Mitologias pelo mundo, além da grega: a história de todos nós – parte III: Conheça as mitologias Tupi Guarani e Iorubá ou Nagô

Mitologias pelo mundo, além da grega: a história de todos nós – parte III

                                                                                        Plantou amor e não floresceu? É porque a terra não era fértil…
Não desperdice mais sementes, plante em novos campos.
Chaya Pinkhasivna Lispector, a Clarice Lispector (1920-1977), escritora ucraniana-brasileira

Na primeira e na segunda parte deste que será um longo artigo, é bom lembrarmos novamente, conversamos um tanto sobre o objeto de minha pesquisa, as mitologias pelo mundo. Para recordar, também, meu objetivo foi o de deleitar-me com as deliciosas histórias dos mais diferentes povos na busca por conhecerem-se e conhecerem o mundo que os cercava, através de mitos explicativos e, claro, dividir esse meu deleite com você, querida leitora, prezado leitor.

Isto posto, nesta terceira parte, conheceremos um pouco sobre parte da mitologia dos povos originários brasileiros, que têm um profundo amor pelo que chamam de “Mãe Terra” e dela extraem sua força vital. Também temos as nossas mitologias e um belo e rico panteão para chamar de nosso! Juro! Plantemos, nós também, novas sementes – ave, Clarice!, para que novos campos (brasileiros) de vida nasçam e floresçam.

 

Mitologia Tupi Guarani

Mito da criação

No início, o que existia era uma forma de energia pura chamada Tupã ou Iamandú ou Nhanderu ou Nhanderuvuçú, o “Espírito do Trovão” (como o Zeus grego e Thor, nórdico e celta), que foi o criador de tudo o que existe no Universo. Conta uma versão que, com a ajuda de Jaci ou Araci, a Deusa Lua, Tupã criou a Terra, a ela desceu, com sua esposa, e no monte Aregúa (localizado onde, hoje, é o Paraguai), executaram o ato da criação da vida. Tupã, no princípio, criou Guaracy, o Deus Sol, e Coaracy, a Deusa Solar ou Mãe do dia. Para proteger a vida aquática, dos rios e lagos, Tupã criou Iara, a Senhora das Águas (Iara foi uma guerreira que foi elevada à categoria de protetora das águas e da vida que nelas existem, por Tupã, após ela ter se afogado, em um combate no encontro dos Rios Negro e Solimões ou Amazonas). Para proteger a vida na floresta, Tupã criou o Caaporã (do tupi-guarani “caa = boca” e “porá = mata”; ou seja, a divindade “boca da mata”) ou Caipora ou Curupira. Tupã ensinou para os homens a agricultura, o artesanato, a caça e a coleta, além de ter ensinado aos pajés o conhecimento sobre plantas medicinais e rituais mágicos de cura e de comunicação com as divindades.

Em outra versão, contudo, o Curupira seria, não uma divindade masculina, mas feminina, neste caso, também chamada de Ceuci, que seria a protetora das moradias indígenas e das lavouras; os colonizadores, na versão feminina, a compararam à Virgem Maria. Na história contada à época, Ceuci deu à luz um filho, chamado Jurupari, que era o espírito guia e guardião das pessoas (algo como o “anjo da guarda” dos católicos), de modo também milagroso, nascendo do fruto da Cucura-purumã, árvore que representa, nesta mitologia Tupi, o bem e mal, concomitantemente (no que guarda certa semelhança com as ninfas gregas ou mesmo com o nascimento de Afrodite ou Vênus de uma concha, no sentido de ser um ente divino emerso diretamente da Natureza). No judaísmo-catolicismo, a “Árvore da Vida” representava a vitalidade e a força e compunha, no Éden, uma dupla sagrada com a “Árvore do Saber”, de onde Eva teria saboreado, com Adão, o “fruto do pecado”.

