O Pequeno Príncipe de ontem e de sempre

Foto: Elenize Dezgeniski

 

No dia dois de novembro fui assistir ao espetáculo “O Pequeno Príncipe” e me assustei com o que vi. Mesmo sendo feriado e com artistas de outro estado, o Teatro 1 do Sesc Tijuca estava lotado. Entendi a força desse clássico infantil nesse dia. Eu não esperava ver uma plateia lotada de crianças, mas foi justamente o contrário, me fazendo entender que o escritor, ilustrador e piloto francês Antoine de Saint-Exupéry sempre será uma referência para a humanidade, algo de pai para filho, isso é um fato.

Sinopse

Inspirada no livro homônimo do francês Antoine de Saint-Exupéry, a peça acompanha história do principezinho e do aviador em meio ao deserto, com uma novidade: assim como todos os espetáculos do grupo, “O Pequeno
Príncipe” é encenado em Libras e português ao mesmo tempo. Assim, é possível aproximar as crianças surdas da obra e, ao mesmo tempo, mostrar às crianças ouvintes seus primeiros sinais em Libras.

 

Essa semana festejei meu primeiro artigo sobre teatro e literatura infantil na vigésima Revista Inarti (O Instituto de Artes Integradas de Blumenau), falo sobre a inclusão também.

Além da inclusão dos espectadores, quando abrimos essa porta — a porta da consciência —, também estamos proporcionando oportunidades de trabalho para artistas com deficiência, o que é essencial.

https://inarti.org.br/wp-content/uploads/2024/10/panacea-2024-site.pdf

Quando se acendem as luzes no palco, A cenografia, assinada por Katia Horn, chama nossa atenção, a palheta de cores foi muitíssimo bem escolhida e conversa bem com o desenho de luz do Lucas Amado. O tom do cenário é elegante, e trazer uma parte de um avião para o palco requer muito trabalho, principalmente quando a cia não é do Rio de Janeiro, foi preciso vontade de fazer acontecer e aconteceu com a graça necessária.

Foto: Elenize Dezgeniski

A dramaturgia bem cerzida trouxe muitos personagens, entre eles, a serpente, a flor, a raposa e todos os outros. No entanto, é inegável que a serpente e a raposa me deixaram boquiaberta, adoro a ludicidade e por isso fui seduzida por eles, fui ao chão e continuo até agora. São muito bem construídos artisticamente, além de figurinos que posso dizer serem certos para os espectadores ou público alvo defendido no projeto.

As cores vivas e os materiais utilizados para os figurinos causam impactos em todos os personagens. Inclusive, quando me sentei logo depois, um espectador (pensei eu) sentou-se ao meu lado e logo me perguntei: aponde estava essa pessoa para estar trajado com um casaco quente desse em um dia de sol no caldeirão da Tijuca? Mas ao apagar a luz ele conversa com o ator no palco (adoro essas surpresas), ele era um dos artistas que faz parte do elenco. Isso é teatro, isso é um figurino, algo artístico, que rompe com o coloquial! Bravíssimo Ricardo Garanhani!

E por que esses personagens me chamaram atenção?

Pedro Ramires, com seu cabelo black e seu corpo que favorece boas cenas, me levou às alturas. Todos os personagens trazidos por esse artista na montagem são diferenciados, exigiram do artista cênico movimentos precisos e, acima de tudo, o carisma que ele traz ao palco nos faz perceber o quanto o artista tem talento e é feito para a arte cênica, que maravilha, ele nos permite sentir prazer em estar sentado em uma poltrona de teatro. Não o conhecia e agora não o esqueço.

Aliás, Pedro parece ter entendido a diretora de movimento Katia Drumond, pois ele quando entra na personagem da raposa, nos deixam ensandecidos, com música e movimentos divertidíssimos.

Enquanto Igor Augustho encena com uma certa ponderação, Catharine Moreira expressa muita emoção e simpatia, nela pousa carisma. Ela encarna o protagonista, se entregando ao papel com devoção e esforço.

Quanto ao diretor Nautilio Portela, fica clarividente os espaços bem tomados no palco e ensaios, pois os fazedores de teatro não titubearam textos e param em cena bem enquadrados na marcação de luz executada. Porém, tem um ponto que me permito falar. Em alguns momentos, os personagens do Pequeno Príncipe e do aviador utilizam Libras em suas performances, e seguem sem a narrativa/interpretação, o que me causou um certo desconforto. Eu queria saber o que eles diziam, foram performances de 20 a 90 segundos, que eu não entendia.  Adoraria embarcar, mas adianto que gosto de bússolas, para chegar ao meu destino, no caso, o entendimento.

