Espetáculo “A ÚLTIMA SESSÂO DE FREUD”: Quando a cortina abre, o teatro fica mais fervescente!
Não posso deixar de mencionar que Odilon Wagner foi um ídolo que sonhei, um amor platônico, coisas de uma jovem mulher que saia da adolescência e sonhava com o personagem Armando da minissérie Aquarelas do Brasil, ele era o amante que eu sonhava em ter, tamanha sofisticação do personagem. Vale mencionar essas séries que a Rede Globo sempre presenteava a sociedade brasileira com as histórias do Brasil, com nossas literaturas, saudades desses investimentos.
Por Marcello Airoldi não me apaixonei, mas tive a oportunidade de vê-lo no espetáculo Misery, ao lado da grandiosa atriz Mel Lisboa, e claro que fiquei impactada com sua atuação.
Ambos estão no Teatro Adolpho Bloch, no Rio de Janeiro, com a montagem A Última Sessão de Freud, com beleza e um teatro que, embora tenha uma estética visual de mais alto nível, é simples e entendível para todos.
A dramaturgia é fictícia, mas bem interessante. Muitos já ouviram falar em C.S. Lewis, ele é o autor da obra “As Crônicas de Nárnia“, amigo do J.J.Tolkien, autor da trilogia “Senhor dos Anéis“, inclusive se encontravam em pubs irlandeses para discutirem sobre as suas obras, suas ninfas e orcs, personagens mágicos presentes em suas escritas. Vale dizer que C.S. Lewis, voltou a fé cristã através do Tolkien, o que parece bem complexo ou não, depende do ponto de vista de quem analisa, ter fé em Deus, após permear em universos tão desconexos a realidade. Sempre ouvi dizer que o leão Aslan, das Crônicas de Nárnia simbolizava Deus, sempre onipresente, onipotente e onisciente, hoje passo a ter algumas dúvidas sobre isso.
Agora, imagina trazer Sigmund Freud, um médico neurologista e importante psicanalista austríaco, criador da psicanálise e a personalidade mais influente da história no campo da psicologia, cheio de razão, conversando com um criador de fábulas, autor de obras que só vieram ao cinema nesse século, pois não havia condições de traduzi-las para o cinema antes, não com os efeitos que as obras necessitam. A ideia é fantástica.
A plateia atenta, às vezes fugiam uns risos, mas sempre contidos, atentos às majestosas atuações dos artistas. O texto é muito bem conduzido pelas performances de ambos, também temos um diretor que praticamente não peca em seu fazer teatro. Elias Andreato é o nome, no entanto, ele mesmo sabe que é preciso mais que um diretor, é preciso ter uma equipe que ferve, que se joga, abraça a obra, que se empenha para chegar à maturidade cênica.
Quando a cortina se abre, Fabio Namatame, cenógrafo e figurinista, já deixa claro que estamos diante de um teatro glamouroso. Perfeito! Que beleza é a sala de estar do Freud. Que espetáculo são os figurinos, sem invenções bossais, mas seguindo a estética que era clássica. Com direito a lareira, afinal estão na fria Europa do início da Segunda Grande Guerra.
O som me chamou atenção, parecia vir do rádio que trazia notícias da guerra, acho que vinham do rádio na cenografia e os aviões que sobrevoavam a casa também parecia estar sobre nossas cabeças. Também o cachorro que parece latir do lado de fora da casa, o som parece vir de outro lugar, não do palco, onde está um escritório.
Um puta diferencial em relação ao desenho do som, uma engenhoca que caiu bem, trouxe verdades.
Sem contar o cheirinho do charuto, nos seduzindo!
Odilon, “meu ex amor”, parece ter se tornado amor novamente, pois traz com ele um personagem tão Freud, com movimentos bem articulados, expressões faciais e corporais comedidos, de acordo com seus estudos, suas pesquisas, assim penso. Pronto, apaixonei-me por Freud! Assim não dá, Odilon!
