Se você jogar no Google quais são as maiores peças teatrais do mundo, “Hairspray”, estará lá…
Com um elenco formado por muitos atores, além de músicos, o espetáculo que se passa nos anos 1960, na cidade americana de Baltimore é uma delícia. A montagem reflete sobre temas como igualdade racial, equidade e diversidade de gênero, raça e padrões estéticos, o que julgo necessário, principalmente quando feito a mãos arteiras de excelência.
O tema é pertinente, mesmo depois de 36 anos do filme lançado. Não sendo suficiente, o filme voltou em 2007, com o grande ator John Travolta.
Já no teatro, a produção original da Broadway estreou em 15 de agosto de 2002. Em 2003 ele ganhou oito prêmios Tony, incluindo o de Melhor Musical, das treze indicações. Aqui no Brasil a versão brasileira do musical foi dirigida por Miguel Falabella e estrelado por Edson Celulari, Arlete Salles, Danielle Winits, Jonatas Faro, Renata Brás e Simone Gutierrez, e agora volta com vigor!
E voltou tudo muito colorido, um espetáculo gostoso e simpático de ser assistido, posso afirmar que leve, mesmo diante de uma montagem de três horas. Certamente que este espetáculo não precisa de crítica para dizer que é excelente, o público já o diz, afinal o teatro Riachuelo, localizado no centro do Rio de Janeiro, estava lotado, e afirmo que não poderia ser diferente. Isso sem contar que eu assistia a primeira sessão, as das quinze horas. Claro que a do horário nobre já estava lotada!
Tiago Abravanel, que vive Edna Turnblad, mãe da personagem principal, o elenco reúne os atores Aline Cunha, como Motormouth Maybelle; Emmy Oliveira, interpretando a Pequena Inez; Giovana Zotti, como Prudy Pingleton; Ivan Parente, no papel de Corny Collins; Liane Maya, como Velma Von Tussle; Lindsay Paulino, como Wilbur Turnblad; Pâmela Rossini, como Penny Pingleton; Rodrigo Garcia, como Link Larkin; Thales Cesar, como Seaweed Stubbs; Vânia Canto, como Tracy Turnblad e Verônica Goeldi, como Amber Von Tussle.
Não posso deixar de falar sobre o Tiago Abravanel, que me surpreendeu. Sabemos que há no meio artístico muita vaidade, mas Tiago, parece seguir na contramão, ao menos parece. Visivelmente ele apresenta seu personagem com simplicidade, sem querer mostrar mais do que é preciso, extremamente gentil com seus colegas de palco, e bate uma bola linda com seu partner Lindsay Paulino, eles são os pais da protagonista Tracy. Ambos são maravilhosos juntos, Lindsay é irresistível a plateia, nos faz rir todo tempo. E essa gentileza do Abravanel, dá espaço para que o colega brilhe com a intensidade que o espetáculo necessita.
Vânia Canto, a protagonista se apresenta sem arranhões, tecnicamente perfeita, com belíssima voz.
Ivan Parente é o apresentador Corny Collins, o ator da vida ao seu personagem com graça, ponderado, mas, ao mesmo tempo, apresenta uma sagacidade ímpar.
Já as antagonistas, mãe e filha da família Tussle, são fantásticas. Verônica Goeldi, além de extremamente irritante em sua personagem, soube trazer uma voz que fica muitíssimo bem na insuportável personagem. Maravilhosa! Enquanto a filha perturbava a vida da protagonista, a mãe conseguia ser tão ruim quanto, Liane Maya, esteve no musical Tarsila, faz pouco tempo, a atriz se destaca na atuação, embora sofisticada em cumprir seu papel, conseguiu ser bem pior do que eu podia imaginar, que personagem cruel, risos.
Aline Cunha mais uma vez deixa a plateia em êxtase ao cantar, palmas em cena, aplaudida de pé durante o espetáculo, também, a atriz parece ter engolido a flauta do flautista de Hamelin, nos seduzindo, sem contar a expressão facial da atriz, um verdadeiro gozo teatral.