 

Foto: Elenize Dezgeniski

Na minha época a Língua Brasileira de Sinais (Libras) não era obrigatória nas escolas, hoje é uma língua de comunicação que deve ser oferecida nas escolas públicas, de acordo com a Lei 14.191 de 2021, no entanto, a Comissão de Educação rejeitou o projeto de lei que inclui o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como disciplina obrigatória no currículo do ensino fundamental. Existem especialistas que incentivam a inserção dos sinais já na alfabetização através da memorização pode ocorrer diante de um professor capacitado mostrando figuras e os sinais, trazendo a memorização a Libras, o que concordo muito. Mas ainda estamos lutando por isso…

Vale mencionar que o clássico ainda não é conhecido por todos e que Libras não é mímica, segundo a profissional Thamires Ferreira, que sempre acompanho e trabalho em meus projetos.

 

Sobre a Cia. Fluctissonante

A Cia. Fluctissonante é um coletivo de Curitiba, formado por artistas surdos e ouvintes que se dedicam à criação cênica contemporânea e bilíngue (Libras e Português). Seus projetos unem os públicos surdo e ouvinte nas plateias.

 

Ficha Técnica

  • Texto e Direção: Nautilio Portela
  • Elenco: Catharine Moreira, Igor Augustho e Lucas dos Santos (em revezamento com
  • Pedro Ramires ou Helena de Jorge Portela)
  • Vozes em Off: Clarice Rocha, Diego Marchioro, Juscelino Antunes, Katia Horn, Marcel
    Malê e Simon Magalhães
  • Direção de Movimento: Katia Drumond
  • Direção de Produção: Igor Augustho
  • Produção Executiva: Rebeca Forbeck
  • Assistente de Produção: Luciano França
  • Tradução para Libras (Dramaturgia): Talita Grünhagen
  • Supervisão de Libras: Catharine Moreira
  • Cenografia: Katia Horn
  • Figurinos: Ricardo Garanhani
  • Trilha Original e Operação de Som: Chico Paes
  • Iluminação: Lucas Amado
  • Operação de Luz: Nicolas Caus
  • Cenotécnica (Confecção e Coordenação): Fabiano Hoffmann
  • Cenotécnica (Montagem RJ): Uirá Clemente e Altair Oliveira
  • Motorista (Interestadual): Joacir Furtado
  • Motorista (Local RJ): Thiago de Souza
  • Operacionalização Logística: LWTUR Viagens e Turismo – Juliani Carla Ribeiro
  • Costura: Rose Matias
  • Técnico de Luz (Montagem): Boy Jorge
  • Produção Local (RJ): Dos Voos – Mariana Pimentel e Priscila Maia
  • Identidade Visual e Design Gráfico: Pablito Kucarz
  • Gestão em Redes Sociais: Platea Comunicação e Arte – Thays Cristine
  • Criação em Vídeos: Gabriela Bebert
  • Registros Fotográficos (Divulgação): Elenize Dezgeniski e Mateus Troppo
  • Registros Fotográficos (RJ): Carol Pires
  • Assessoria de Imprensa: Racca Comunicação – Rachel Almeida e Paula Catunda
  • Criação e Realização: Cia. Fluctissonante
  • Produção e Realização: Pomeiro Gestão Cultural

 

SERVIÇO

O PEQUENO PRÍNCIPE

Temporada: de 02 de novembro a 08 de dezembro de 2024
Sesc Tijuca | Teatro I: Rua Barão de Mesquita, 539, Rio de Janeiro – RJ
Telefone: (21) 4020-2101
Dias e horários: sábados e domingos, às 16h
Ingressos: R$ 10 (inteira), R$ 5 (meia-entrada) e R$ 2 (associado do Sesc) e gratuito
(PCG)
Duração: 50 minutos
Lotação: 228 lugares
Classificação: livre
Venda de ingressos: na bilheteria. Horário de funcionamento: terça a sexta, das 7h às
19h30; domingos, das 9h às 18h.

 

Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

 

Facebook: @PortalAtuando

 

 

 

 

 

 

 

Author

Dramaturga, com textos contemplados em editais do governo do estado do Rio de Janeiro, Teatro Prudential e literatura no Sesi Firjan/RJ. Autora do texto Maria Bonita e a Peleja com o Sol apresentado na Funarj e Luz e Fogo, no edital da prefeitura para o projeto Paixão de Ler. Contemplada no edital de literatura Sesi Fiesp/Avenida Paulista, onde conta a História de Maria Felipa par Crianças em 2024. Curadora e idealizadora da Exposição Radio Negro em 2022 no MIS - Museu de Imagem e Som, duas passagens pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com montagem teatral e de dança. Contemplada com o projeto "A Menina Dança" para o público infantil para o SESC e Funarte (Retomada Cultural/2024). Formadora de plateia e incentivadora cultural da cidade.

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