“Ali, o meu corpo é a minha casa, onde eu me abrigo”, afirma a artista sobre sua obra na exposição gratuita Uma Casa Toda Sua
Mariana Maia traz sua vivência enquanto mulher negra para a exposição “Uma Casa Toda Sua“, na Casa Museu Eva Klabin. A artista apresenta o trabalho “Ofertar as Águas”, composto por um vídeo performance e uma instalação artística, que poderão ser visitados de quarta-feira a domingo, das 14h às 18h, com entrada gratuita, até o dia 23 de junho. O trabalho é composto de 101 lenços, em que cada um apresenta um símbolo relacionado a ancestralidade – adinkra (povo Ashanti), símbolos de orixás (povo Iorubá), símbolos de Bastet (Antiguidade Egípcia).
No vídeo performance, a artista passa os lenços no corpo como quem toma um ebó (ritual de limpeza espiritual nas religiões de matriz africana); ou ainda como quem se lambe, assim como uma gata, fazendo referência a Bastet. Propõe, também, que a ação seja um gesto de cuidado com o corpo.
“O trabalho pensa na ideia de casa como o próprio corpo. Ali, o meu corpo é a minha casa, onde eu me abrigo, onde eu me cuido. A obra tem uma conexão com o ritual chamado ebó, em que a pessoa recebe o axé de outra, através de uma série de elementos da natureza que ela passa sobre o corpo. Um desses elementos é o morim, tipo de tecido que está em toda a instalação. Na performance, eu faço ebó em mim mesma, eu passo o tecido no meu próprio corpo. A ideia é que ao visitar a instalação, as pessoas estejam trocando essa energia vital comigo, de acordo com a forma em que elas vivenciam o trabalho no ambiente do banheiro”, diz Mariana Maia.
A artista explica ainda que os lenços representam a água que vem do corpo, sejam suores ou lágrimas. No fechamento da exposição, os lenços serão distribuídos para o público em uma performance, ofertando as águas para todos. No banheiro, ainda estão dois lenços com pinturas de figuras femininas em cada. “Uma delas é Oxum, a deusa do amor, da maternidade, do cuidado e da beleza. E a outra é um gato, fazendo uma referência a Bastet, que é a deusa gata egípcia, que tem uma proximidade com a deusa Oxum, já que as referências de Bastet também são a beleza e o cuidado. Então o trabalho traz imagens que fazem referência às religiões de matriz africana, ao candomblé, ao Egito e à escrita adinkra, uma escrita africana, em que cada símbolo remete a um ensinamento ancestral”, complementa Mariana.
Frames do vídeo com imagens de Oxum e Bastet (Crédito: Mariana Maia)
“Uma Casa Toda Sua” foi baseada na obra “Um Teto Todo Seu”, de Virginia Woolf. A curadora Isabel Portella une Eva Klabin e Virginia Woolf num mesmo pensamento, convidando catorze artistas mulheres com discursos e poéticas bastante diversas para trazer propostas instigantes e interferências no espaço.
“O que proponho é uma exposição só com artistas mulheres independentes. Mães solo, mulheres negras, lésbicas, trans, periféricas, deficientes, idosas e mulheres livres que fazem seus trabalhos com garra e força, independentes de críticas e do mundo fálico dos curadores homens que habitam o nosso cenário artístico atual”, afirma a curadora Isabel Portella.
No campo acadêmico, Mariana Maia pesquisa sobre arte afro-brasileira e a relação entre negritude, objetos e corpos femininos. Nascida na Zona Oeste carioca, Mariana atua como professora de artes na rede pública do Rio e também, como Curadora Independente, Produtora Cultural e Artista Educadora do MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira.
SERVIÇO:
“Ofertar as Águas” na Exposição “Uma Casa Toda Sua”, na Casa Museu Eva Klabin
- Dia: Até o dia 23/06
- Visitação: Quarta a domingo , 14h às 18h
- Local: Casa Museu Eva Klabin (Av. Epitácio Pessoa, 2480 – Lagoa)
- Entrada gratuita
- Classificação livre