O primeiro homem foi chamado, por Tupã, de Tupave ou Rupave ou Poronominare e a partir de uma estátua de barro/argila, criou, igualmente, a primeira mulher, Sypave ou Amaú. A vida foi criada, em Tupave e Sypave, a partir de um sopro de Tupã (história que se repete em vários povos, como na mitologia Cristã, na Hindu, na Maia…), e tanto os espíritos bons quanto os maus foram criados. Curiosidade: espírito ou alma, em Tupi-Guarani chama-se “Anhang” ou “Añã”; a palavra “gwea” significa “velho” e “Anhanguera”, que quer dizer “alma velha”, é um monumento na cidade de São Paulo que homenageia os Bandeirantes do período colonial – pessoas que, partindo de lá, iam em busca de indígenas, para aprisionar e escravizar, e de metais preciosos. Tupã, a partir do sopro divino, antes referido, criou, então, as duas primeiras almas, que muitos povos originais, que rezam para Tupã, classificam como sendo uma positiva (seria o homem) e uma negativa (seria a mulher) e deste choque (podemos pensar, mal comparando, no choque primordial, no que seria o início da criação, entre matéria e antimatéria) surgiu a “anhandeci”, ou seja, a matéria. Seguindo com o panteão Tupi-Guarani, o nome da Deusa da Morte era Katxuréu. A História de Tupave e Sypave, de opostos iniciais, é similar a outras, como da bíblia católica e dos livros Hindus.

O casal original, Tupave e Sypave teve vários filhos. O primogênito chamou-se Tumé Arandú, que era considerado sábio e foi tido como o primeiro grande profeta do povo Tupi-Guarani. O segundo filho, Marangatu, foi um líder generoso e benevolente para com seu povo, mas sua descendência, a filha Kerana, deu à luz sete monstros. O terceiro filho, Japeusá, ao contrário dos outros dois meninos aqui menionados, foi, desde a infância, trapeceiro, mentiroso e ladrão. Na mitologia, Japeusá acabou se matando, mas teria ressuscitado como caranguejo e, desde então, todos os caranguejos teriam passado, segundo o mito, a andar de lado ou para trás, amaldiçoados por conta de Japeusá. Dentre as filhas do casal inicial, destacava-se, neste panteão, Porâsý, que sacrificou a própria vida para livrar o mundo de um dos monstros lendários acima mencionados, o que fez o mal no diminuir.

Os sete monstros antes mencionados nasceram de Kerana filha de Marangatu, raptada por Tau ou Anhangá, que seria a primeira grande encarnação do mal, inimigo de Tupã, para ser sua esposa (lembrando a história da mitologia grega em que Hades, senhor do Submundo, raptou Perséfone, filha de Deméter), embora, em versão alternativa, Tau teria sido desafiado por Angatupry, que era considerado como “Espírito do Bem” e, mesmo depois de ter pedido a batalha de 7 dias que teriam travado, no 8º dia, teria conseguido fugit com Kerana.

Esses monstros, amaldiçoados que foram pela Deusa Arsay, se chamavam: Teju Jagua (espírito das cavernas e das frutas); Mboi T´ui (espírito dos cursos d´água e das criaturas aquáticas); Moñai (espírito dos campos abertos; foi este o que Porâsý derrotou); Yacy Yateré (espírito da sesta e, por isso, nem chega, em algumas versões, a ser considerado como monstro); Kurupi (espírito da sexualidade e da fertilidade); Ao Ao (espírito das montanhas) e Luison (espírito da morte). Angatupri era o nome do espírito do bem. Amiga de Anhangá, Sumé era a Deusa da Ira e, envolta em um manto negro de cipó de chumbo, vagava pela Terra espalhando a discórdia e o ódio; era uma deusa guerreira e aparece, em algumas versões, como filha de Tupã e Jaci.

Nesta fase do mundo, segundo o mito, era sempre dia; os homens caçavam, pescavam, plantavam e guerreavam e as mulheres criavam os filhos, limpavam, teciam e cozinhavam, sem descansar. Um dia, Tupã saiu para caçar e um homem, excessivamente curioso, conseguindo acesso ao Sol e querendo saber como ele funcionava, tocou-lhe a superfície, desequilibrando-o e fazendo-o partir-se em pedaços. Até que Tupã pudesse reconstruí-lo, tudo ficou escuro: foi o início da noite. Desgostoso com a atitude, Tupã transformou este homem em um animal com as mãos douradas, hoje conhecido entre nós como o “mico mão de ouro”. Tupã reconstruiu o Sol, mas a partir deste dia, não conseguindo mais ficar de pé e parado o tempo todo, o Sol passou a ir de Leste à Oeste. Para dar alguma iluminação às noites, e para fazer-lhe companhia, nesta versão (já que, em uma versão, Jaci criou o mundo com o marido) Tupã criou a Lua (Jaci) e as estrelas.

