Exposição apresenta a energia de mais de 300 obras de mais de 200 artistas de todas as regiões do país, além de documentos e objetos, que dão um panorama da década de 1980 no Brasil
A grande exposição “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil” será inaugurada no dia 2 de outubro de 2024 no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, como parte das comemorações pelos 35 anos do CCBB RJ. Com Raphael Fonseca como curador-chefe e Amanda Tavares e Tálisson Melo como curadores-adjuntos, a mostra, inédita, apresentará cerca de 300 obras de mais de 200 artistas de todas as regiões do país, mostrando um amplo panorama das artes brasileiras na década de 1980. Completam a mostra elementos da cultura visual da época, como revistas, panfletos, capas de discos e objetos icônicos, ampliando a reflexão sobre o período.
O projeto é patrocinado pela BB Asset, gestora de fundos do Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Mário Perrone, diretor comercial e de produtos da BB Asset, destaca que a responsabilidade da gestora vai além da administração de ativos. “Patrocinar a exposição ´Fullgás´ reforça nosso compromisso com o futuro, investindo não apenas em resultados, mas também naquilo que transforma uma sociedade: a cultura e arte. Como a maior gestora de fundos do Brasil, temos a honra de contribuir para a preservação do legado cultural do país, inspirando novas gerações e promovendo um Brasil mais vibrante e consciente da sua rica história e expressão artística. Este é o tipo de investimento que gera valor para todos.”
“Fullgás”, assim como a música de Marina Lima, deseja que o público tenha contato com uma geração que depositou muito de sua energia existencial não apenas no fazer arte, mas também em novos projetos de país e cidadania. Uma geração que, nesse percurso, foi da intensidade à consciência da efemeridade das coisas, da vida”, afirmam os curadores.
A exposição ocupará todas as oito salas do primeiro andar do CCBB RJ, além da rotunda, e será dividida em cinco núcleos conceituais cujos nomes são músicas da década de 1980: “Que país é este” (1987), “Beat acelerado” (1985), “Diversões eletrônicas” (1980), “Pássaros na garganta” (1982) e “O tempo não para” (1988). Na rotunda do CCBB haverá uma instalação com balões do artista paraense radicado no Rio de Janeiro Paulo Paes. “O balão é um objeto efêmero, que traz uma questão festiva, de cor e movimento”, dizem os curadores. Ainda no térreo, uma banca de jornal com revistas, vinis, livros e gibis publicados no período, com fatos marcantes da época, fará o público entrar no clima da exposição.
A mostra aborda o período de forma ampla, entendendo que seus questionamentos e impulsos começaram e terminaram fora do marco temporal de dez anos que tradicionalmente constitui uma década. Desta forma, a exposição abrange o período entre 1978 e 1993, tendo como marcos o final do Ato Institucional 5 e o ano posterior ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. “Consideramos para a base de reflexões este arco de quinze anos e todas as suas mudanças estruturais e culturais para pensarmos o Brasil: do fim da ditadura militar ao retorno a uma democracia que, logo na sequência, lidará com o trauma de um impeachment”, contam os curadores, que selecionaram para a exposição obras de artistas cujas trajetórias começaram neste período.
Nas artes visuais, a Geração 80 ficou marcada pela icônica mostra “Como vai você, Geração 80?”, realizada no Parque Lage, em 1984. A exposição no CCBB entende a importância deste evento, trazendo, inclusive, algumas obras que estiveram na mostra, mas ampliando a reflexão. “Queremos mostrar que diversos artistas de fora do eixo Rio-São Paulo também estavam produzindo na época e que outras coisas também aconteceram no mesmo período histórico, como, por exemplo, o ‘Videobrasil’, realizado um ano antes, que destacava a produção de jovens videoartistas do país”, ressaltam os curadores. Desta forma, “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil” terá nomes de destaque, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Leonilson, Luiz Zerbini, Leda Catunda, entre outros, mas também nomes importantes de todas as regiões do país, como Jorge dos Anjos (MG), Kassia Borges (GO), Sérgio Lucena (PB), Vitória Basaia (MT), Raul Cruz (PR), entre outros. Para realizar esta ampla pesquisa, a exposição contou, além dos curadores, com um grupo de consultores de diversos estados brasileiros.
