preparação Vocal_ PEDRO LIMA
  • Consultoria de Cultura Tradicional_ SANDRO ROBERTO
  • Direção de Arte_ RAPHAEL ELIAS
  • Desenho e Construção dos Bonecos_ RAPHAEL ELIAS
  • Aderecista_ IVETE DIBO
  • Figurinista_ ANANDA ALMEIDA
  • Assistente de Figurino_ CLARA GARRITANO
  • Iluminadora_ ANA LUZIA DE SIMONI
  • Assessoria de Imprensa_ MARROM GLACÊ COMUNICAÇÃO
  • Projeto Gráfico_ THIAGO MENDONÇA
  • Produção_ EUDES VELOSO
  • Produção Master_ FERNANDA XAVIER
  • Produção Técnica_ JORGE OLIVEIRA
  • Assistente de Produção_ LUCAS BAPTISTA
  • Parceria_ COMPANHIA DE TEATRO ÍNTIMO e COMPLEXO NEGRA PALAVRA
  • Realização_ SAIDEIRA PRODUÇÕES

 

SERVIÇO

“Solaninho – Uma viagem com o poeta do povo”

 

Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

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Author

Dramaturga, com textos contemplados em editais do governo do estado do Rio de Janeiro, Teatro Prudential e literatura no Sesi Firjan/RJ. Autora do texto Maria Bonita e a Peleja com o Sol apresentado na Funarj e Luz e Fogo, no edital da prefeitura para o projeto Paixão de Ler. Contemplada no edital de literatura Sesi Fiesp/Avenida Paulista, onde conta a História de Maria Felipa par Crianças em 2024. Curadora e idealizadora da Exposição Radio Negro em 2022 no MIS - Museu de Imagem e Som, duas passagens pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com montagem teatral e de dança. Contemplada com o projeto "A Menina Dança" para o público infantil para o SESC e Funarte (Retomada Cultural/2024). Formadora de plateia e incentivadora cultural da cidade.

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