Jaci ou Araci ou CY, tida como a Deusa Lua e guardiã da noite, era a protetora dos amantes e da fertilidade, além de despertar a saudade no coração dos guerreiros e dos caçadores, para que se sentissem compelidos a retornar para a aldeia e para suas famílias. Foi também Jaci a trazer a beleza para o mundo (ao estilo de Apolo e Afrodite, na mitologia grega), além de ser, igualmente, a Deusa da Fertilidade e dos Ventres Grávidos.

Guaracy, outro deus importante do panteão Tupi-Guarani, quer dizer “vermelho”; era, como visto antes, como o Deus Sol; em algumas versões era casado com aquela que seria sua irmã, Jaci (embora, na maior parte das vezes, Jaci apareça como esposa de Tupã e, neste caso, Guaracy seria filho de Tupã e não sua criação). Quando aparece como marido e amante, a história conta que o amor deles seria impossível, por Guaracy ser, óbvio, muito quente. Assim, teriam combinado dele aparecer de dia e ela de noite, encontrando-se ao amanhecer e ao entardecer. Guaracy era, igualmente, o protetor dos guerreiros e dos caçadores.

Anhangá, inimigo de Tupã, era o Deus do Inferno (lembrando outras desavenças entre deuses, como Zeus ou Júpiter x Hades ou Plutão ou como o Deus ou Jeová e Lucifer). Era um espírito andarilho e que tomava a forma do animal que desejasse, sendo, por esta razão e nesta versão, protetor da fauna, bem como, junto com Guaracy, dos caçadores, porém, associado ao mal e não ao bem. Se ele aparecesse para alguém, seria mau agouro.

Sumé, era o responsável pelas regras de convivência e pelas leis das tribos, além de ter ensinado, aos homens, o preparo de alimentos, como o cozimento (não lembra, um tantinho, o mito grego de “Prometeu”?). Em face de desobediências seguidas da humanidade, a vários ditames de Tupã e de outros deuses, Sumé partiu da Terra, caminhando sobre os oceanos, prometendo retornar um dia.

Akuanduba, deus importante na área do Xingú, no Pará; ele tocava uma flauta mágica para levar ordem ao mundo (na mitologia alemã, o Flautista de Hamelin salvou sua aldeia de uma infestação de ratos ao tocar uma flauta tida como mágica, e com isso, atraiu os roedores para longe das pessoas; como não foi pago, o flautista se vingou levando para longe, as crianças locais, do mesmo modo, ou seja, usando sua flauta mágica, mas as conduziu de volta porque um nobre e senhor feudal da região efetuou o pagamento, por pressão dos aldeões que queriam seus filhos de volta). Tal como Sumé, pela desobediência dos homens, irritou-se, mas ao invés de desaparecer, jogou todos na água; os poucos sobreviventes recomeçaram a humanidade do zero (em história parecida com o Noé bíblico e com Utnapishtim dos Sumérios).

Yorixiriamori é um deus importante dos Ianomâmis (povos que habitam, até hoje, áreas de Roraima e do Amazonas), que junto com os Tupis e com os Guaranis, compõem os três maiores troncos étnico-linguísticos dos habitantes originários brasileiros. Com suas belas canções, encantava as mulheres quando elas iam à beira de um rio para se banhar ou pegar água para a família, e isso acabou causando a inveja dos homens, os quais tentaram matá-lo. Desgostoso, fugiu na forma de um pássaro e abandonou a humanidade à tristeza, acabando com os cânticos que os alegravam, similar à história do “boto cor de rosa” dos caboclos da Amazônia, ao menos em parte.