Além das obras de arte, a exposição trará, ainda, diversos elementos da cultura visual da década de 1980, como revistas, panfletos, capas de discos e objetos, que fazem parte da formação desta geração. “Mais do que sobre artes visuais, é uma exposição sobre imagem e as obras de arte estão dialogando o tempo inteiro com essa cultura visual, por exemplo, se apropriado dos materiais produzidos pelas revistas, televisões, rádios, outdoors e elementos eletrônicos. Por isso, propomos incorporar esses dados, que quase são comentários na exposição, que vão dialogando com os elementos que estão nas obras de fato”, ressaltam Raphael Fonseca, Amanda Tavares e Tálisson Melo.
Para Sueli Voltarelli, Gerente Geral do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, “é muito representativo realizarmos essa mostra no ano em que o CCBB comemora seus 35 anos. Ter esse olhar mais amplo sobre a produção artística dos anos 1980, se coaduna com o trabalho do próprio Centro Cultural, um equipamento que nasceu na nesta mesma década, com o compromisso de valorizar e amplificar as vozes de artistas de todo o Brasil, contribuindo para o acesso e para o processo de identificação e aproximação do público com a arte, promovendo a conexão de todos os brasileiros com a cultura”.
A mostra será acompanhada de um catálogo com fotos das obras e textos dos curadores e de autores de diversas regiões do Brasil, que abordarão os tópicos centrais da exposição, analisando os diversos aspectos culturais deste recorte histórico. Depois da temporada no CCBB RJ, onde fica até o dia 27 de janeiro de 2025, a exposição será apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília, de 18 de fevereiro a 27 de abril de 2025, no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo, de 21 de maio a 04 de agosto de 2025 e no Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte, de 27 de agosto a 17 de novembro de 2025.
NÚCLEOS TEMÁTICOS
A exposição será dividida em cinco núcleos:
1 – “Que país é este” – reflete sobre o fim da ditadura militar e a passagem para a democracia. “Este núcleo traz questões relativas à política e à economia, debates em torno da Constituição, organização civil, variação das moedas, inflação, além de questões relativas à violência, pensando na herança da década de 1970 e da ditadura militar. Todos esses elementos estão colocados de uma maneira que questiona e tenta definir os rumos do país, a ideia de nação através de identidade e território”, contam os curadores. Desta forma, estão neste núcleo movimentos negros, de mulheres, indígenas e seringueiros, além do movimento punk, vinculado a debates políticos e sociais, assim como os debates em torno da Constituição e da redemocratização. Integram este núcleo obras que citam a ditadura e a tortura, como “Sem título” (1982), de Aprígio e Frederico Fonseca, os registros de movimentos sociais feitos pelo fotógrafo paraense Miguel Chikaoka, além de trabalhos de coletivos que começam a ocupar as ruas, algo até então não permitido pela ditadura militar, como o coletivo Manga Rosa. Arthur Bispo do Rosário também está neste núcleo com “Uma obra tão importante que levou 1986 para ser escrita”. O filme “Patriamada”, dirigido por Tizuka Yamasaki , feito durante do processo das Diretas Já, também integra este núcleo, assim como diversos outros trabalhos
2 – “Beat acelerado” – traz obras e artistas que preferiram enfocar na nova aceleração do tempo, nos amores efêmeros, no prazer e na paixão pela cor. “Esse título remete ao corpo, à batida do coração, à empolgação, ao frenesi, e está mais em diálogo com artistas associados à pintura e ao desenho, com a comemoração e a negação da austeridade da arte dos anos 1970, que era vista como muito racional”, afirmam os curadores. Este é o maior núcleo da exposição e tem muitas obras onde a cor desempenha um papel central, como “Com que está a chave do banheiro 10?” (1989), de Beatriz Milhazes, e “Cérebro em stand” (1988), de Leda Catunda, mas também vídeos e esculturas, que trazem a ideia de emoção, como “Hommage aux marriages” (1989), de Marcos Chaves. “É o núcleo da abertura, da possibilidade de viver em um mundo colorido após a saída da ditadura”, contam os curadores. Neste núcleo também estão obras como a camisa “Overgoze” (1981), de Eduardo Kac, na época parte do Movimento de Arte Pornô, e “Dois coqueiros” (1990), de Ciro Cozzolino, entre muitas outras, além de diversos elementos da cultura visual da época.
3 – “Diversões eletrônicas” – traz artistas que mergulharam em um futurismo típico do momento histórico no qual a televisão desempenhou papel essencial, assim como as novas invenções tecnológicas e o desejo pela expansão aeroespacial. “É a experimentação no campo da arte a partir do acesso a determinadas mídias eletrônicas e pela expansão das mesmas – computadores, fotografias, vídeo cassete e walkman, por exemplo. Há trabalhos que fazem uma experimentação com essa tecnologia e outros que vão representar esses elementos”, contam os curadores. Exemplos disso são as obras “Painel de controle” (1987), de Luiz Hermano, e Carro” (1980), de Jailton Moreira. Há, ainda, pinturas que incorporam a TV, como uma série de trabalhos em xerox, de Alex Vallauri e “Família materialista” (1982), de Cristina Salgado, ou a obra de “Caderno Juquinha” (1980), de Lívia Flores, com referências da televisão e do design. Neste núcleo, estão também obras dos artistas baianos Leonardo Celuque – “Rastro de cometa” (1989) – e Jayme Figura – capacete feito de sucata “Sem título” (1980).
4 – “Pássaros na garganta” – neste núcleo estão presentes artistas que observavam mais a natureza e as discussões ecológicas do momento, assim como questões relativas à propriedade de terra e as consequências trágicas do capitalismo selvagem. Neste núcleo estão paisagens, como as obras “Lacrima Christie” (1989), de Cristina Canale, “O pranto dos animais II” (1989), de Hélio Melo e “Barranco” (1982), de Jacqmont, mas também trabalhos que alertam para as questões ambiental e indígena. Neste núcleo está a pintura da série “Césio 137” (1986), de Siron Franco, e os estudos para mosaico do Palácio da Cultura de Eliezer Rufino, feitos a partir de uma cultura visual de herança indígena. É um núcleo com mais esculturas, como “Totens” (1989), de Vitória Basaia. Há, ainda, a pintura na parede “Sem título” (1980), de Otoni Mesquita. “Esse núcleo vem quase como uma relação sublime sendo resgatada com a natureza, mas no sentido de uma natureza tanto quanto potencial de referência para a produção pictórica quanto de um assombro com as questões da Eco 92, com pautas colocando a nossa vulnerabilidade enquanto existência no planeta”, dizem os curadores.
5 – “O tempo não para” – quinto e último núcleo da exposição, reflete sobre a passagem do tempo, conectando-se também com o nome da exposição, “Fullgás”, música de Marina Lima. “Este núcleo reúne obras que pensam a respeito da finitude e de como há uma discreta melancolia em todos os elogios ao excesso tão atribuídos a essa geração”, contam os curadores. Integram este núcleo trabalhos como “Mapa a cores” (1987), de Ana Amorim, que aborda sua localização e seus trajetos, “Sem título” (1990), de Fernanda Gomes, que fala da passagem do tempo através de papéis de cigarro acumuladas, “Coluna de cinzas” (1987), de Nuno Ramos, “As ruas da cidade” (1988), de Leonilson, “Entre céus e ruínas” (1992), de Leila Danziger, além das “Polaroids” (1980), de Fernando Zarif, e do vídeo “O profundo silêncio das coisas mortas” (1988), de Rafael França, entre outras.
Confira algumas obras
CONFIRA NOSSA ENTREVISTA COM OS CURADORES
Raphael Fonseca (Curador-chefe)
- A exposição “Fullgás” oferece um panorama amplo das artes visuais dos anos 1980 no Brasil. O que te inspirou a abordar essa década de forma tão extensa e como foi o processo de curadoria para garantir que as diversas vozes e regiões do país fossem representadas?
Raphael Fonseca: Acredito que qualquer exposição que pretende pensar o Brasil, um país tão grande, é essencial que haja um esforço para que se tenha a presença de pessoas de diversas regiões. No nosso caso, além de eu ser do Rio de Janeiro e Amanda e Tálisson de Minas Gerais, somos pessoas que circulamos muito pelo Brasil, já morei no Rio, em São Paulo, já morei fora; Amanda morou em Florianópolis, Tálisson teve uma temporada em São Paulo, no Rio e em Minas, a gente também contou com um grupo grande de consultores de diversas regiões do Brasil e claro, é um processo de formiguinha, de pesquisar, contactar artista, pedir material, tudo foi se dando nessa investigação e nessa busca via internet, via livro, via outras possibilidades, via família, via galeria, via museus, uma pesquisa ampla. Sabemos que não tem como ter uma representatividade total, completa, de nada na vida nem no mundo, mas a gente fica feliz de ter artistas de todos os estados brasileiros, todos os tipos de linguagens possíveis e artistas de lugares identitários muito diversos, artistas mais jovens, outros mais velhos. Ficamos contentes com esse mosaico que criamos até o momento.
- A exposição será dividida em cinco núcleos conceituais, cada um com o nome de uma música icônica dos anos 80. Como essa escolha reflete a conexão entre a música e as artes visuais nesse período?
Raphael Fonseca: A música pop embala os anos 1980 no Brasil, não podemos esquecer todas as censuras musicais durante a ditadura militar, então nos 1980 temos um desejo maior de liberdade na chave da música no Brasil, então foi muito interessante intitular os núcleos a partir disso. Não se trata de uma exposição que tenta dar conta de tudo de música também, mas é legal a gente ter nomes de músicos tão diferentes, com carreiras diferentes, composições diferentes, gêneros diferentes, extensões de carreiras diferentes, cantores solos, homens, mulheres, bandas. Isso é muito bacana e reflete a riqueza da música popular brasileira e reflete também, como dizia o Platão, como a música atinge as massas e lida sentidos humanos de forma diferente das artes visuais, então tenho total consciência que esses nomes de núcleos são muito mais famosos do que qualquer obra de arte que faça parte da exposição, uma coisa ajuda a outra, uma coisa é um chamariz para a outra e talvez intitular os núcleos da exposição com nomes de música também populariza e democratiza mais o acesso à própria exposição.
Amanda Tavares (Curadora-adjunta)
- Como foi o processo de pesquisa para selecionar os artistas e obras que compõem a exposição “Fullgás”, e quais foram os principais desafios em retratar a diversidade da produção artística dos anos 80 no Brasil?
Amanda Tavares: A pesquisa para a exposição aconteceu em algumas frentes. A partir da nossa experiência, formação e interesse, fomos mapeando, levantando os artistas que já conhecíamos. Depois numa segunda frente fizemos uma pesquisa bibliográfica, com busca em acervos, na internet, bibliotecas, publicações da época, exposições que foram importantes na época para entender quais foram os outros artistas que não conhecíamos e que também estavam nesses eventos, mas também foi fundamental nessa pesquisa o auxilio das pessoas que foram nossos consultores, de diversas regiões do país, de Norte a Sul, que são curadores, artistas, pesquisadores, que pertencem á geração 80 e essas pessoas também nos auxiliaram a pensar não só o que seria a arte nesse momento, o contexto de produção de arte nesse momento, mas também de nomes que circularam em suas regiões e que nós não conhecíamos, então esse diálogo foi muito importante e se deu ao longo de toda a pesquisa para a exposição, pois eles foram nos trazendo nomes e fomos atrás dessas pessoas para conversar com elas.
Um desafio foi encontrar documentação, ou trabalhos de artistas desse período, as condições de registro desse período eram outras, às vezes conseguíamos chegar a algum artista mas não havia documentação sobre o trabalho feito no período ou a localização dos trabalhos do período. Então muitos artistas ainda estão trabalhando hoje mas não preservaram trabalhos doa anos 1980 ou não tem esses registros considerando que hoje temos internet que facilita a comunicação e o acesso mas não anos 1980 era muito diferente. Há artistas que têm esse material organizado, mas outros não, pois para muitos a organização desse material não era uma questão na época.
- A exposição propõe um diálogo entre as obras de arte e os elementos da cultura visual da década, como revistas e capas de discos. De que maneira essa integração amplia a reflexão sobre o período e sua relevância cultural?
Amanda Tavares: A cultura visual é importante para pensarmos a arte produzida em qualquer contexto ou em qualquer geração. O artista é uma pessoa inserida em seu mundo que dialoga com aquilo que está no seu entorno e que tem isso como questão. No caso da geração 80 é importante pensar como o processo de redemocratização e de acesso a determinados bens de consumo, como eletroeletrônicos e a própria televisão, muda essa relação com a cultura visual, também no sentido da consolidação de uma cultura de massa. Então a gente entende que esse momento da abertura modifica essa relação com a cultura visual e com esses meios e que os artista também estão interessados em dialogar e se apropriar de determinados meios, como artistas que trabalham com xerox, com impressos, de integrar essa cultura de massa na sua produção, como assunto ou como forma, e isso tem muita relação com o processo de redemocratização e de liberdade de expressão da possibilidade de experimentação que a ditadura não permitia, então há uma modificação da relação dos artistas com esses elementos da cultura visual nesse período, da passagem dos 1970 para os 1980.
Tálisson Melo (Curador-adjunto)
- O núcleo “Pássaros na garganta” aborda questões ecológicas e a relação com a natureza. Como você vê a importância dessas temáticas no contexto dos anos 80 e a relevância delas para o público atual?
Tálisson Melo: Em novembro deste ano vamos ter a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, e no ano que vem, a Cop30 em Belém do Pará. Ambas ocasiões pautam o aquecimento global em suas causas e consequências. No núcleo Pássaros na garganta, vemos como artistas no Brasil dos 1980 tiveram suas poéticas atravessadas por questões ligadas à emergência de uma nova consciência sobre o meio ambiente. Ao mesmo tempo, buscamos evidenciar como a abertura política no país esteve atrelada a consolidação do papel do Brasil como agente importante nessa agenda global. Então, nas obras, temos desde uma abordagem que valoriza a natureza e se volta para ela com encantamento e respeito, até denúncias sobre o impacto da ação humana sobre o meio ambiente.
- A exposição “Fullgás” expande o período de análise para além dos anos 80, abrangendo de 1978 a 1993. Qual foi o motivo dessa escolha e como essa perspectiva mais ampla enriquece a narrativa da exposição?
Tálisson Melo: Essa década de 1980 expandida que estamos propondo vai do ano de revogação do AI 5, 1978, até o ano subsequente ao impeachment do primeiro presidente eleito por voto direto na jovem democracia brasileira, 1993. Isso porque, desde o início da nossa pesquisa, percebemos que a noção de década seria tão limitante quanto a de geração poderia nos levar também a um recorte muito restrito. Então começamos a refletir sobre o que caracterizaria os anos 1980, e consideramos como um eixo central pensar a transição, as transformações macro que ocorrem nesse período, que estão muito atreladas à dimensão política, com o processo gradual de redemocratização, mas que também estão imbricadas com a cultura, o comportamento, tanto na esfera subjetiva, da relação com o corpo, a memória, o tempo, as emoções, quanto na esfera coletiva, dos movimentos sociais, da consciência ambiental, da identidade nacional, da globalização, do boom no mercado de arte, a instabilidade econômica. Tudo isso aparece de algum modo nas obras apresentadas em Fullgás.
SOBRE OS CURADORES
Raphael Fonseca (curador-chefe) nasceu no Rio de Janeiro e vive em Denver, EUA. É pesquisador da interseção entre curadoria, história da arte, crítica e educação. Trabalha como curador de arte moderna e contemporânea latino-americana no Denver Art Museum desde 2021. Curador-chefe da 14ª Bienal do Mercosul, a acontecer em 2025. Curatorial advisor da Prospect.6, a acontecer em 2024, em New Orleans, Estados Unidos. Foi incluído na lista de 100 pessoas mais influentes das artes visuais globalmente pela revista ArtReview, em 2023. “Raio-que-o-parta”, exposição da qual foi curador-chefe e realizada no SESC 24 de Maio, recebeu os prêmios da Associação Brasileira de Críticos de Arte de melhor curadoria e melhor exposição de 2022. Doutor em Crítica e História da Arte pela UERJ. Recebeu o Prêmio Marcantonio Vilaça de curadoria (2015), o prêmio de curadoria do Centro Cultural São Paulo (2017), recebeu uma bolsa da Andy Warhol Foundation para a exposição “Who tells a tale, adds a tail” (Denver Art Museum, 2022), além de uma bolsa da Teiger Foundation para uma futura exposição sobre Roberto Gil de Montes, a ser realizada em co-curadoria entre o Denver Art Museum e o Los Angeles County Museum of Art (LACMA, junto a Rita González).