O tom de voz está perfeito e quando ele fala sobre a doença, temos aí recursos, efeitos para um câncer de laringe contraído pelo personagem, Odilon traz com riquezas de detalhes até mesmo quando vai a um lavabo, cuspindo sangue, com todo cuidado do corpo para que os espectadores possam ver as cuspidas ensanguentadas.
Já Marcelo, em alguns momentos, nos leva aos céus, com suas atuações. Quando o avião sobrevoa o escritório, sua feição e respiração ofegante trazem verdades a cena. A voz do artista também está muito bem colocada, Marcello hoje para mim é aquele artista que não posso deixar de assistir, por saber fazer teatro, o que adoro.
O texto apresenta discussões, pontos de vistas diferentes entre os personagens, algo que desaprendemos, dialogar atualmente, sem discutir parece ser impossível. Embora ambos os personagens tivessem diferentes olhares, as discussões eram profícuas, e isso o artista Odilon, chama atenção enquanto agradece ao público pela presença, afinal perdemos o hábito de conversarmos, perdemos o hábito de dialogar com maturidade, esquecendo que vivemos em uma sociedade onde pousa a democracia. Sei que passamos dias duros, mas precisamos ter mais paciência para aqueles que não acreditam que a Terra é redonda, precisando nos transformar em professores de ciência da quarta série. Sei que é chato, mas necessário…
Odilon também fala sobre a importância dos jovens no teatro, como é importante estarem presente, o que concordo muito.Mais que isso, ele também fala sobre a importância da união da educação com a cultura e eu, claro que apoio, aplaudo de pé, e já penso pedir em casamento o artista!
Aliás, aproveitando o momento, em outubro a obra RIO UPHILL – O Musical, estará também no Adolpho Bloch, com uma linguagem muito direcionado para adolescentes e jovens, montagem patrocinada pela Petrobras.
A obra A Ultima Sessão de Freud, é linda, madura, uma belezura de montagem que merece, sim, teatro cheio, espectadores desembarcando na cidade maravilhosa para assistir e mais que isso, reconhecimento, afinal por esse trabalho Odilon foi indicado pelos maiores prêmios de teatro do Brasil, indicado ao Prêmio Shell, Prêmio APCA e Prêmio Bibi Ferreira. Impossível perder!
SINOPSE
No gabinete de Freud, na Inglaterra, o pai da psicanálise e o escritor C.S. Lewis conversam sobre a existência de Deus, mas o embate verbal se expande por assuntos como o sentido da vida, natureza humana, sexo e as relações humanas, resultando em um espetáculo que se conecta profundamente com o espectador por meio de ferramentas como o humor, a sagacidade e o resgate da escuta como ponto de partida para uma boa conversa. O sarcasmo e ironia rondam toda essa discussão. As ideias contundentes ali propostas nos confundem, por mais ateus ou crentes que sejamos.
Ficha Técnica
- Texto: Mark St. Germain
- Tradução: Clarisse Abujamra
- Direção: Elias Andreato
- Assistente de Direção: Raphael Gama
- Idealização: Ronaldo Diaféria
- Elenco: Odilon Wagner e Marcello Airoldi
- Cenário e figurino: Fábio Namatame
- Assistente de cenografia: Fernando Passetti
- Desenho de Luz: Gabriel Paiva e André Prado
- Iluminação: Nádia Hinz
- Trilha Sonora: Raphael Gama
- Arte Gráfica: Rodolfo Juliani
- Fotografia: João Caldas
- Designer de som: André Omote
- Coordenador Geral de Produção: Ronaldo Diaféria
- Produtora Executiva: Katia Brito
- Direção de palco / Contra-regragem: Vinicius Henrique, Kauã Nascimento
- Produtores Associados: Diaféria Produções e Itaporã Comunicação
SERVIÇO
A Última Sessão de Freud
- Quando: De 27 de setembro a 20 de outubro, Sexta e Sábado às 20h00, Sábado e Domingo às 17h00, Domingo às 19h30.
- Onde: Teatro Adolph Bloch
- Classificação: 14 Anos
- Duração: 90 MINUTOS
- Compras de Ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/94577/d/258896
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