Os botos (“primos” dos golfinhos e das baleias) são cetáceos, ou seja, animais aquáticos, porém mamíferos e que necessitam do ar atmosférico para respirar. O mito do “Boto cor de Rosa”, da Amazônia dizia que ele conseguia se transformar em um homem que, por demais sedutor, normalmente depois de festas, fazia sexo com as mulheres que desejassem, solteiras ou casadas, indistintamente, e, não raro, as engravidava (tornando-se, por isso, símbolo da luxúria) e as abandonava depois, mas sua preferência eram as virgens. Em geral se vestia de branco e usava um chapéu para esconder o buraco na cabeça, típico dos cetáceos, que se mantinham, mesmo com ele transformado. Na Grécia antiga, os golfinhos eram sinal de virilidade, além de luxúria, em curioso paralelo.

Yebá Bëlo, Deusa da Criação dos índios Dessanas, do alto Rio Negro, da Amazônia. Ela, que segundo o mito morava em uma espécie de “palácio de quartzo”, ajudou Tupã e Jaci, na criação do Universo. Os seres humanos nasceram, nesta versão, a partir do “ipadu” (folha de coca), que ela mascava.

Wanadi, deus dos índios Iecuanas, povo da fronteira entre o Brasil e a Venezuela; ele fez nascer três seres para auxiliá-lo a criar o Universo (similar à história dos “quatro dragões” chineses, que também ajudaram na criação inicial). Entretanto, os dois primeiros não seguiram suas instruções à risca e fizeram surgir no mundo fenômenos como a fome, as doenças e a morte. O 3º ser, junto com Wanadi, foi quem, efetivamente, venceu os outros dois seres que se desviaram do caminho do bem e concluíram o “ato da criação”, ordenado por Tupã e Jaci.

 

Mitologia Iorubá ou Nagô

Os deuses Iorubás ou Orixás são, até onde se sabe, mais de 400, compondo esta que é uma das mais significativas, ao menos para o Brasil, matrizes religiosas de origem africana, principalmente, dos povos originários da Nigéria, do Benin e do Togo. Veio desta mitologia, a inspiração para o surgimento do Candomblé, onde não há grandes separações espirituais entre homens e animais, que acabam por compor, não raro, uma única entidade. A ancestralidade, a harmonia universal e a vida em comunidade são, também, fatores importantes no Candomblé (em Cuba, chama-se Santería). Para a mitologia Iorubá e para o Candomblé, não existe, exatamente, o mal, senão consequências ruins advindas de ações más e/ou ilícitas, o que desequilibraria o Universo, cortando a harmonia da vida.

O mito da criação Nagô

Ilê Axé é o lugar sagrado para o povo santo, criado pelo Deus Supremo Olorun ou Olodumaré; a ele não são feitas oferendas, porque todo o Universo é dele; além do Universo físico, ele criou, igualmente, e em contrapartida, o Orun (o mundo espiritual). Depois da criação, Olorun ordenou à Oxalá que criasse o homem e ele o fez a partir da madeira e do ferro, sem sucesso por serem materiais muito rígidos; tentou a pedra, que era muito fria, e depois a água, que não sustentava uma forma definida; ainda sem sucesso, tentou com o fogo, mas que se autoconsumiu. Frustrado, Oxalá se sentou à beira de um rio e Nanã, orixá das águas, mostrou a Oxalá, a lama e deste material flexível, mas resistente, ao secar, conseguiu criar o homem o qual, uma vez moldado, ganhou vida a partir do sopro de Oxalá (tal como em outras mitologias, como Tupi-Guarani, a cristã e a Hindu, dentre outras).

Oxalá é uma entidade divina andrógina, que representa as energias da criação da Natureza e personifica o céu, além de representar a paz, o amor e a limpeza espiritual.

