Dança: Samba no pé e a preparação para o carnaval

Ilustração ArteCult/DALL.e

 

No Rio de Janeiro, carnaval é sinônimo de samba no pé. De acordo com registros históricos, essa modalidade de dança tipicamente brasileira nasceu no Rio com forte influência de folguedos da Bahia, batuques africanos e bailados indígenas. Sua origem também está relacionada ao samba que era tocado nos ambientes populares dos morros e favelas cariocas. É uma dança solo realizada em performances improvisadas ao som do samba tocado por instrumentos como cavaquinho, violão, surdo, pandeiro, entre outros.

Hoje considerado um ícone do carnaval, o samba já foi perseguido e combatido. Durante a década de 1920, por exemplo, quem fosse pego dançando ou cantando samba corria um grande risco de ser preso. Isso porque o samba era ligado à cultura negra, que era malvista na época. Só mais tarde é que ele passou a ser encarado como um símbolo nacional.

Para Pablo Guerreiro, Professor, Coreógrafo, bailarino, ator e Diretor artístico da Unidos da Tijuca, o samba é muito mais do que uma dança, é uma tecnologia ancestral:

O samba no pé tem sua raiz afro ancestral. Ressignifica o saber da comunidade, o Ifé. E as comunidades em Ifé se comunicam com o chão, alçando a sua energia e pensamento ao céu. Então, a gente vai do Orum, Terra, ao Aê, sendo esse corpo físico, material, o que nos liga entre o pensamento terreno e o pensamento espiritual. O samba nos traz tudo isso. E a batida do tambor, da bateria, a batucada, que são a transformação desse corpo enquanto espírito, para se manifestar enquanto dança.”

Pablo Guerreiro.

Pablo acrescenta:

Assim como a cultura Adinkra, nação proveniente de Ghana, que traz a sua simbologia retratada em um símbolo chamado Sankofa,  que é o pássaro que voa pra frente com a cabeça voltada pra trás e com o ovo no seu bico. O voar pra frente é ir para o futuro, mas o futuro é aquilo que a gente não consegue ver. O olhar pra trás é buscar as respostas pra esse presente acontecer, transformar esse futuro. E assim eu vejo o Samba no pé.  A própria marcação no chão é um estado presente (passo 1). Uma ida no passado (passo 2). Pra ressignificar ou entender o futuro (passo 3). E depois a gente repete isso. E isso a gente chama de circularidade.”

Mas o samba no pé é democrático. Mesmo quem não nasceu com toda essa ancestralidade na veia, é possível aprender o ritmo e fazer bonito no carnaval.

Vinny Cardoso é professor, dançarino e coreógrafo de danças de salão e samba no pé. Ele atua na dança há mais de duas décadas e já foi responsável pela preparação de diversas musas que desfilaram na Sapucaí, entre elas Carla Diaz, Alexandra Ricette, Monique Alfradique,  Julianne Trevisol e Nivea Stelmann.

Vinny com Carla Dias. Foto: Instagram do Coreógrafo.

Vinny com Monique Alfradique. Foto: Instagram do Coreógrafo.

 

Com turmas cheias nos meses de janeiro e fevereiro, ele conta um pouquinho como funcionam seus cursos:

As aulas de samba no pé, com foco na preparação para o desfile do carnaval, são muito mais abrangentes do que apenas ensinar o samba. Eu trabalho andamento, sequências coreográficas, graciosidade, respiração, condicionamento físico. Eu faço um trabalho bem completo, com bastante exercício de quadril, pra soltar, passo básico completo, insiro o quadril nesse passo básico, velocidade, introdução aos movimentos de braço, deslocamento sambando. Uma série de coisas que a gente faz para deixar esse samba completinho e com bastante recurso. Além do passo básico, eu coloco vários floreios para enriquecer a dança e fazer tudo isso com graciosidade.”

Mesmo quem não vai desfilar, pode – e deve – experimentar as aulas de samba no pé. Uma hora de aula pode queimar até 700 calorias, além de ajudar a definir o corpo e melhorar a postura, tudo isso embalado pelo ritmo contagiante do samba.

 

 

Author

Jornalista, bailarina clássica e dançarina de salão. Apaixonada por cultura em geral, especialmente dança e musicais.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *