Escravos da insensatez: autor explora a beleza dos atos humanos

Autor busca redimir o heroísmo em livro de crônicas

 

Em “Escravos da insensatez“, o mestre e doutor em direito, José Eduardo Leonel, homenageia aqueles que contribuem para tornar mais nobre a humanidade através da moral baseada no desinteresse e sacrifício

Por intermédio de sua avó, o mestre e doutor em direito, escritor e palestrante, José Eduardo Leonel, foi apresentado a histórias de homens desinteressados, que praticavam atos sublimes. Em tardes de domingo, na infância, através das palavras de Dona Nina, mergulhava no mundo de figuras épicas e heroicas, como Aníbal; Alexandre, o Grande; e Napoleão Bonaparte, e de artífices da beleza, como a poetisa Elizabeth Barret. A convivência com sua avó fez com que Leonel adotasse seus valores, notabilizados por uma moral baseada no desinteresse e sacrifício.

A fim de louvar aqueles que marcaram seus nomes na história, por causa de sua coragem, espírito de abnegação, e puro talento, Leonel escreveu o livro “Escravos da insensatez – Crônicas da história dos herois”, publicado pela Editora Prismas. Mais do que louvá-los, o autor objetiva resgatá-los do desterro a que foram submetidos após séculos de ridicularização da nobreza humana.

“Como todo dogma, a desvalorização do heroísmo não para de pé.  Não há como esconder de nossos filhos que alguns homens sacrificaram a vida em nome de pessoas que sequer conheciam e que alguns deles chegaram mesmo a cometer atos sublimes, com pinceladas do que chamamos de divindade”, diz o escritor na apresentação do livro.

E complementa:

“Chega de sonegar das novas gerações a beleza dos atos humanos”.

As 14 crônicas que compõem o livro cumprem bem este propósito. De o “Dono dos corações”, em que trata sobre o poder de convencimento, calcado em uma autoconfiança inabalável, de Napoleão Bonaparte, até “Bragança”, na qual que discorre sobre a altivez e bravura – que fazem titubear os adversários mais poderosos – de Dom Pedro I, o autor constrói um belo quadro de como os seres humanos são capazes dos atos mais corajosos, mesmo diante do perigo certo e da morte iminente. Nesse sentido, vale destacar a crônica “Rolando usa a espada do Heitor”, em que mostra o líder militar franco indo ao encontro da morte, apresentada como uma “mulher caprichosa”, que o “ama acima de todos os outros homens”.

Engana-se, porém, quem acredita que a coragem destemida e a virtude encarnada só podem ser encontradas em homens que viveram e morreram há milênios e séculos. Em “Manto negro”, Leonel deixa claro que herois ainda habitam nosso tempo. A crônica gira em torno do ministro Adaucto Lúcio Cardoso, do STF, homem sem medo, que, em plena ditadura militar, ousou enfrentar o poder estabelecido para defender a liberdade dos homens como valor inalienável.

Mas não só de impavidez vivem os herois dos quais o mestre e doutor em direito nutre profunda admiração. A empatia, a compaixão, o amor profundo pelos homens também são características que os distinguem. Como deixam claro os textos “A alçada do chicote”, que versa sobre as últimas horas de Jesus Cristo e “Existe uma alma em Esparta”, onde o autor subverte a fama de Leônidas, rei de Esparta, apresentando-o como uma alma que sofre pelos desvalidos e para quem ter coragem significa “encarar o fato de que a vida – a vida de verdade, vivida – traz afetos, e com estes fraquezas”.

A beleza (repleta de potencial onírico) que o engenho humano é capaz de produzir é reverenciada em duas crônicas, em especial: “Paris, a cidade psicoativa” e “O concerto e o mascate dos sonhos”. Na primeira, Leonel aborda o amor que sente pela capital francesa, definindo-a como uma cidade que não se conhece, mas que se sente.

“Paris, como nenhum outro lugar que conheci, parece conseguir rasgar a capa da realidade, esta chata, para te envolver nas brumas de alguma coisa equivalente a uma vivência alternativa, entorpecidamente feliz”, afirma.

Na segunda, dedica apaixonadas linhas sobre o concerto nº 2 de Rachmaninoff, “a maior obra musical jamais feita, no mínimo uma das maiores”, que traz, destaca o escritor:

“o inébrio e a sensação de que nos deparamos, finalmente, com algo que excede a capacidade da realização humana”.

Mais do que um pagamento de tributo à memória de figuras tão importantes que já viveram sobre a terra e a beleza estética que a alma humana é capaz de produzir, o livro escrito por Leonel é um compromisso ético, uma régua moral, um guia para que o ser humano não se desvie do caminho da virtude, da justiça e da verdade.

“Há crueldade incalculável, brutalidade indizível no mundo dos homens. Mas também existe a chance de toparmos com a generosidade, com o bem-querer desinteressado”, diz Leonel.

Inspirado no exemplo de sua avó, o autor procura seguir esse caminho.

 

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