Agora não posso deixar de falar sobre o casal que me tomou, ao menos roubou meus olhares, quando estavam em cena. Tive a sensação que tudo sumia ao redor deles. Que trabalho mais cuidadoso da Pamela Rossini, do começo ao fim, ela me deixou boquiaberta com seu corpo, sua personagem desengonçada e muito delicada, uma flor que desabrochava a minha frente. A voz da atriz, tudo, é absolutamente carregado de sofisticação cênica, perfeita.
Já Tales Cesar me levou ao céu. Tia Patricia não dá mais conta. Ao chegar em casa perguntei ao colega que também é critico teatral Gilberto Bartholo, perguntei se ele conhecia o artista, e ele respondeu que era um dos melhores artistas que ele conhecia, que protagonizava o Rei Leão. Fato que Tales pode protagonizar tudo. Ele tem fogo nos olhos, no corpo, algo incontido que parece nos fazer vibrar. Uma voz quente, tudo no ator parece fazer parte de um centro, uma bomba atômica, o centro da terra, sei lá.
Tales é sexy, é artista mesmo, daqueles que acorda qualquer espectador ressonando em sua poltrona, é mais do que eu merecia assistir, uma maravilha do teatro que tive a honra de conhecer. O corpo do ator movimenta com beleza infindável, que prazer ele me trouxe.
Ah! As três Diamantes são interpretadas por Thais Ribeiro, Larissa Noel e Carol Roberto. São três pérolas negras que cantam absurdamente bem, são excelentes através dos seus coros e movimentos, de verdade? São inesquecíveis!
Aliás, Feliciano Sanroman trouxe para o espetáculo muita verdade do tempo através das perucas, deixou tudo mais expressivo e o vintage que ele entrega é prodigioso. Um visagismo completo, que coroa a obra com mais beleza ainda.
Com um tema que é preciso ser tocado, “Hairspray” chegou, para nossa sorte, para tentar mostrar que o mundo precisa mudar, afinal nada melhor que a arte para nos educar.
A equipe criativa seguiu com certa devoção ao tempo. Parabéns aos profissionais envolvidos e também aos artistas que dão um show!
Hairspray é um musical que se passa na década de 1960 em Baltimore, Estados Unidos, e segue a história de Tracy Turnblad, uma jovem otimista e cheia de energia que sonha em dançar no programa de TV local “The Corny Collins Show”.
Fora dos tradicionais padrões de beleza, Tracy enfrenta muitos preconceitos, mas ao ganhar um lugar no show e virar uma celebridade instantânea, se junta a seus amigos para lutar contra a segregação racial e promover a inclusão de todos na cidade: brancos, pretos, gordos, magros…
Ficha Técnica
- Diretores e idealizadores | Antonia Prado, Tiago Abravanel e Tinno Zani
- Diretor Musical e idealizador | Rafael Villar
- Diretora Musical Associada | Claudia Elizeu
- Direção de Casting | Danny Cury
- Diretora Assistente | Thais Uessugui
- Diretor Coreográfico | Tiago Dias
- Versionista | Victor Muhlethaler
- Cenógrafo | Rogério Falcão
- Figurinos | Bruno Oliveira
- Designer de Som | Paulo Altafim
- Designer de Luz | Wagner Antônio
- Stage Manager | João Sá
- Diretora de Produção Executiva | Bia Izar
- Diretora de Produção Administrativa | Ligia Abravanel
SERVIÇO
HAIRSPRAY
Onde: Teatro Riachuelo
Quando: 25 de Julho a 18 de Agosto
Sessões:
Quinta e sexta- 20:00
Sábado 16:00 e 20:00
Domingo 15:00 e 19:00
Ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/91594/d/243217
DURAÇÃO: 180 minutos (com intervalo de 15 minutos)
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos
Obs.: As datas e horários podem sofrer alterações sem aviso, sendo importante acompanhar pelo site.