Outros orixás importantes no panteão Iorubá

Exu é o responsável pela guarda dos templos, das casas, das cidades e das pessoas; é, além disso, o mensageiro divino e o transportador de oferendas. É tido como o mais humano dos orixás, já que compartilha conosco de sentimentos como angústia e amor; Ogum é o orixá do ferro, do fogo, da técnica/tecnologia e da guerra; Oxóssi é o orixá da caça, das florestas e da fartura; Logunedé também é o orixá da caça e da pesca; Xangô é o orixá do relâmpago, do fogo, dos raios, das rochas e da justiça e teve três esposas, Iansã (é uma guerreira que representa a força dos ventos, das tempestades e da Natureza; ela também cuida da alma dos mortos), Oxum (que é identificada à deusa grega Afrodite; representa o amor e a fertilidade; é a divindade dos rios) e Obá (representa o amor reprimido e o sacrifício por quem se ama; é a divindade, também, do barro – matéria-prima da humanidade – e dos alimentos); Xapanã ou Obaluaiyê é o orixá da cura, da saúde e das doenças, além das pragas; Ossaim é o orixá das ervas, das plantas e dos segredos curativos; Iemanjá é a orixá da maternidade e, por conseguinte, também da fertilidade, junto com Oxum; é, também, a divindade dos mares e tida como a mãe de muitos dos demais orixás; Oxumaré é o orixá dos sexos, tendo, em si, o masculino e o feminino, sendo, deste modo, dois em uma só entidade, vivendo metade do tempo como homem, metade como mulher, e transporta a água entre o céu e a terra, através do arco-íris; Egum ou Egungun é um espírito dos mais antigo e tido como representante da morte; ele retorna à vida, a partir de rituais conduzidos pelos Ojés (sacerdotes), com o uso de um instrumento invocatório, um bastão chamado Ixan e Iroko é o orixá da árvore sagrada (como as ninfas gregas, como os espíritos célticos da floresta, como a “árvore da vida” e a “árvore do saber…), conhecida no Brasil como Gameleira Branca.

Alguns outros orixás: Axabó (divindade feminina); Olokun (orixá do mar); Olossá (orixá dos lagos e lagoas); Oxalufon (divindade masculina); Oko (orixá da agricultura); Ornarian (divindade masculina); Onilé (orixá da terra), Iyami-Ajé (divindade feminina), dentre outros (são mais de 400).

No Candomblé, quem faz o Ebó, ou seja, a “comida”, literal, neste plano, mas espiritualizada, para rituais, para os orixás são as mulheres, mas que não a podem preparar no período menstrual, não por higiene, mas porque se considerar que o corpo energético delas está “aberto” neste período, sujeito a influências externas.

Na Umbanda, cultuam-se os Eguns (espíritos); este culto foi mesclado às várias divindades indígenas. Passou-se a culturar os Caboclos, os Pretos Velhos, os Exus e as Crianças, todas entidades tidas como Egrégoras, que são um conceito do ocultismo que representa a força espiritual criada a partir da soma de energias coletivas, fruto da congregação de duas ou mais pessoas e de espíritos, que podem estar em diversos níveis de discernimento, que auxiliam os trabalhos espirituais, incorporando ou não nos médiuns, enquanto trabalham nas religiões que os cultuam.

Para fechar esta terceira parte e após vermos parcela reduzida do rico panteão Iorubá, alguns esclarecimentos se fazem necessários, digo, algumas definições são importantes para dirimir umas tantas dúvidas que são muito comuns, em face, normalmente, de carência de maiores informações e, para tanto, usei, também o dicionário social do pesquisador Nei Lopes.

Candomblé – é o nome genérico com que se costuma designar o culto aos Orixás Iorubás e, por extensão, por vezes, o próprio terreiro onde são realizados os cultos e as festas; é uma religião de matriz africana e por lá tendo surgido nos cultos de negros que, nos vários séculos da expansão marítima européia, foram escravizados e enviados para as colônias de exploração. No Brasil, eles vieram, principalmente da Nigéria, do Benin e do Togo. Seus adeptos são monoteístas, crêem na imortalidade da alma e na vida após a morte, além da reencarnação. Os candomblecistas são, segundo estudiosos, como Nei Lopes, divididos em nações diferentes, como a Nagô (a maioria), a Congo, a Angola, a Jejê, a Ketu e a Ijexá; todas são do Candomblé e acreditam, no geral, basicamente, nas mesmas coisas, mas há diferenças, como alguns rituais, algumas canções e vestimentas.