Amanda Tavares (curadora-adjunta) nasceu em Ipatinga-MG e mora entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Atua com pesquisadora e curadora em exposições e publicações de arte, além de projetos experimentais que relacionam arte e educação. É Pós-doutora em Artes pela UERJ e doutora em Crítica e História da Arte pela mesma instituição. Mestre em teoria literária pela UNICAMP e graduada em Letras pela UFJF. É coordenadora editorial na 14 Bienal do Mercosul. Foi membro do Júri Open Lisboa, na Arco – feira de Arte Contemporânea (Lisboa, 2024). Foi pesquisadora, assistente de
curadoria e coordenadora dos programas públicos na 23 Bienal SESC_Videobrasil (2023-2024). Em 2022-2023, foi contemplada com a Bolsa Masp Pesquisa-MASP, destinada à pesquisa e difusão do acervo do MASP. Foi pesquisadora de conteúdo e assistente de curadoria no projeto de requalificação do Sítio Burle Marx (exposição e livro institucional) (2019-2020). Atualmente desenvolve o projeto de pós-doutorado “Arte popular: modos de usar (PPGAH/UERJ)”, no qual se dedica à relação entre a chamada arte popular no contexto da arte moderna e contemporânea.
Tálisson Melo (curador-adjunto) nasceu em Juiz de Fora-MG e vive em São Paulo. Curador, pesquisador e professor. Pós-doutorando no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. Doutor em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com estágio na Yale University, EUA. Mestre em Artes pela Universidade Federal de Juiz de Fora, onde também se graduou bacharel em Artes e Design, com concentração em História da Arte pela Universidad de Salamanca, Espanha. Em 2023, foi selecionado pelo prêmio de jovens curadores da OMA galeria. Ganhou o prêmio de melhor exposição (regional Centro-Oeste, 2023) da Associação Brasileira de Crítica de Arte (ABCA) pela exposição coletiva “Atualização do Sistema”, organizada pela Academia de Curadoria em parceria com a FAP-DF e o Museu Nacional da República.
SOBRE O CCBB RJ
Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro marca o início do investimento do Banco do Brasil em cultura. Instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, é um marco da revitalização do centro histórico da cidade do Rio de Janeiro. São 35 anos ampliando a conexão dos brasileiros com a cultura com uma programação relevante, diversa e regular nas áreas de artes visuais, artes cênicas, cinema, música e ideias. Quando a cultura gera conexão ela inspira, sensibiliza, gera repertório, promove o pensamento crítico e tem o poder de impactar vidas. A cultura transforma o Brasil e os brasileiros e o CCBB promove o acesso às produções culturais nacionais e internacionais de maneira simples, inclusiva, com identificação e representatividade que celebram a pluralidade das manifestações culturais e a inovação que a sociedade manifesta. Acessível, contemporâneo, acolhedor, surpreendente: pra tudo o que você imaginar.
SOBRE A BB ASSET
A BB Asset, empresa do Banco do Brasil, é responsável pela gestão de mais de 1200 fundos de investimento para quase 3 milhões de pessoas que buscam realizar seus sonhos. Líder nacional no setor de fundos de investimento, detém aproximadamente 20% do mercado e administra um patrimônio líquido de cerca de R$ 1,6 trilhão*. Além disso, é reconhecida pela qualidade de sua gestão com as maiores notas das agências de classificação de risco Fitch Rating e Moody’s. Nossas soluções de investimento estão disponíveis para atender a ampla variedade de objetivos de nossos clientes. Como líder de mercado, entendemos nossa responsabilidade na atuação em prol dos desenvolvimentos ambiental, social, de governança corporativa e cultural. Com o objetivo de agregar valor à sociedade, a BB Asset patrocina iniciativas como a exposição Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil. Porque, além de gerir ativos financeiros, investir em arte e cultura – para a maior gestora de fundos do Brasil – também é melhorar a vida das pessoas! E esse é o nosso propósito! BB Asset: busque mais para seus investimentos!
*Dados do ranking da ANBIMA de julho de 2024.
SERVIÇO
Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil
- Quando: 2 de outubro de 2024 a 27 de janeiro de 2025
- Onde: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro. Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – 1º andar – Centro – Rio de Janeiro – RJ
- Informações: (21) 3808.2020 | ccbbrio@bb.com.br
- Funcionamento: De quarta a segunda, das 9h às 20h. Fechado às terças-feiras.
- Classificação indicativa: livre
- Entrada gratuita
- Ingressos disponíveis na bilheteria física ou pelo site do CCBB – bb.com.br/cultura.
- Para seguir o CCBB RJ nas redes sociais:
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Fonte: Midiarte Comunicação