O IRLANDÊS: Martin Scorsese de volta ao mundo da máfia

Após o seu “Os Bons Companheiros”, Martin Scorsese (que dispensa qualquer tipo de apresentação) volta a trabalhar com o gênero de gangster e máfia em “O IRLANDÊS“, e mesmo a história sendo bem fantástica, em boa parte foi baseada em fatos verídicos. Com a brilhante condução do diretor, que soube muito bem contar essa historia, o filme faz com que o queiramos saber ainda mais sobre esses acontecimentos que parecem inacreditáveis, mesmo sabendo que são reais.

Assim como em seus outros filmes do gênero, é muito interessante o modo como Scorcese constrói o ritmo deste longa, utilizando os mesmos elementos que utiliza na parte técnica, como o uso do zoom in e da narração off do protagonista, que conta sua própria história. Este recurso é bem utilizado pelo diretor em contextualizar alguns pensamentos ou atos dos personagens. Logo no início, o filme já começa utilizando esse recurso e pouco tempo depois é apresentado ao publico Frank Sheeran (Robert De Niro), o protagonista e narrador do filme, sem a narração interagir diretamente junto com o personagem em tela, mas do nada, o próprio Frank quebra a quarta parede ao começar a narrar olhando direto para o público, o que não é necessariamente ruim, mas devido ao jeito que essa transição foi feita, ficou um pouco fora do eixo.

O Irlandês. Foto: Divulgação.

O filme segue bem o estilo do Scorsese, notando-se toda a sua dedicação em contar essa história, e mesmo sendo bem parecido com o seus trabalhos mais antigos, consegue criar um estilo que faz este filme se diferenciar de outras obras desse mesmo gênero, pois mesmo sendo um filme sobre um grupo de gangsteres agindo por baixo dos panos, o tema principal da trama é mostrar as consequências das escolhas que o protagonista toma ao longo de sua vida, entrando cada vez mais no submundo do crime. Mesmo essa temática sendo cuidadosamente construída, o diretor a coloca em segundo plano, dando espaço para os atos criminosos que chamam mais atenção no longa, mas sem esquecer o real motivo do porquê o diretor está contando essa história, sabendo quando ele deve deixar o arco da máfia de lado e finalmente focar por completo nas contas que Frank tem que pagar pelo que ele fez, mostrando tudo o que ele conquistou, todo o prestigio e reputação perto de gente poderosa, e ao mesmo tempo, pagando um alto preço, mostrando como aos poucos vai perdendo outras coisa que também tem grande importância para ele, como é o caso do relacionamento de Frank com sua filha Peggy (na versão adulta é interpretada por Anna Paquin), personagem que representa o motivo pelo qual Frank está fazendo tudo isso. Mesmo fazendo tudo pelo bem de sua família, cada vez mais dando grandes passos em suas conquistas, aos poucos vai se afastando de seus reais motivos e princípios, até que comete um ato com que faz ele se desviar por completo da razão de ter entrado nisso tudo, e Peggy, mesmo tendo pouca participação no filme, é uma personagem de extrema relevância que ilustra exatamente este afastamento de Frank em relação às suas motivações.

Para não deixar um clima totalmente tenso, o diretor trabalha bem o humor negro sobre as atitudes mafiosas, ao fazer os personagens criar uma situação cômica sem criar essa situação de forma proposital, permanecendo a seriedade e o clima tenso dentro do filme, entre os personagens, mas deixando a mesma situação em questão cômica para o espectador que assiste. Quando o diretor trabalha esse mesmo humor de forma diegética na narrativa, também funciona, já que o roteiro apresenta antes um elemento que logo em seguida será novamente abordado de uma forma mais engraçada.

O Irlandês. Foto: Divulgação.

Além da ótima direção, a montagem também é excepcional, mostrando diversos acontecimentos ocorridos em momentos tensos, o que faz com que alguns personagens temem por suas próprias vidas ao interagir com algum objeto, colocando rapidamente em tela a imagem que vem a cabeça deles, ao revelar seus pensamentos sobre a atual situação que conecta diretamente com os fatos ocorridos anteriormente.

O roteiro divide a trama em três linhas temporais, cada uma abordando uma fase da vida de Frank, entre elas a dele entrando nesse mundo, depois a que o mostra contribuindo com a organização a qual faz parte ao se aliar com Jimmy Hoffa (Al Pacino) e, por fim, a fase em que recolhendo os frutos que plantou e das consequências que causa para si mesmo.

O trabalho de maquiagem é impressionante, tanto a que rejuvenesce os atores em alguns anos e que é bem realista, como a maquiagem de envelhecimento, da mesma forma incrível e rica em detalhes.

A atuação de Robert De Niro é um dos pontos fortes do filme, onde é mostrado todo o processo que seu personagem, Frank, faz para melhorar de vida, e que mesmo tendo um certo recluso no inicio, aos poucos vai ganhando gosto pela sua nova profissão, mesmo sabendo que terá que tomar ou executar algumas escolhas difíceis pelo seu próprio bem.

O Irlandês. Foto: Divulgação.

Mesmo o personagem de De Niro tendo mais destaque, Al Pacino que acaba se destacando com uma atuação monstruosa (no bom sentido), interpretando Jimmy Hoffa com bastante entusiasmo e determinação, ao mostrá-lo como um homem sempre exaltado, sempre gritando na maioria das vezes, mostrando como ele preza o que faz, acreditando firmemente em seu modo de pensar e agir ao ajudar a comunidade de caminhoneiros. E o roteiro deixa claro seus princípios, os insinuando no inicio, mas os colocando em prática mais para frente, mesmo ele tendo um excelente desempenho. O que nos consegue chamar mais atenção é a dinâmica entre os personagens de Pacino e De Niro, pois possuem uma química bem natural e cativante, Mesmo que o diretor tenha algum mérito nisso, a amizade de longa data entre esses dois atores ajudou bastante a deixá-la ainda bem convincente e autêntica.

Apesar da duração de 3h30, “O Irlandês” é uma grande obra moderna que mostra as más decisões de um homem e os altos preços que paga para si mesmo, contada em uma ótima história de mafiosos, o que faz essa duração passar despercebida, dando a sensação que o filme durou bem menos.

O filme entra para o catalogo da Netflix a partir do dia 27 de novembro.

 

BRUNO MARTUCI

 

 

 

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Colaborador de Teatro Musical e CINEMA & SÉRIES dos sites ARTECULT.com, The Geeks, Bagulhos Sinistros, entre outros.

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