Desde que realmente passei a me interessar por música, em especial pelo Heavy Metal, passei a pensar muito na morte. Na finitude mesmo. Quando descobri o Pink Floyd, com suas letras etéreas e reflexivas, o tema da morte tornou-se para mim comum. Quase que abundante.
Sou daqueles que se impressionaram muito com a magreza exótica de Cazuza na capa da Revista Veja lá pelos idos dos anos 1990. Lembro principalmente dos comentários primitivos das pessoas em função de sua suposta vida libertina. Até todo o preconceito, que julgo hoje já ter sido vencido pelo instrumento da ciência e do alastramento da educação sobre o assunto, me retoma e me fez pensar sobre a finitude.
A Filosofia já me deu um tratamento sobre o assunto, tal qual a religião e a ciência, mas é impossível não ver nela uma justiça democrática e uma falta de razoabilidade. Sendo a vida tão boa, por que da morte?
Tal ponto me faz relembrar minhas duas avós. Meu avô por parte de mãe me fez encarar sentimentos de perda. Quando meu pai me reportou sobre a perda de seu pai, ele fazia a barba, havia uma normalidade sombria e furiosa travestida de alívio. O pai dele havia se ido. Só de pensar em viver o mundo sem meu pai, eu já me derreto. Meu avô me deixou assim. Minha avó paterna também. Como eu a queria. Sua espevitação e liberdade eram exemplares. Minha avó materna me fez pensar em um livro quando de seu falecimento. Vejo o envelhecimento de meus pais com sintética preocupação. A morte me leva a devaneios ruins.
Penso em meus filhos. Os três. Uma quase adulta, outro com 7 anos. O terceiro com sete meses. Ser pai em três distintos momentos de meus filhos me fez demonizar a morte. Quero com eles estar aqui para sempre nesse agora. Esse meu agora tão intransponível que quero imortalizar nesse texto, mas sua melancolia e efemeridade se prendem a essas mesmas palavras. Escrevo para estar. Só que perco ao reter. Ela, a Morte, está em tudo, inclusive nesse ponto final. Estenderei o parágrafo só para estender um sentimento de prazer e vida que aqui reside.
“De tudo ao meu amor serei atento (…)”
MÁRCIO CALIXTO
Professor e Escritor
Coluna de Márcio Calixto
Depois dos filhos, ficamos atentos a nossa mortalidade, né? Atravessamos na faixa, tememos certos riscos, porque os filhos são a casa onde queremos permanecer. Inconcebível ir pra longe dela, noutra esfera espiritual rs Adorei passear por suas reflexões. O tema é árido mas a escrita leve, leve.