Umbanda – é uma religião afro-brasileira, derivada do Candomblé, tendo princípios, dogmas e práticas bastante parecidas, mas que dele se diferenciou porque incorporou, como o Candomblé não é fez, ao menos, não na mesma medida, outras duas religiões, pelo menos: do catolicismo e do espiritismo kardecistas europeus adotou, por exemplo, os conceitos de fraternidade e de caridade e do Hinduísmo, a crença no monoteísmo, a imortalidade da alma, a vida após a morte, a reencarnação e a evolução espiritual. Em oposição à Quimbanda, alguns a ela se referem como “Umbanda linha branca”.

Quimbanda – é uma derivação da Umbanda, notadamente da etnia Banto, em que o Exus são, por vezes, utilizados em práticas, as quais, não raro, acabam sendo para males endereçados a pessoas ou a animais e, por esta razão, acabaram sendo, os Exus, classificados como demônios pelos católicos europeus colonizadores.

Macumba – é um termo pejorativo usado para desqualificar as religiões de matrizes afro-brasileiras.

Pomba Gira – vem do Quimbundo e quer dizer “cruzamento de caminhos ou encruzilhada”; é uma entidade espiritual do Candomblé e da Umbanda; considerada um Exu feminino e mensageiro entre o mundo dos vivos e dos mortos.

Exu – é um orixá do panteão Nagô tido, erroneamente, como sinônimo de demônio. Segundo o pesquisador Nei Lopes, representa a síntese de todas as forças que rebem o Universo e que possibilitam a existência de forças que se equilibraram, como positivo e negativo, dia e noite, bem e mal, frio e quente… Algo parecido com a mitologia chinesa e seu Yin – que representa o feminino, a noite e o escuro, e seu Yang – que representa o homem, o dia e a luz; ambos representante as dualidades universais para o Taoísmo – a palavra vem do Mandarin “Tao” e quer dizer o caminho; Taoísmo é a busca pela harmonia no caminho da vida. O Exu manifesta-se como uma Egrégora, como já visto.

Catimbó – ou Catimbau ou Catimbaua; muitas vezes, pejorativa, a palavra quer dizer “fumaça de mato” e “vapor de erva”; é tido como um tipo de culto de feitiçaria que combina a magia (dita) branca europeia com elementos negros, ameríndios e católicos e é chefiado por um “mestre” que defuma os assistentes com seu cachimbo e a quem se recorre para resolver problemas diversos, seja para o bem, seja para o mal.

 

 

Carlos Fernando Galvão,
Geógrafo, Doutor em Ciências Sociais e Pós Doutor em Geografia Humana
cfgalvao@terra.com.br

 

 

 

 

 

 

Bibliografia de consulta e sugerida para aprofundamento para a Mitologia Tupi-Guarani

  • LITAIFF, Aldo. Mitologia Guarani: a criação e a destruição da Terra. Florianópolis: Edufsc, 2018.
  • MENDES, Hudson & ASSUMPÇÃO, Renan. O Mito da Criação Tupi Guarani. Belo Horizonte, 2018.

 

Bibliografia de consulta e sugerida para aprofundamento para a Mitologia Iorubá

  • CAVALLARI, Alessandro. Mitologia Iorubá – tradições, orixás se sincretismo nas religiões afro-brasileiras: dos contos sagrados à resistência cultural na diáspora. Entre mitos, história e identidade. Amazon: e-book
  • LOPES, Nei. Dicionário escolar Afro-brasileiro. 2.ed. São Paulo: Selo Negro, 2014
  • PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2000

 

 

Author

Carlos Fernando Galvão é carioca, Bacharel e Licenciado em Geografia (UFF), Especialista em Gestão Escolar (UFJF), Mestre em Ciência da Informação (UFRJ/CNPq), Doutor em Ciências Sociais (UERJ) e Pós Doutor em Geografia Humana (UFF). Autor de mais de 160 artigos, entre textos científicos e jornalísticos, tendo escrito para periódicos como O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Le Monde Diplomatique Brasil, também foi colaborador do Portal Acadêmico da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) entre 2015 e 2018. Atualmente, escreve com alguma regularidade no Portal ArteCult. É autor, igualmente, de 14 livros.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *